quarta-feira, 29 de outubro de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (178)

 
O “fora” no que respeita ao lixo não existe e Portugal que o diga.

(…)

É vasto o leque de contaminantes que nos são devolvidos pela natureza depois de os termos lançado a ela.

(…)

Neste momento já pagamos uma pesada multa de cerca de 200 milhões de euros por ano pelas embalagens de plástico que não reciclamos.

(…)

Os trabalhos que nos esperam para consertar esta tão viciada entorse da nossa condição ambiental são imensos. 

(…)

Na segunda metade da década de 90 ainda tínhamos cerca de 340 lixeiras a céu aberto a poluir solos e linhas de água e, em poucos anos, conseguimos fechá-las todas.

(…)

[Atualmente] reciclamos apenas 23% dos RU [resíduos urbanos], dos quais 14% são embalagens e papel, e 9% são resíduos orgânicos ou biorresíduos.

(…)

Isto quando as metas europeias são claras: já em 2025 a meta de reciclagem é de 55% e em 2030 será de 60%...

(…)

É também urgente diversificar os modelos de recolha em função dos locais — do porta a porta aos contentores dos biorresíduos.

(…)

E ainda criar o sistema de pagamento em função da produção do lixo não separado — o célebre PAYT — Pay as You Throw.

(…)

[Há que] requalificar algumas das unidades de tratamento mecânico e biológico (TMB) em que se investiu há uns anos.

(…)

[É importante] a criação de um sentido de responsabilidade pública, informada sobre o que é esse célebre monstro a que se chama ‘lixo’ e o que cada um de nós tem de fazer com ele.

(…)

As próprias soluções técnicas ganham eficácia com a mobilização cívica.

(…)

E, acima de tudo, envolver as escolas de todos os graus de ensino a começar no pré-primário.

(…)

E se o lixo nunca vai embora, pois que fique connosco, mas como riqueza.

Luísa Schmidt, “Expresso” online

 

As democracias liberais não estão a ser destruídas por tanques ou golpes militares.

(…)

As democracias ocidentais enfrentam uma ameaça sem precedentes, e a janela para a resistência eficaz fecha-se rapidamente.

(…)

[Trata-se de um diagnóstico rigoroso] sobre por que razão as instituições democráticas estão a falhar na contenção de forças autocráticas que operam com velocidade e coordenação inéditas. 

(…)

O que presenciamos – dos Estados Unidos à Europa – não é um ataque frontal às instituições democráticas, mas a sua captura e esvaziamento gradual.

(…)

Um processo que mantém aparências formais enquanto destrói a substância.

(…)

Os mecanismos de defesa que as democracias construíram ao longo de décadas revelam-se trágica e surpreendentemente inadequados. 

(…)

Por que razão estão [as democracias] a falhar tão espetacularmente. 

(…)

A resposta encontra-se num desalinhamento estrutural profundo: as instituições democráticas foram construídas para um mundo que já não existe. 

(…)

[A] confiança institucional transformou-se na nossa principal vulnerabilidade. 

(…)

Estamos perante um colapso da arquitetura institucional das democracias liberais. 

(…)

O poder económico concentrou-se em corporações tecnológicas que operam acima de qualquer jurisdição nacional. 

(…)

Mais fundamentalmente, as instituições democráticas pressupõem boa-fé dos atores políticos.

(…)

A separação de poderes funciona se todos os poderes aceitarem limitações mútuas.

(…)

A independência judicial funciona se as decisões judiciais forem respeitadas. 

(…)

As instituições não se defendem sozinhas; dependem de pessoas dispostas a fazer escolhas que envolvem perdas ou sacrifícios para as preservar. 

(…)

As democracias sempre conviveram com divergências ideológicas intensas, mas partilhavam um terreno factual comum. Essa base desapareceu.

(…)

Esta fragmentação não é acidental, é o modelo de negócio das plataformas digitais. 

(…)

[As democracias ocidentais] permitiram que empresas americanas e chinesas se tornassem os principais mediadores do debate político.

(…)

Desde os anos 90, as democracias ocidentais facilitaram a saída de dinheiro saqueado de países autocráticos, permitindo que fosse escondido em paraísos fiscais.

(…)

Este dinheiro corrompeu o sistema financeiro democrático, criando indústrias inteiras que lucram com o branqueamento de capitais autocráticos. 

 

(…)

Quando esses fluxos começaram a financiar campanhas políticas, a captura do sistema tornou-se inevitável.

(…)

As autocracias contemporâneas articulam-se através de três vetores: interesses financeiros partilhados, manipulação narrativa coordenada e cooperação militar.

(…)

Instituições democráticas operam através de processos deliberativos que, pela forma como foram estruturados, são lentos. 

(…)

Enquanto os tribunais analisam a legalidade de uma ação, três outras já foram implementadas. 

(…)

Cada ação prepara o próximo passo numa escalada calculada. 

(…)

As instituições europeias dependem de unanimidade que transforma decisão em paralisia. 

(…)

Quando um único país pode bloquear respostas coordenadas, a capacidade de ação coletiva evapora-se. 

(…)

A Europa permitiu que plataformas externas se tornassem mediadores primários do debate político europeu.

(…)

Regulação tecnológica torna-se questão de sobrevivência democrática, não de política industrial. 

(…)

A transformação autoritária não é ainda irreversível, mas a janela fecha-se rapidamente.

(…)

[O resgate virá] de cidadãos que compreendem que defendem não um partido, mas as condições de possibilidade da democracia.

(…)

Nunca uma captura institucional se auto-reverteu sem resistência organizada. 

(…)

Ainda não chegámos ao ponto de não-retorno. Mas podemos vê-lo no horizonte, aproximando-se à velocidade que só a inércia democrática permite. 

(…)

A história não oferece rascunhos.

Domingos Caeiro, “Expresso” online


Sem comentários:

Enviar um comentário