Com a crise económica associada à covid-19
vimos uma vez mais os Estados e os bancos centrais a funcionarem como garante
único do funcionamento da sociedade e da economia, destruindo-se as fantasias
liberais acerca da potência dos mecanismos de resolução pelos mercados.
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Este ano uma vez mais demonstrou como a
Humanidade se mantém longe da resolução das crises criadas por si mesma,
enquanto a alienação do sistema produtivo capitalista continua a dominar a
imaginação colectiva.
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Assistimos ao resgate da indústria fóssil e da
aviação por todo o mundo, em que os governantes só perguntam onde é que se
entregam os cheques.
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[Em 2020 aconteceu a maior queda de emissões de
gases com efeito de estufa desde que há registos, 7% de redução] poderia
ser uma boa notícia caso tivesse sido intencional, ensina-nos apenas que é
preciso um plano social de grande amplitude para conseguir os cortes
necessários para travar
o colapso climático.
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[O que os governos de todo o mundo planeiam] passa
por ignorar a ciência climática e deixar-nos avançar alegremente rumo à destruição.
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Ao longo da última década os sete maiores
emissores de gases com efeito de estufa – China, Estados Unidos, União
Europeia, Índia, Rússia, Japão e transportes internacionais – contribuíam com 65% das emissões globais.
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De acordo com os compromissos do Acordo de Paris, as emissões continuam na direcção de um aumento
de 3,2ºC até ao final do século, muito longe de qualquer medida de segurança.
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Os 1% mais ricos do mundo são responsáveis pelo
dobro das emissões dos 50% mais pobres – por isso, não há qualquer dúvida que a
resolução desta crise passa obrigatoriamente por retirar aos mais ricos o poder
de destruir as nossas vidas.
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[Segundo relatório da ONU] a elite mundial tem
de reduzir as suas emissões para 1/30 [3,3%] do que emite hoje, isto é, têm
mesmo de deixar de ser essa elite.
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Em Portugal, o ano ficou marcado pelo facto
caricato de António Costa ter entregue o “plano para a década” ao barão
petrolífero da Partex, António Costa e Silva, pela insistência na construção de
um novo aeroporto (…),
pelo fim de todas as concessões petrolíferas em Portugal (…) e pela febre do
hidrogénio verde, que tem como principal intérprete
João Galamba.
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Entretanto, está consolidado o modelo de
Transição Matos Fernandes: as empresas grandes emissoras anunciam encerramentos
e despedem trabalhadores.
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A extrema-direita, depois de alguma hesitação
no início do ano, reforçou-se perante o atrapalhado combate à covid-19 por
parte dos governos.
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O discurso de ódio encavalita-se neste espaço e
ganha lugar também no centrão, desesperado por poder e autoridade num tempo de
tanta incerteza.
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A quarentena intermitente global significou uma
redução dramática nas mobilizações sociais por todo o mundo.
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O próprio movimento pela justiça climática, que
em 2020 se mobilizou como nunca, sofreu uma quebra.
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É também nos piores momentos que podem surgir
os melhores sinais: foi em Novembro de 2020 que foi assinado o Acordo de Glasgow.
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