(…)
Desta vez, os socialistas lá picaram o ponto no apoio
burocrático a António José Seguro.
(…)
A forma como [Seguro] recebeu o apoio [do PS] também foi
morna.
(…)
[Seguro] parece mais confortável na companhia de passistas.
(…)
Perante o deserto à esquerda, Seguro prefere atirar-se para
um espaço sobrelotado.
(…)
Tal como Marques Mendes, está muito longe de conquistar a
totalidade dos votos já minguados do seu próprio partido.
(…)
Seguro desiste da sua base natural de apoio (o PS), que está
muitíssimo longe de conquistar.
(…)
Henrique Gouveia e Melo percebeu que o eleitorado de esquerda
está a ser negligenciado.
(…)
[O almirante] partiu para alto-mar, onde há muitos náufragos
de esquerda.
(…)
Sobra a resistência de alguns civilistas, que não adoram a
ideia de ver um militar em Belém.
(…)
Somos poucos.
(…)
[Gouveia e Melo] deixou claro que não dará para o peditório
das dissoluções sucessivas.
(…)
Nunca me espantou que um militar inexperiente conseguisse
apanhar a maré deste tempo.
(…)
A direita nunca percebeu a importância de figuras protetoras
em tempos de medo.
(…)
Também não me espanta que, mal tenha começado a falar e a
cometer erros, tenha começado a cair nas sondagens.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O
Chega, apoiado por PSD, CDS e IL, brindou-nos com um projecto
de lei banindo o uso do véu integral dos espaços públicos.
(…)
De repente, estamos a discutir um assunto inexistente como sendo
determinante para a nossa vida em sociedade.
(…)
Qual é afinal o bem jurídico que se pretende
proteger?
(…)
Suponhamos
que se pretende proteger a segurança e a ordem públicas. Este é o argumento
mais débil, até porque é o que mais carece de demonstração clara.
(…)
Se
a segurança e a ordem públicas se constituem como limites ao exercício de
liberdades fundamentais, não basta alegar finalidades preventivas contra riscos
eventuais não demonstrados.
(…)
Em defesa da proibição, querem convencer-nos de
que todas as mulheres islâmicas são oprimidas, inferiorizando-as e
retirando-lhes capacidade de agência e autonomia.
(…)
Mais graves, porém, são os efeitos nas mulheres
forçadas ao uso do véu integral.
(…)
Proibindo-se
o véu, as mulheres deixam de trabalhar, as raparigas passam a frequentar
escolas religiosas e toda a comunidade cerra fileiras, sentindo-se, com
justeza, acossada.
(…)
A
nossa [Constituição], embora nunca tenha consagrado expressamente uma cláusula
geral de protecção das minorias, assenta o seu sistema de direitos fundamentais
no princípio da dignidade da pessoa humana.
(…)
De todo o modo, para lá da dimensão
internacional, a restrição de direitos fundamentais (…) só pode admitir-se, à luz da
Constituição, para a salvaguarda de outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos, devendo limitar-se ao necessário para os
salvaguardar.
(…)
O
princípio da proporcionalidade obriga a que entre o conteúdo da medida
restritiva e a finalidade que ela prossegue haja um justo equilíbrio.
(…)
Nunca foi tão acentuado como agora o
distanciamento entre a 'realidade' dos problemas e a 'ficção' das soluções”.
Ana Rodrigues, “Público”
(sem link)
O insustentável peso da degradação política do
reino só não exige a imposição de um rei porque há novas hipóteses de
consanguinidade mesmo na República.
(…)
A falta de agitação partidária à volta das
candidaturas é dramática.
(…)
Nunca os candidatos foram tão unipessoais e tão
premeditadamente afastados das bases onde cresceram politicamente.
(…)
Parece haver uma cerca sanitária aos partidos.
Depois, que ninguém se admire que os portugueses pensem que os partidos têm
lepra.
(…)
O revisionismo histórico, sob a capa do
anonimato, comandado pela ditadura do algoritmo das redes sociais, actua com
ligeireza e com uma eficácia atroz.
Em primeiro lugar, legislam sem trabalho de
casa. Quantas mulheres com véu integral andam por aí?
(…)
Quantas
miúdas de hijab (véu
islâmico que cobre apenas o cabelo e as orelhas) ou outros adereços “modestos”
muçulmanos aparecem nas escolas?
(…)
Em
França, a lei de 2010 foi precedida de um estudo acerca da oportunidade jurídica
da legislação, que não a tornou menos polémica, mas ao menos mostra que o tema
existia e que o debate foi minimamente estruturado.
(…)
O tema do véu integral cá no burgo [é
uma inexistência].
(…)
O que sabemos acerca de políticas deste género
aconselha alguma prudência.
(…)
O debate em torno do véu torna o assunto
controverso, acabando por crispar posições, ao invés de as suavizar.
(…)
Considero
a cobertura total do corpo e do rosto um símbolo de opressão feminina; a ocultação
dos olhos tem por objetivo a supressão das mulheres da vida em sociedade.
(…)
Considero que o Estado deve promover políticas
públicas que procurem empoderar estas mulheres e livrá-las do jugo machista.
(…)
Ao
invés de libertar, a lei instaura uma dupla pena de violência sobre as
mulheres. Coagidas, no seio familiar, ao uso do véu integral, e coagidas, nos locais
públicos, ao seu não uso.
(…)
É o corpo da mulher, ainda e sempre, palco e barro das guerras culturais.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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