domingo, 7 de maio de 2017

CDS, O PARTIDO DAS SIMULAÇÕES


No artigo de opinião de Domingos Lopes que apresentamos a seguir, transcrito do Público de hoje, o seu autor começa por afirmar que “o CDS foi historicamente um partido de simulações”. Temos de concordar totalmente com esta ideia se observarmos com atenção os resultados dessa estratégia obtidos ao longo do tempo.
De há várias eleições a esta parte, o partido parlamentar mais à direita no Parlamento português vem conseguindo um número de deputados muito superior à sua presumível implantação na sociedade portuguesa. Na realidade vem simulando uma força eleitoral que, de facto, não tem, sobretudo mercê de alianças com o PSD que tem sido o contribuinte líquido da estratégia do CDS, como muito bem se ficou a compreender através dos resultados das eleições parlamentares de 2015.  
O CDS foi historicamente um partido de simulações. Dos poucos momentos que não simulou foi na votação da Constituição aprovada na Assembleia Constituinte em que o CDS votou contra. Foi o único.
Simulou um acordo com o PS logo após a queda do primeiro governo constitucional do PS. Obrigado a largar o acordo, pôs-se ao fresco. Andou anos a simular entre Lucas Pires, Adriano Moreira, Manuel Monteiro até ficar nas mãos de Paulo Portas, o simulador em quem Manuel Monteiro levianamente acreditou.
O CDS simula entre a chamada democracia-cristã e a vocação para o poder, sendo esta a dominante. O ponto de simulação máximo encontra-se algures nas feiras onde Paulo Portas, de boné na tola, foi capaz de quase tudo e de mais um copito para que os velhos caíssem na esparrela dos prometidos aumentos das reformas.
Sem esquecer os anos inenarráveis de luta pelos combatentes do ultramar que rapidamente foram esquecidos quando teve cargos ministeriais e fazendo de Angola um relacionamento “sério e respeitável”, esquecendo todo o passado de combate melodramático ao regime do MPLA.
Portas simulou que se ia embora e que iria deixar Passos Coelho a falar sozinho, mas rapidamente revogou a decisão para receber o cargo de vice-primeiro-ministro, o que sempre é mais qualquer coisinha para o seu curriculum de simulador.
Paulo Portas foi líder da oposição a Cavaco primeiro-ministro e apoiante do professor de York como Presidente da República. Simulou um acordo com Marcelo (quando este dirigia o PSD) e “deslargou-o”.
Portas, farto de simular, foi-se e veio Assunção Cristas, que sem o traquejo do simulador-mor ora simula a eventual cooperação com o PS, ora se entesa a atacar o Governo. Também ela andou a simular que defendia a agricultura, as pescas e o mar e não tem nada de positivo que possa mostrar da sua herança: pior agricultura, quotas cortadas e mar ao longe, sem investimento. Apenas as cagarras com o Sr. Professor Cavaco nas Desertas.
Cristas está em luta com o PSD e para tal necessita de marcar terreno na luta contra o Governo. De que havia de se lembrar em Maio, o mês do Dia do Trabalhador? De atacar a possibilidade de os sindicatos da função pública alertarem os dirigentes dos serviços para a existência de precários. E porquê? Porque, segundo a sua brilhante mente, os sindicatos não se lembram dos que não são sindicalizados.
A senhora doutora disse isto sem que na sua face houvesse um pingo de vergonha por falar daquilo que sabe que não é verdade ou desconhece e imagina os outros como os dirigentes do CDS — simuladores de primeira água. A força dos sindicatos está nos sindicalizados e na sua capacidade de unir todos (sindicalizados e não sindicalizados) nas suas reivindicações.
Percebe-se o mal-estar de Assunção Cristas. Ela foi uma importante figura do Governo de Passos que tinha como programa empobrecer e aí não simulou, empobreceu.
Um dos modos mais terríveis para empobrecer o mundo dos trabalhadores por conta de outrem é colocá-los em situação de precariedade para que não se mexam. Assim, sem se poderem mexer, ela e Passos Coelho conseguiram outro propósito do seu governo tentarem ser campeões da competitividade. O que significaria um país de mão-de-obra barata e submissa. É, por isso, que lhe dói.
E na sua dor por ver o país respirar um pouco melhor raciocina à maneira dos simuladores, dos Núncios, dos Portas, dos que dizem uma coisa e pensam e fazem outra. Levanta a suspeita de os sindicalistas, através deste processo, meterem cunhas aos dirigentes da função pública.
Mas a sinalização dos precários não se destina a comprar submarinos, nem a esquecer os dez mil milhões de euros de rendimentos dos “pobrezinhos” “coitadinhos” depositados em offshores, como fez Núncio.
Simula o seu combate em Lisboa contra Medina e continua essa tarefa para ficar à frente de Teresa Leal. Porém, é preciso ter tento. Que sabe Assunção dos trabalhadores sindicalizados e da sua luta contra a precariedade que tanto elogiou no reinado de Passos Coelho? Haja decoro.

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