(…)
Chegou agora a hora da vingança e saíram a terreiro os defensores
da gestão privada.
(…)
O pequeno problema é que parecem não ter lido o relatório do
Tribunal de Contas que citam em apoio à sua tese ‘privatista’.
(…)
[Negócio] é a razão para que seja na saúde que se disputa a
fronteira entre o público e o privado.
(…)
É um negócio, mas, acima de tudo, é uma batalha política para
conseguir a legitimação do controlo da coisa pública por empresas que cobram
uma renda.
(…)
[Estas empresas] têm duas outras vantagens nas PPP: ampliam a área
de negócio e de lucro (…) e controlam a atividade de milhares de profissionais,
cujo trânsito para os hospitais privados podem organizar facilmente.
(…)
O recente relatório do Tribunal de Contas sobre as PPP avalia
positivamente a sua gestão.
(…)
Ou seja, as PPP cumpriram a qualidade média do seu grupo de
referência mas terá havido hospitais públicos mais eficientes.
(…)
As PPP são quatro hospitais novos, construídos de raiz, todos em
zonas metropolitanas com alta intensidade de uso. Por isso, só podem ser mais
eficientes do que alguns outros hospitais do grupo de referência e percebe-se
porquê: se um hospital do interior tem equipas de anestesistas de plantão a
toda a hora, havendo poucas cirurgias de emergência de noite, pagar-lhes é
ineficiente do ponto de vista económico. Só que é necessário para proteger a
saúde. A estrita comparação financeira é por isso abusiva e de consequências
graves.
(…)
O Tribunal acrescenta mesmo que a poupança financeira pode ser
perigosa para a população.
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Dificilmente este relatório serve para instalar mais “dez ou
quinze” PPP. Mas mostra que, se as empresas vencerem, uma parte da população
ficará com piores cuidados de saúde.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
Os anos passam, muda-se a geografia, mas
permanece o desespero nos rostos de quem procura fugir de uma vida miserável,
da fome e da guerra.
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Como peões, milhares de pessoas foram jogadas
por Marrocos contra Espanha e a União Europeia.
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Em Ceuta ou no Sara Ocidental, Marrocos mostra
um absoluto desprezo pelas vidas humanas.
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Está em curso uma chantagem perante o acolhimento, em Espanha, do
secretário-geral da Frente Polisário, Brahim Ghali, para tratamento de
complicações decorrentes da covid-19.
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As “razões humanitárias” que o governo espanhol
alega, circunstância prevista no direito internacional, não fazem eco em Rabat.
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A descolonização espanhola no norte de África é
a origem deste problema.
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[A
ONU] considera o Sara Ocidental um
território não autónomo à espera de descolonização.
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Com uma brutal repressão militar, [Marrocos] foi
aumentando as ocupações até abranger quase 80% do território do Sara Ocidental
e explorar as suas riquezas naturais.
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No final do ano passado, Donald Trump[já depois
de ter perdido as eleições] reconheceu a soberania de
Marrocos sobre o Sara Ocidental.
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O Tribunal de Justiça da UE já reconheceu em
2016 que Marrocos e o Sara Ocidental são entidades distintas.
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A União Europeia mostrou-se, novamente, exposta
à chantagem de terceiros. Já tinha acontecido antes com a Turquia, agora foi a
vez de Marrocos.
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Desde 2014, a UE já pagou mais de 350 milhões
de euros para que militares marroquinos impedissem os migrantes de tentarem
chegar à Europa.
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Os relatos dessas práticas são brutais e
desumanos, mas bem conhecidos pelas entidades europeias.
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[A UE] é um espaço democrático que entrega a
ditaduras a sua política fronteiriça, apregoa o respeito pelos direitos humanos
enquanto patrocina o tratamento bárbaro de migrantes e refugiados.
Pedro Filipe Soares,
“Público” (sem
link)
Portugal tem, sem dúvida, problemas novos
decorrentes dos impactos da pandemia, mas estes apenas acrescentaram e
diversificaram dimensão a bloqueios maiores que vinham de trás.
(…)
Aqueles figurões [grandes
devedores do Novo Banco] fogem à verdade com todo o descaramento.
(…)
Esse descaramento é
facilitado porque o poder político se vem fragilizando, por vezes
propositadamente.
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Um país jamais será
democrático e desenvolvido com uma economia - e até um mundo dos negócios -
infestado daquele parasitismo e roubo.
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Uma outra incomodidade que
nos vai apoquentando é o facto de vermos um crescente número de ministros,
secretários de Estado e outros atores do exercício do poder fazendo política
como quem faz as "promoções do dia" dos supermercados.
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O primeiro-ministro tem a
obrigação de saber que isto é taticismo a mais, e que pode acabar muito mal.
(…)
O potencial produtivo do
país foi delapidado, nomeadamente pela redução do stock de capital e da
população ativa.
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Temos uma economia mantida
à tona através de taxas de juro baixas que podem inverter-se a qualquer
momento, por decisões do Banco Central.
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É um grave erro a
governação do país estreitar-se no enfoque dos danos sofridos nos dois últimos
anos e nas medidas ou meios "excecionais" de reparação, prosseguindo
políticas sem rasgo, sem profundidade, sem robustez.
[A defesa de um titular de
um cargo político perante uma condenação em tribunal] legítima, manda a
ética, deverá fazer-se fora da política, evitando todo o tipo de contaminações.
(…)
Sustentar que um titular de
um cargo público abdique das suas funções ou de uma eventual recandidatura, em
razão de ser pronunciado num processo judicial, é anavalhar o Estado de direito.
Aprender era um acto de emancipação. Aprendemos porque até agora
o que era importante era só determinado por quem mandava.
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Se soubermos mais estamos emancipados, mais conscientes e
informados.
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Apesar das redações só com relutância reafirmarem que há uma
emergência climática (à terceira vez que há uma emergência, já não é notícia e
portanto já não vale a pena dizer que há uma emergência)
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A extrema-direita quer mudar a constituição para impor uma nova
ordem, enquanto à esquerda se defende a mesma como salvaguarda do ordenamento.
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A média da concentração de dióxido de carbono na atmosfera em
Abril de 2021 foi de 416 partes por milhão. É a mais alta dos últimos 800 mil anos, pelo
menos.
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2020 foi o segundo ano mais quente desde que há registos,
batendo o recorde de 2016.
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A Amazónia brasileira já está a emitir mais dióxido de carbono do que a absorvê-lo.
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A Gronelândia está a aproximar-se de um ponto de ruptura que garantirá o seu colapso.
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Apesar da cacofonia que existe, as instituições empurram rumo ao
futuro, mesmo se o futuro já não for nada daquilo que se pensa.
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As políticas actuais põe-nos num rumo de aumento de temperatura
entre os 2,7ºC e os 3,7ºC - se forem cumpridas.
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Este artigo não muda nada e até pode ajudar a compor o
ramalhete, parecendo que a crise climática é só mais um dos mil temas que
“acontecem” na nossa complexa sociedade.
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Deixar o rumo actual seguir é atentar contra a vida de todas as
sociedades e todas as gerações hoje vivas – e isso é, inequivocamente, mais
importante.
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Num contexto de emergência climática e ecológica, a inação é
criminosa e há uma responsabilidade histórica objectiva se não violarmos as
leis que estabelecem, protegem ou amplificam o colapso do nosso contexto
ambiental.
João Camargo, “Expresso” Diário
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