domingo, 21 de maio de 2017

MARISA MATIAS ENTREVISTADA PELO JORNAL i (2)



De uma longa entrevista a Marisa Matias publicada na edição de fim-de-semana do jornal i desta sexta-feira retirámos as seguintes afirmações da eurodeputada do Bloco de Esquerda:

- Gosto de pensar que continuo amiga e a conhecer as pessoas da minha aldeia.
- Embora ache que não é preciso ser pobre para perceber a pobreza, não é preciso ser mulher para perceber a desigualdade entre homens e mulheres.
- O discurso do Papa no Parlamento Europeu foi provavelmente dos discursos mais à esquerda que aquele parlamento alguma vez teve oportunidade de ouvir.
- Revejo-me muito naquilo que o Papa disse.
- Os democratas cristãos, já praticam pouca democracia e ainda menos o cristianismo.
- Quando muita gente confunde islamismo com fundamentalismo, e este com terrorismo, está a proceder a uma simplificação que depois é usada para outros fins.
- [Na Síria] não vejo nenhum outro caminho sem ser uma solução política.
- Dito isto, não creio que haja nenhuma solução política sem sentar toda a gente à volta da mesa e negociar, incluindo Bashar al-Assad.
- Os grupos terroristas têm armas porque são armados; se são armados é porque alguém lhes deu essas armas. E toda a gente sabe qual é o papel da Arábia Saudita nestes conflitos e o seu apoio a grupos armados, muitos deles ligados à Al-Qaeda.
- Eu apresentei duas vezes no Parlamento Europeu a proposta de que houvesse embargo de venda de armas a terroristas. Essas propostas nunca passaram.
- A Turquia está num crescendo de autoritarismo: repressão aos jornalistas, fecho de órgãos de comunicação social, prisão de professores, magistrados e deputados curdos.
- O Líbano, que é um país do tamanho do Algarve, com quatro milhões de habitantes, recebeu muito mais refugiados do que aqueles que tentaram chegar à UE.
- [A UE tinha capacidade para acolher esses refugiados] não só por uma questão humanitária, mas até porque nos temos responsabilidade no que aconteceu naquela região.
- A extrema-direita tem um peso enorme nos países de leste e da Europa central, de forma absolutamente incompreensível, fazendo parecer que não se aprendeu nada com a História.
- Se queremos uma política de cooperação com os países em desenvolvimento, tem de ser uma real política de cooperação.
- Vejamos um exemplo: 80% dos refugiados que chegam à UE são mulheres e crianças, mais de 50% têm menos de 18 anos, há milhares de crianças abandonadas e sozinhas.
- Quando vemos os memorandos de entendimento de ajuda financeira com a UE, o Pacto de Estabilidade, tudo o que são “reformas” impostas pela UE e BCE, elas passam por tocar nas áreas onde a UE não tem legitimidade: impõem que se corte na saúde, na educação, e querem que se reduza o Estado ao mínimo.
- Infelizmente, não houve nada que fosse feito nos anos da troika que não tivesse tido a conivência dos governos que estavam no poder.
- É muito fácil dizer que as sanções foram sacrifícios a mais, mas o parlamento onde eu estou teve permanentemente uma maioria, que incluía deputados portugueses, que votavam a favor das sanções, da austeridade e de um conjunto de medidas que prejudicaram os países do sul da Europa.
- Não creio que o Bloco tenha muitas ilusões em relação a esta integração europeia.
- A coerência que temos de ter [no Bloco] é nos valores e princípios, não é dizer 20 anos seguidos as mesmas palavras.
- Não se deve ter nenhum tabu em relação a discussão nenhuma, inclusive o euro.
- O euro foi um factor de divergência e não de convergência das economias europeias.
- [Os défices e os excedentes] são tão perigosos para a coesão europeia, uns e outros.
- Há uma condução cada vez menos democrática da UE.
- Apesar de não ser uma solução perfeita, na Caixa evitou-se aquilo que era a solução única, apresentada por Bruxelas, de privatizar.
- A questão do sistema bancário, a questão da dívida e o tratado orçamental são as grandes questões que são nucleares resolver no nosso futuro.
- O PS a governar sozinho, até agora, significou a obediência total à UE e com politicas liberais.
- Não podemos estar na política numa lógica calculista ou eleitoralista.
- [Na Europa] é preciso uma esquerda coerente e próxima das pessoas, e responder aos problemas das pessoas.

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