domingo, 12 de julho de 2020

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Uma investigação divulgada recentemente [dava conta que no Brasil]: 75% trabalha exclusivamente para estas plataformas [como a UberEats, a Glovo, a iFood ou a Rappi] e está conectado a duas aplicações distintas ao mesmo tempo. 77% dizem que trabalham mais de 10 horas diárias, quase metade 12 horas.
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Não têm contrato ou vínculo à plataforma, os rendimentos são altamente variáveis em função dos pedidos e dos rankings, com uma percentagem significativa a ir para a multinacional que é proprietária da aplicação.
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Não têm proteção social, os acidentes correm por sua conta e ficam entregues a si mesmos em caso de doença, incluindo a covid.
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Se reivindicam qualquer coisa, a retaliação é simples: são bloqueados na aplicação, ficam “em branco”, sem que lhes sejam encaminhados pedidos para o seu telemóvel.
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Também em Portugal, o universo das plataformas não tem parado de crescer. Segundo um estudo da Comissão Europeia, envolve já cerca de 10% da população empregada.
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Esta realidade dos 'emprecários' (aparentes empresários na realidade precários), ficou escancarada com a pandemia.
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A falácia do “transforma-te numa empresa que és tu” parece ter sido posta a nu nos últimos meses.

De susto em susto, o cenário de uma crise bolsista ganha terreno à medida que se agrava a divergência entre as economias agora em recessão (depois de estagnadas desde 2008) e a valorização dos ativos financeiros.
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Ninguém sabe ao certo quando ou como serão os mercados arrancados da sua exuberância, mas as razões que a sustentam merecem reflexão.
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Em ambos os lados do Atlântico, como do Pacífico, os principais bancos centrais responderam à crise pandémica com injeções bilionárias nos sistemas financeiros.
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Sem novos meios de intervenção na economia, as políticas públicas estão reféns dos instrumentos monetários e, logo, dos bancos.
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No privado, o crédito barato subsidia as grandes empresas mas não chega às pequenas.
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Para além dos bancos centrais, são agora os contribuintes os fiadores da atividade bancária.
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O pior da recessão ainda não chegou e já a OCDE recomenda a retirada dos apoios aos salá­rios.
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Se as crises são todas diferentes, e esta é mais diferente que as anteriores, os erros parecem repetir-se, uma e outra vez.
Mariana Mortágua, “Expresso” (sem link)

A metodologia que é seguida pelo INE permite conclusões espantosas, como registar uma diminuição do desemprego quando há mais pessoas sem trabalho.
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O desemprego estatístico ignora o desemprego real.
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De janeiro a maio temos menos 249 mil pessoas na população ativa, e não é porque tenham emigrado ou se tenham reformado — são mesmo os novos desempregados da covid.
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Entre os jovens, um ou dois em cada cinco estará sem trabalho, e, para muitos, essa crise prolonga-se desde há dez anos.
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Esta metodologia é penosa. Transforma a estatística, que devia ser um instrumento para medir a realidade, num biombo.
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[A OCDE] esta semana, assinalando um desemprego médio de 8,4% nas economias mais desenvolvidas, veio recomendar aos governos que retirem as medidas de apoio a salá­rios.
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O desemprego é uma excursão dos trabalhadores para “novos empregos”. Não temos de nos admirar se a norma estatística favorece este conto de fadas.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

O que também começa a ser evidente é que a situação se deve agravar no outono e mesmo já durante o verão, que costumava ser um período de muito emprego sazonal. A razão é simples: o turismo desapareceu.
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As consequências serão grandes, tanto no desemprego como nas contas de pequenas empresas que viviam deste fluxo.
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Esta economia do turismo tem sido uma especialização viciosa para Portugal.
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[A sobre especialização em turismo] afunila as capacidades produtivas e sugere que é fácil ganhar dinheiro sem responder aos problemas mais difíceis de criação de uma economia coerente, inovadora, com emprego qualificado.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

A novela EDP é um retrato exato de Portugal.
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O fio condutor é a fragilidade crónica do Estado e a sua captura por interesses privados, em particular dos sectores rentistas.
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Um modelo de capitalismo luso-virtuoso: iniciativa privada sem risco para quem investe, mas com custos intermináveis para o contribuinte e consumidor.
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Este mecanismo só funcionou, no entanto, porque foi alavancado por uma teia promíscua de interesses, com participações acionistas cruzadas, acompanhadas de migrações de protagonistas centrais de um lugar-chave para outro.
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Quando assistimos ao lento, circular e repetitivo desenrolar da novela EDP, ficamos sempre com a sensação de que não haverá desfecho e que, no fim dos episódios, estaremos apenas ainda mais pobres.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)

[O poder político] entregou duas empresas estruturantes [EDP e REN] para a soberania económica a outro Estado, garantindo-lhe dividendos que em muito poucos anos lhe devolverão tudo o que pagou.
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Para uma empresa que gere rendas, interessam gestores com boas agendas de contactos políticos que segurem essa vantagem.
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A justiça nunca é imaculada de mesquinhez. Mas num país pequeno é pior.
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O improvável triângulo EDP-TIC-SBE exibe a pequenez de um país que tem de começar a substituir a indignação ética pela precaução política.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

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