terça-feira, 29 de dezembro de 2020

JOÃO CAMARGO: UM BALANÇO (CLIMÁTICO E NÃO SÓ) DE 2020

 
João Camargo, investigador em ações climáticas, assina no “Público” de hoje um longo artigo de opinião que se lê como um balanço (climático e não só) do ano prestes a terminar. Dele extraímos as seguintes ideias que nos parecem as mais significativas:

Com a crise económica associada à covid-19 vimos uma vez mais os Estados e os bancos centrais a funcionarem como garante único do funcionamento da sociedade e da economia, destruindo-se as fantasias liberais acerca da potência dos mecanismos de resolução pelos mercados. 

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Este ano uma vez mais demonstrou como a Humanidade se mantém longe da resolução das crises criadas por si mesma, enquanto a alienação do sistema produtivo capitalista continua a dominar a imaginação colectiva.

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Assistimos ao resgate da indústria fóssil e da aviação por todo o mundo, em que os governantes só perguntam onde é que se entregam os cheques.

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[Em 2020 aconteceu a maior queda de emissões de gases com efeito de estufa desde que há registos, 7% de redução] poderia ser uma boa notícia caso tivesse sido intencional, ensina-nos apenas que é preciso um plano social de grande amplitude para conseguir os cortes necessários para travar

o colapso climático.

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[O que os governos de todo o mundo planeiam] passa por ignorar a ciência climática e deixar-nos avançar alegremente rumo à destruição.

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Ao longo da última década os sete maiores emissores de gases com efeito de estufa – China, Estados Unidos, União Europeia, Índia, Rússia, Japão e transportes internacionais  contribuíam com 65% das emissões globais.

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De acordo com os compromissos do Acordo de Paris, as emissões continuam na direcção de um aumento de 3,2ºC até ao final do século, muito longe de qualquer medida de segurança.

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Os 1% mais ricos do mundo são responsáveis pelo dobro das emissões dos 50% mais pobres – por isso, não há qualquer dúvida que a resolução desta crise passa obrigatoriamente por retirar aos mais ricos o poder de destruir as nossas vidas.

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[Segundo relatório da ONU] a elite mundial tem de reduzir as suas emissões para 1/30 [3,3%] do que emite hoje, isto é, têm mesmo de deixar de ser essa elite.

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Em Portugal, o ano ficou marcado pelo facto caricato de António Costa ter entregue o “plano para a década” ao barão petrolífero da Partex, António Costa e Silva, pela insistência na construção de um novo aeroporto (), pelo fim de todas as concessões petrolíferas em Portugal (…) e pela febre do hidrogénio verde, que tem como principal intérprete João Galamba.

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Entretanto, está consolidado o modelo de Transição Matos Fernandes: as empresas grandes emissoras anunciam encerramentos e despedem trabalhadores.

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A extrema-direita, depois de alguma hesitação no início do ano, reforçou-se perante o atrapalhado combate à covid-19 por parte dos governos.

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O discurso de ódio encavalita-se neste espaço e ganha lugar também no centrão, desesperado por poder e autoridade num tempo de tanta incerteza.

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A quarentena intermitente global significou uma redução dramática nas mobilizações sociais por todo o mundo.

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O próprio movimento pela justiça climática, que em 2020 se mobilizou como nunca, sofreu uma quebra.

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É também nos piores momentos que podem surgir os melhores sinais: foi em Novembro de 2020 que foi assinado o Acordo de Glasgow.


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