sábado, 30 de outubro de 2021

CITAÇÕES

 
À esquerda, ou pelo menos numa parte da esquerda, parece ter-se instalado uma compreensível apreensão pelo momento político que vivemos. 

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O PS, ao mesmo tempo que prepara a campanha eleitoral, bombardeia pelos seus canais que a culpa “é do PCP e do Bloco”.

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Que haja angústia, preocupação e frustração com a situação a que chegamos é perfeitamente legítimo. Qualquer pessoa do “povo da esquerda” a sente.

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[A geringonça] morreu na madrugada de 11 de outubro de 2019 – já com um novo Parlamento eleito – através de um comunicado do Partido Socialista anunciando a recusa de qualquer acordo escrito para a nova legislatura.

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O PS recusava a proposta do Bloco de um acordo escrito para os 4 anos, que permitiria estabilidade política e enquadrar a aprovação dos 4 orçamentos da legislatura.

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A estratégia de António Costa era não ter nenhum compromisso estável com a esquerda, podendo escolher as alianças que entendesse na Assembleia durante o ano, em geometria variável.

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A realidade provou que era uma estratégia insustentável.

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[Os partidos à esquerda do PS] não quiseram validar um documento em que, apesar de toda a encenação mediática, não identificaram verdadeiramente a presença das suas reivindicações e do que consideram ser o seu mandato.

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[Trata-se de] um documento, além do mais, onde não reconheceram as garantias de que promessas incluídas no texto da lei orçamental são depois executadas, transformando-se nesse caso numa fraude. 

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As razões da esquerda e da direita contra este Orçamento são opostas.

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Em matérias que o PS sabia serem essenciais para a esquerda, o PS juntou-se à direita para chumbar as propostas da esquerda e para manter regras que a direita deixou na lei.

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Aconteceu em praticamente todas as votações da lei do trabalho (…), aconteceu nas regras do debate democrático e parlamentar (…) ou em medidas de reversão de ruinosos negócios da direita (…). 

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Assim, a indignação seletiva sobre os “votos com a direita” resulta da falta de atenção ou conhecimento desta realidade.

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Há uma acusação impossível [contra Bloco e PCP]: a de que o seu sentido de voto resulta de um cálculo eleitoral.

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A haver eleições, poderão ser os partidos que menos beneficiarão delas, dada a intensa campanha de vitimização do Governo. 

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Desde 2019, as abstenções da esquerda nos Orçamentos do PS não impediram a extrema-direita de crescer.

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O crescimento das direitas, nomeadamente da sua componente mais radical, alimentar-se-á do descontentamento popular.

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Ficarmos paralisados pelo medo e abrirmos mão do que achamos ser essencial para essas políticas não é combater a extrema-direita, é ficar tolhido por ela, sem ter nenhuma garantia do seu esvaziamento. 

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O que tornou impossível a António Costa aceitar a reposição da lei laboral da autoria de Vieira da Silva no que diz respeito aos despedimentos?

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Por que razão não pode haver um regime de dedicação exclusiva no Serviço Nacional de Saúde, tal como propuseram Arnaut e Semedo?

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Por que não aceitou António Costa as propostas da esquerda sobre contratação coletiva - como até a insuspeita ex-ministra socialista Maria de Lurdes Rodrigues recomendou que se fizesse.

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O que não valerá muito a pena é alimentar a ideia de que a solução para o impasse criado por António Costa em 2019 é cancelar a democracia pelos riscos que os seus resultados podem produzir.

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Aqui chegados, mais do que recriminação mútua, precisamos de discutir soluções. 

José Soeiro, “Expresso” Diário

 

[A atrapalhação com o preço da gasolina] vai repetir-se, mas é mais grave que se sobreponha a outras incapacidades estruturais, como a revelada pelas sucessivas demissões em hospitais públicos ou pelos casos humilhantes de fecho de urgências ou de blocos operatórios. 

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Onde Costa pensa que o país suspira por lhe dar poder absoluto está a formar-se uma onda de desilusão.

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Os casos da morte no SEF, das estufas de Odemira, do acidente com o carro do ministro e tantos outros formam um magma de irritação que nunca vai ser percebido pelas sondagens, nem muito menos pelos assessores que gravitam na roda do poder. 

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O país está cansado e os crisófilos estão a brincar com o fogo. 

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[A crise estrutural do SNS] é tema tão essencial que levou o primeiro-ministro a fazer uma das promessas da sua vida: em 2017 não haveria ninguém sem médico de família.

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Não sei se S. Bento compreende a gravidade do desinteresse que manifesta pela promessa falhada.

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A mesma crise estende-se a todo o SNS.

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Se a saúde vai ser o coração dos sistemas de proteção social, esta corrosão do SNS é um problema democrático.

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Impressiona perceber que Costa não faz ideia do que está a dizer [sobre o fator de sustentabilidade] e ignora que o dito fator já só se aplica num pequeno número de casos.

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Em 2017 e 2018 o fator de sustentabilidade foi sendo anulado para pensões antecipadas com carreiras longas, em 2019 terminou para quem já tenha 40 anos de desconto aos 60 de idade, mantendo-se ainda a outra penalização pela antecipação.

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A garantia estrutural de um serviço de saúde com profissionais em exclusividade, bem pagos e responsabilizados, um sistema de proteção social que dê segurança às pessoas, uma economia qualificada com salários justos, é isso que fará um bom Governo para o nosso tempo. 

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Quando, saindo das eleições de 2019, recusou fazer acordos escritos à Esquerda, optando por navegar à vista de BE e PCP, Costa tinha um grande objectivo: preparar o terreno para uma crise política em 2021

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Após aprovar o primeiro Orçamento do Estado (OE) da legislatura, o BE sai da solução governativa desencantado com as negociações do OE21 e com a falta de cumprimento das promessas contidas e inscritas no OE anterior que viabilizara.

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No choque frontal com a realidade, o Governo voltou a encarar as negociações do OE como um simulacro.

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Perante a falta de vontade negocial do Governo, BE e PCP rejeitam o OE22

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A crise política que António Costa ambicionava chegou.

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No penúltimo ano parlamentar, PCP e BE aprovaram a grande maioria das propostas do PS, tendo os socialistas votado contra quase todas as iniciativas desses partidos. Estava escrito.

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Acusar PCP e BE de tacticismo e de falta de responsabilidade política e, simultaneamente, de terem sido reféns do PS durante anos é uma contradição insanável.

Miguel Guedes,JN


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