quarta-feira, 22 de outubro de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (177)

 
Mesmo não sendo explícito, quem pensa consegue entender a quem se destina [a lei da proibição das burkas]. 

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O próprio imã da Mesquita Central de Lisboa acusou os políticos responsáveis pela aprovação desta lei de “taparem os olhos aos portugueses”, já que estão a desviar a resolução de problemas reais do país.

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Não quer dizer que eu seja a favor ou contra o uso de burcas, porque, afinal, não sei nada sobre o que é ser-se muçulmana.

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Seremos mesmo livres na nossa escolha quanto à religião, ou haverá sempre algum tipo de coerção envolvida?

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Proibir alguém de professar a sua fé de forma não violenta é tão errado como obrigar alguém a professá-la de uma forma específica.

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Se a mulher livre de expressar a sua opinião, escolhe, e repito, escolhe, usar hijab (lenço que cobre as orelhas, o cabelo e o pescoço), quem sou eu para dizer se oprime as mulheres ou não?

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Considerando que pode haver realmente mulheres obrigadas a usar sempre burca, esta lei agora aprovada ainda as vai isolar mais, pois poderão não ter liberdade para sair de casa.

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Pedia que me enviassem os dados de crimes em Portugal cometidos por pessoas a usar burca.

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Ora, tendo em conta a Islamofobia típica das forças de direita, não será mesmo isso que eles querem? [levar a que muitos muçulmanos se vejam obrigados a deixar Portugal]

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Esta lei aprovada pode, inclusive, marcar o início explícito de uma luta xenófoba sobre quem não tem a herança cultural católica.

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A forma de professar a Fé da Igreja Católica e do Islão são diferentes, embora se toquem em muitas questões.  

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A grande, enorme, diferença, é que atualmente não há um movimento político que tenha pegado na doutrina católica e a tenha deturpado ao extremo de forma a controlar as mulheres.

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A meu ver, todas as religiões têm no seu centro uma questão de controlo moral da população, a qual me faz imensa confusão.

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O problema deste país em relação aos direitos das mulheres, é mesmo a burca? Não me parece. 

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O facto de [a força política vigente] se preocupar tanto com uma fatia tão, mas tão, residual de mulheres que usam burca em Portugal, parece-me de uma moral questionável.

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Onde estão os reforços dos programas estatais que se dedicam a criar mecanismos para diminuir a violência doméstica e os femicídios? 

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Onde estão as propostas cativantes para os profissionais de saúde se dedicarem ao SNS?

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Onde estão os esforços por garantir urgências obstétricas abertas em todo o país?

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A conversa não deveria ser sobre burcas (de tão raro uso em Portugal), mas sobre os dados oficiais da violência contra mulheres em Portugal.

Clara Não, “Expresso” online

 

A taxa [de pobreza em Portugal] mantém-se teimosamente entre os 16 e os 17 por cento, sem sinais consistentes de descida.

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O risco de pobreza até aumentou em alguns segmentos da população.

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Em termos simples, os pobres de hoje estão mais longe de deixar de o ser do que estavam há uma década.

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E se retirássemos os apoios públicos, a taxa de pobreza dispararia para valores próximos dos 40%. 

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Não é aceitável que, no século XXI, uma sociedade moderna e europeia continue a conviver com tamanha desigualdade.

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[Em Portugal, os pobres] são, cada vez mais, famílias que trabalham todos os dias, que cumprem horários, pagam impostos e ainda assim não conseguem escapar à pobreza.

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São também idosos, muitos deles com carreiras contributivas completas.

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E são, ainda, famílias monoparentais, em particular mulheres sozinhas com filhos, que enfrentam o peso desigual das responsabilidades familiares e financeiras. 

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O problema pode ser ainda mais profundo do que as estatísticas revelam: o limiar da pobreza raramente reflete o esforço financeiro necessário para manter uma casa. 

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O impacto real da pobreza é certamente maior do que aquilo que os números deixam ver.

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Temos, por isso, uma pobreza que mudou de rosto, mas não perdeu força. 

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Uma pobreza que se disfarça sob o véu da normalidade quotidiana, mas que corrói silenciosamente a coesão social.

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Um país que não produz riqueza, que não valoriza o trabalho e que não investe em produtividade, inovação e qualificação, está condenado a distribuir pobreza.

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A pobreza não é uma fatalidade, é uma escolha coletiva ou, pior ainda, uma indiferença coletiva. 

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[A luta contra a pobreza] ganha-se com uma economia justa, com educação de qualidade, com salários que reflitam o valor real do trabalho e com um Estado que saiba investir no futuro, em vez de apenas remediar o presente.

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A pobreza não é apenas um problema económico, é um espelho moral.

Arnaldo Coelho, “diário as beiras”

 

O projeto do Chega [de proibição das burkas] é uma catástrofe, mas o PSD não quis saber, ambos os partidos unidos pela voragem do discurso anti-imigrantes, que acham eleitoralmente lucrativo.

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É uma catástrofe sob o ponto de vista das opções de política sancionatória e está pejado de erros de palmatória que comprometem, em alguns casos, o respeito pela Constituição.

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Esta será uma lei que, falsamente apresentada como de proteção das mulheres, pune as mulheres que ocultem o rosto no espaço público.

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É a elas que o Estado deve punir? Ou na mira deveriam estar, antes, os homens que obrigam as mulheres a vestir ou a despir o que não querem?

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Qualquer homem que obrigue uma mulher a vestir ou a despir o que não quer deve ser punido. A lei já o prevê. As mulheres vítimas destes homens não devem ser também vítimas do Estado. Com esta lei, passarão a sê-lo.

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Para ocultarem os problemas reais que temos, enquanto atacam o Estado Social e os direitos dos trabalhadores, acham que podem tapar os olhos dos portugueses.

Cláudia Santos, “Público” (sem link)


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