A nossa própria interpretação de uma grande obra, a nossa voz
crítica, é um instrumento pedagógico que existe e não pode ser substituído.
Francisco Louçã, “Expresso”
Economia (sem link)
Depois da aventura conjunta com o Chega na região
autónoma dos Açores, Rui Rio tinha negado coligações com este partido para as eleições autárquicas.
(…)
Fechou a porta das coligações com a extrema-direita para
tentar sacar os candidatos pela janela - assim se explica a opção para a
Amadora.
(…)
Rui Rio não quis dar a cara pela escolha extremada, mandou
José Silvano fazer esse anúncio público.
(…)
Logo a seguir, meteu os pés pelas mãos quando tentou traçar
diferenças entre as opiniões de Garcia e Ventura sobre a castração química.
(…)
Na tradução das palavras de Silvano, o PSD “está a brincar”
quando apresenta candidatos de extrema-direita à Amadora, isso não define o
partido - e, no entretanto, fica legitimada a guinada à direita e esses
protagonistas.
(…)
O desespero do PSD passou ao vale tudo eleitoral. Rui Rio
prometeu um banho de ética, mas deitou fora a ética com a água do banho.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
Esta
nova forma de injustiça e de desigualdade [20% da população mundial ficar com
dois terços das vacinas] expõe a irracionalidade de um modelo de vacinação
assente na disputa entre nações e na subjugação ao mercado e aos interesses
financeiros e industriais.
(…)
Do
acesso às vacinas, transformadas no novo “ouro líquido” do século XXI, como lhe chamou Boaventura Sousa Santos,
depende em grande medida o nosso futuro.
(…)
A
suspensão temporária dos direitos de propriedade industrial sobre as patentes
da vacina para a Covid-19 é cada vez mais consensual entre cientistas,
instituições de saúde pública e organizações internacionais.
(…)
Os
instrumentos legais nacionais e europeus para garantir a produção de vacinas já
existem, enquadrados pela situação de catástrofe.
(…)
Se o
desenvolvimento das vacinas só foi possível com uma quantidade colossal de financiamento
público (…), por que razão deveríamos ficar agora reféns de interesses privados.
(…)
O
governo português, que ocupa nestes meses a presidência do Conselho de
Ministros da União Europeia, tem a possibilidade e a obrigação de fazer a
diferença.
(…)
Só a
produção massiva de vacinas e a sua distribuição igualitária pelo mundo pode
permitir atingir uma imunidade de grupo global.
José Soeiro, “Expresso” diário
Os atores políticos fundamentais
continuam a invocar imperativos da cartilha neoliberal a que se afeiçoaram,
para nos dizerem que não têm as condições e a liberdade necessárias para
adotarem as políticas que melhor serviriam os cidadãos e o bem comum.
(…)
Para onde caminha o Governo, limitado
pela fraca capacidade política de um conjunto dos seus membros, parte dos quais
evidencia (por causas objetivas ou não) sintomas de burnout?
(…)
A UE das políticas articuladas,
solidárias, de coesão social de que os nossos governantes - e a Direita - nos
falam não existe, como provam a gestão do processo de vacinação, a novela das
bazucas, as humilhações nas relações internacionais perante os Estados Unidos
ou a Turquia.
(…)
O Governo enreda-se ainda mais nesse
caminho errático, prossegue políticas orçamentais de poupadinho que não
permitem proteger devidamente as pessoas e as empresas, continuando à espera
dos milagres de Bruxelas?
(…)
António Costa optará por ir aos desafios
difíceis, mas necessários, escolhendo os parceiros adequados, ou aproveita a
fraqueza da Direita (…) e cede à tentação de marginalizar a Esquerda na miragem
de uma maioria absoluta?
Dizer que as opiniões de Suzana Garcia a
habilitam para candidata autárquica, mas não para candidata a deputada,
candidata-se a anedota política do ano.
(…)
A história acabará por nos dizer a razão
pela qual um homem que pretendia devolver o PSD ao Centro, está a prestar este
serviço de branqueamento político ao extremismo que, em última análise, se
encarregará de o devorar por inteiro.
Quando se ouvem profissionais da História afirmar ser esta
“um saber neutro, situado fora da política”, a reação só pode ser de uma enorme
estranheza, dado estas afirmações ignorarem o resultado de intensos debates que
tiveram lugar dentro da própria disciplina desde há oito décadas.
(…)
Bloch defendia (…) que o objetivo da disciplina
não era apenas de natureza científica, mas comportava também uma dimensão
cívica e moral.
(…)
O “dever de memória”, proposto pelo escritor Primo Levi,
antigo prisioneiro em Auschwitz, intervém aqui como instrumento de um olhar
sobre passados traumáticos, estudados e ensinados pela história.
(…)
Se história não é apenas memória, se não se aceita como
critério único e inquestionável de verdade sobre o passado o depoimento
pessoal, subjetivo, de quem o viveu, também não pode ignorar-se o grito
silenciado daqueles que já não podem testemunhar.
(…)
É obrigação do historiador com sentido da verdade e da
equidade, opor-se frontalmente, nos espaços onde tem voz, ao trabalho de
negação [da história].
(…)
Perante o crime, a deturpação e o silenciamento que nos
chegam do passado, não existe imparcialidade ou indiferença. Apenas
cumplicidade ou denúncia.
Rui Bebiano, “Diário as beiras”
Aquilo que a realidade [o PSD] nos está a mostrar é a total
ausência de visão estratégica por parte de Rui Rio e sua direcção, e um foco
total nos resultados eleitorais mais próximos.
(…)
Desde António Oliveira, para Gaia, passando pela desistência
da luta no Porto, até ao apoio a um ex-presidiário em Oeiras, as escolhas são
elucidativas.
(…)
O zénite é a escolha de Suzana Garcia para a Câmara da
Amadora, uma candidata natural do Chega.
(…)
O que o PSD percebeu, é que, eventualmente, tem tanto de
trigo como de joio, pelo que separar-se do joio seria condenar-se a um desastre
eleitoral e a uma significativa perda de poder e de financiamento.
(…)
Um partido político [que não propõe ideias e políticas ao
país] deixa de ter ideologia e vai atrás de qualquer ideia que seja a ideia
que, no momento, aumenta a chance de ganhar as eleições.
(…)
Ora, é essa a estratégia que o PSD está a seguir,
despudoradamente. (…) Isto é o oposto da ética em política. Isto é a negação da
ideologia. Isto é olhar para um partido político como uma empresa de fazer
votos e dinheiro.
(…)
[O PSD] ou assume, sem vergonha, esse seu lado populista
bruto, ou aproveita o momento para se transformar num partido de futuro.
Gabriel Leite Mota, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário