sexta-feira, 30 de setembro de 2022

CITAÇÕES

 
A linguagem apocalíptica não é novidade no discurso da extrema-direita.

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Essa forma de afirmação da política como um destino a que se deve obediência percorre-nos por todo o século XX e pelos nossos anos.

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O que é novidade no Sul da Europa, em países de influência católica mas que viveram profundos processos de secularização (…) é o regresso do enunciado místico como núcleo da organização política, imitando os EUA e o Brasil.

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O discurso religioso instalou-se como forma de representação, em particular da extrema-direita.

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[Este discurso] sendo uma crença, situa-se no terreno da irracionalidade e, portanto, não é argumentável.

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Como o estratagema resulta, vai ser radicalizado, Trump continua a ser disso o farol mundial.

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O século XXI vai ser o das identidades religiosas e de grandes cruzadas.

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A religiosidade política tem sido utilizada, no Ocidente, por duas tradições. A primeira é a da Igreja Católica, cujas velhas relações com o despotismo do Antigo Regime se prolongou depois na colaboração com as ditaduras europeias.

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Mas é a segunda tradição que mais se tem ampliado, a das igrejas evangélicas, em particular a partir do centro irradiante dos Estados Unidos.

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Nesses anos [70 do século XX], as igrejas evangélicas consideravam que o movimento antiaborto era um assunto dos católicos.

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Sendo impossível persistir nessa discriminação [recial], essas igrejas [evangélicas] viraram a sua ação para os movimentos antiaborto, associando-se ao Partido Republicano.

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Quarenta anos depois, dominam o partido e venceram no Supremo.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Quando esta agenda chegou ao Brasil transformou a sua demografia religiosa.

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A mais poderosa, a Assembleia de Deus, tem 12 milhões de seguidores, e a IURD tem um partido com 44 deputados, jornais e uma rede de televisão.

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A extrema-direita usa estas crenças e converte-se ao seu padrão de comunicação: Bolsonaro, que joga a sua chance presidencial neste eleitorado, faz-se chamar de “Mito” nos comícios.

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Ventura reclama-se de um mandato divino e integra alguns representantes de uma destas organizações na sua equipa.

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As igrejas evangélicas não mudam a direita para recuperarem o passado devoto mas para fazerem um negócio.

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Estes pastores são os empreendedores do século XXI e exploram o seu mercado em benefício pessoal, em dinheiro e em influência.

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A sua norma é o poder pelo poder. 

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Através de voto secreto em urna, uma larga maioria dos deputados insistiu na manutenção do cordão sanitário, impedindo a eleição de um deputado da extrema-direita para a vice-presidência da Mesa da Assembleia da República.

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Impedir a extrema-direita de se institucionalizar no lugar simbólico que sempre atacou e pretendeu derrubar é uma exigência sanitária para a casa da democracia. 

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O carácter adaptativo à sem vergonha é um traço do seu [da extrema-direita] temperamento ideológico, táctico e pragmático, instrumentalizando qualquer uma das suas derrotas.

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 A normalização que perseguem em Portugal, procurando fazer parte de uma solução de governo à Direita no futuro próximo, tem cada vez mais adeptos no PSD de Montenegro.

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Aqueles que no PSD resistem à ideia de um partido refém já perceberam que dificilmente poderão impedir que ele se transforme num apeadeiro da extrema-direita para chegar ao poder.

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Um país fundador da União Europeia afunda-se pela falta de respostas da classe política, enquanto a liderança de um partido fundador da democracia portuguesa parece gostar de votar para ver no que dá.

Miguel Guedes, JN

 

Como temos vindo a falar, Montenegro prepara-se, e sobretudo prepara-nos, para uma aventura: chegar a um entendimento com o partido neofascista e racista.

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Enquanto Luís Montenegro se vê constrangido a gerir a comunicação da sua cedência, André Ventura enche o peito para a anunciar.

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É mais do que certa a erosão do PSD.

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Desde logo em razão da existência de uma direita antifascista. Ela está no PSD.

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É que a atual governação socialista não tem contrariado assim tanto os sectores que votam tradicionalmente à direita.

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Vamos lá ser realistas: as acusações de socialismo, de que tanto falam os partidos à direita, são verdadeiras notas de humor.

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[Elas servem para] dispensar o PS de prosseguir políticas de esquerda e criar em algum eleitorado mais distraído a ideia de que o centro-direita e o centro-esquerda são totalmente diferentes.

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Mas o eleitorado é fino como o azeite e esta ladainha não pega. Não é o eleitorado do Chega que está sujeito a esta erosão, é apenas o do PSD.

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Ao admitir entendimentos com o Chega, o PSD perde eleitorado para o PS. 

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Por outro lado, o Chega só tem a ganhar. 

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Ficará politicamente reconhecido que a direita precisa do Chega.

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Mas também pode acontecer que a direita ganhe as legislativas graças ao entendimento. Da Europa sopram ventos assustadores. 

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O líder do PSD confia que será possível manter o controlo sobre André Ventura, mas, enquanto vigia os seus movimentos, estará a perder o próprio partido.

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O Irmãos de Itália esvaziou o Força Itália e Bolsonaro arrasou a direita golpista que lhe deu uma oportunidade.

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As forças fascistas costumam chegar ao poder por vias legais e até democráticas. Foi assim na Alemanha e na Itália antes da Segunda Guerra.

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Quando vemos o crescimento da extrema-direita e o desdramatizamos, devemos lembrar-nos de que equivale a desdramatizar ver alguém na heroína.

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Ao lado de André Ventura, Montenegro ficará reduzido à insignificância que na verdade merece. 

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

Hoje a retórica que ceifa liberdade e direitos individuais [no Brasil] apresenta-se pela imagem manipuladora de Bolsonaro e das elites que o rodeiam, bem como pelos proveitos que essas elites adquirem.

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A palavra corrompida é a mãe da mentira e o berço da corrupção, política ou moral, e é um facto que ela tem sido utilizada para atacar grupos marginalizados.

Bruno Santos Fonseca, “Público” (sem link)


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