sábado, 22 de maio de 2021

CITAÇÕES

 
Foi um rodopio nos últimos dias, cronistas e influencers levantaram-se para anun­ciar a sentença definitiva: os hospitais públicos são mais bem geridos pelas parcerias público-privado (PPP). 

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Chegou agora a hora da vingança e saíram a terreiro os defensores da gestão privada.

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O pequeno problema é que parecem não ter lido o relatório do Tribunal de Contas que citam em apoio à sua tese ‘privatista’.

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[Negócio] é a razão para que seja na saúde que se disputa a fronteira entre o público e o privado.

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É um negócio, mas, acima de tudo, é uma batalha política para conseguir a legitimação do controlo da coisa pública por empresas que cobram uma renda.

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[Estas empresas] têm duas outras vantagens nas PPP: ampliam a área de negócio e de lucro (…) e controlam a atividade de milhares de profissionais, cujo trânsito para os hospitais privados podem organizar facilmente.

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O recente relatório do Tribunal de Contas sobre as PPP avalia positivamente a sua gestão.

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Ou seja, as PPP cumpriram a qualidade média do seu grupo de referência mas terá havido hospitais públicos mais eficientes.

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As PPP são quatro hospitais novos, construídos de raiz, todos em zonas metropolitanas com alta intensidade de uso. Por isso, só podem ser mais eficientes do que alguns outros hospitais do grupo de referência e percebe-se porquê: se um hospital do interior tem equipas de anestesistas de plantão a toda a hora, havendo poucas cirurgias de emergência de noite, pagar-lhes é ineficiente do ponto de vista económico. Só que é necessário para proteger a saúde. A estrita comparação financeira é por isso abusiva e de consequências graves.

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O Tribunal acrescenta mesmo que a poupança financeira pode ser perigosa para a população.

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Dificilmente este relatório serve para instalar mais “dez ou quinze” PPP. Mas mostra que, se as empresas vencerem, uma parte da população ficará com piores cuidados de saúde.

Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)

 

Os anos passam, muda-se a geografia, mas permanece o desespero nos rostos de quem procura fugir de uma vida miserável, da fome e da guerra.

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Como peões, milhares de pessoas foram jogadas por Marrocos contra Espanha e a União Europeia.

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Em Ceuta ou no Sara Ocidental, Marrocos mostra um absoluto desprezo pelas vidas humanas.

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Está em curso uma chantagem perante o acolhimento, em Espanha, do secretário-geral da Frente Polisário, Brahim Ghali, para tratamento de complicações decorrentes da covid-19.

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As “razões humanitárias” que o governo espanhol alega, circunstância prevista no direito internacional, não fazem eco em Rabat.

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A descolonização espanhola no norte de África é a origem deste problema. 

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[A ONU] considera o Sara Ocidental um território não autónomo à espera de descolonização.

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Com uma brutal repressão militar, [Marrocos] foi aumentando as ocupações até abranger quase 80% do território do Sara Ocidental e explorar as suas riquezas naturais.

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No final do ano passado, Donald Trump[já depois de ter perdido as eleições] reconheceu a soberania de Marrocos sobre o Sara Ocidental.

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O Tribunal de Justiça da UE já reconheceu em 2016 que Marrocos e o Sara Ocidental são entidades distintas.

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A União Europeia mostrou-se, novamente, exposta à chantagem de terceiros. Já tinha acontecido antes com a Turquia, agora foi a vez de Marrocos. 

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Desde 2014, a UE já pagou mais de 350 milhões de euros para que militares marroquinos impedissem os migrantes de tentarem chegar à Europa.

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Os relatos dessas práticas são brutais e desumanos, mas bem conhecidos pelas entidades europeias.

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[A UE] é um espaço democrático que entrega a ditaduras a sua política fronteiriça, apregoa o respeito pelos direitos humanos enquanto patrocina o tratamento bárbaro de migrantes e refugiados.

Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)

 

Portugal tem, sem dúvida, problemas novos decorrentes dos impactos da pandemia, mas estes apenas acrescentaram e diversificaram dimensão a bloqueios maiores que vinham de trás.

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Aqueles figurões [grandes devedores do Novo Banco] fogem à verdade com todo o descaramento.

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Esse descaramento é facilitado porque o poder político se vem fragilizando, por vezes propositadamente.

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Um país jamais será democrático e desenvolvido com uma economia - e até um mundo dos negócios - infestado daquele parasitismo e roubo.

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Uma outra incomodidade que nos vai apoquentando é o facto de vermos um crescente número de ministros, secretários de Estado e outros atores do exercício do poder fazendo política como quem faz as "promoções do dia" dos supermercados. 

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O primeiro-ministro tem a obrigação de saber que isto é taticismo a mais, e que pode acabar muito mal.

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O potencial produtivo do país foi delapidado, nomeadamente pela redução do stock de capital e da população ativa. 

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Temos uma economia mantida à tona através de taxas de juro baixas que podem inverter-se a qualquer momento, por decisões do Banco Central.

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É um grave erro a governação do país estreitar-se no enfoque dos danos sofridos nos dois últimos anos e nas medidas ou meios "excecionais" de reparação, prosseguindo políticas sem rasgo, sem profundidade, sem robustez.

Carvalho da Silva, JN

 

[A defesa de um titular de um cargo político perante uma condenação em tribunal] legítima, manda a ética, deverá fazer-se fora da política, evitando todo o tipo de contaminações.

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Sustentar que um titular de um cargo público abdique das suas funções ou de uma eventual recandidatura, em razão de ser pronunciado num processo judicial, é anavalhar o Estado de direito.

Miguel Guedes, JN

 

Aprender era um acto de emancipação. Aprendemos porque até agora o que era importante era só determinado por quem mandava.

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Se soubermos mais estamos emancipados, mais conscientes e informados.

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Apesar das redações só com relutância reafirmarem que há uma emergência climática (à terceira vez que há uma emergência, já não é notícia e portanto já não vale a pena dizer que há uma emergência)

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A extrema-direita quer mudar a constituição para impor uma nova ordem, enquanto à esquerda se defende a mesma como salvaguarda do ordenamento.

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A média da concentração de dióxido de carbono na atmosfera em Abril de 2021 foi de 416 partes por milhão. É a mais alta dos últimos 800 mil anos, pelo menos. 

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2020 foi o segundo ano mais quente desde que há registos, batendo o recorde de 2016.

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A Amazónia brasileira já está a emitir mais dióxido de carbono do que a absorvê-lo.

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A Gronelândia está a aproximar-se de um ponto de ruptura que garantirá o seu colapso.

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Apesar da cacofonia que existe, as instituições empurram rumo ao futuro, mesmo se o futuro já não for nada daquilo que se pensa.

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As políticas actuais põe-nos num rumo de aumento de temperatura entre os 2,7ºC e os 3,7ºC - se forem cumpridas. 

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Este artigo não muda nada e até pode ajudar a compor o ramalhete, parecendo que a crise climática é só mais um dos mil temas que “acontecem” na nossa complexa sociedade.

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Deixar o rumo actual seguir é atentar contra a vida de todas as sociedades e todas as gerações hoje vivas – e isso é, inequivocamente, mais importante. 

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Num contexto de emergência climática e ecológica, a inação é criminosa e há uma responsabilidade histórica objectiva se não violarmos as leis que estabelecem, protegem ou amplificam o colapso do nosso contexto ambiental.

João Camargo, “Expresso” Diário


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