(…)
Há
potências coloniais democráticas, não há colonialismo democrático.
(…)
Usar
os direitos humanos para defender o colonialismo é a mais velha forma de
paternalismo colonial.
(…)
A
direita israelita quis o Hamas porque o Hamas se alimenta da incomunicabilidade
e da guerra de que ela precisa.
Daniel Oliveira, “Expresso” Diário (sem link)
Sendo a guerra um crime continuado de onde ninguém
sai inocente, os despejos em Sheikh Jarrah e a invasão da mesquita de Al-Aqsa
foram só mais uns rastilhos.
(…)
Não há
equiparação entre um Estado com um enorme poderio militar e um povo que vive em
terras muradas, entre quem constrói colonatos e quem é expulso da sua terra.
(…)
Agora,
estamos perante o caos em guerra e o domínio colonial em paz.
(…)
Há
três alternativas a um Estado soberano da Palestina: anexar o que resta do seu
território e herdar três milhões de palestinianos; impor um sistema de
apartheid explícito; ou continuar aquilo a que o antropólogo israelita Jeff
Halper chamou, há duas décadas, “matriz de controlo”.
(…)
Um
sistema rodoviário exclusivo liga entre si os colonatos israelitas nos
territórios ocupados e cria barreiras entre as áreas palestinianas, separadas
como um arquipélago, com controlo feroz de movimentos.
(…)
Nos
interstícios são construídos parques industriais israelitas que fazem florescer
os colonatos, usando a mão de obra palestiniana barata (é a sua função).
(…)
Por
fim, há o controlo de todos os recursos naturais, sobretudo da água.
(…)
Isto e
uma presença militar que permite o controlo político e económico.
(…)
Cada
povoação palestiniana [fica transformada] num enclave dependente de Israel.
(…)
Em
tudo, estamos perante a típica dominação colonial.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A
polarização já está no meio de nós e, como acontece noutras paragens, compensa,
pois alimenta polémica e estimula o clickbait.
(…)
Se
levarmos a sério o que é sugerido, viveríamos num país com liberdade ameaçada,
criminalidade galopante, universidades dominadas por heterodoxias pós-modernas
e interesse comum capturado por uma minoria.
(…)
Nada
como um bom combate contra moinhos de vento para alimentar uma ilusão e, assim,
fomentar a polarização.
(…)
E o
nosso ecossistema polarizado não é distinto do que se desenvolveu noutras
paragens.
(…)
Esta
legitimação coexiste com a sugestão de que, finalmente, nos é oferecida uma
argumentação racional.
(…)
As
redes sociais, depois, fazem o resto.
(…)
Esta
lógica argumentativa circular é apelativa e, na verdade, difícil de contrariar.
E tem efeitos: o fim dos interditos no debate público (…); o declínio da
vergonha como mecanismo social de controlo (…) e a erosão das instituições de
intermediação (…).
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
A
pergunta-incêndio [“há funcionários públicos a mais ou a menos?”] tem uma
resposta simples e outra complexa. A resposta simples: as duas coisas, funcionários
a mais se analisarmos a despesa pública e a menos se virmos as carências dos
serviços públicos. A resposta complexa: não sabemos.
(…)
A
austeridade chegará, da forma certa ou da forma errada.
(…)
Muitas
das 65 mil contratações resultam de integrações de precários e de reforço de
carências gritantes no SNS e na escola pública, havendo ainda serviços
despovoados.
(…)
O PRR
servirá, aliás, para modernizar a função pública, que precisa de investimento
até para aumentar a produtividade.
Pedro Santos Guerreiro, “Expresso” (sem link)
Temos
mais uma raspadinha no mercado para acentuar as situações de jogo patológico e
as desigualdades sociais.
(…)
É
vergonhoso que o Estado esteja a promover comercialmente um produto viciante,
que funciona como um imposto regressivo que explora os mais vulneráveis e no
qual tem interesses financeiros.
(…)
Mas
não é menos vergonhoso que membros do Governo o defendam, usando argumentos
infantis e cientificamente incorretos.
(…)
Há
estudos experimentais que mostram que, quanto mais detalhados forem os
objetivos de uma causa, maior é a disposição dos indivíduos para contribuir.
(…)
Sem
essa especificidade, esta raspadinha será apenas mais uma lotaria instantânea e
não conseguirá captar o interesse de pessoas com um nível socioeconómico mais
elevado.
(…)
E qual
a responsabilidade do Estado em ajudar os seus cidadãos a tomar melhores
decisões que tenham em vista o seu bem-estar físico, mental, económico e social?
(…)
Qualquer
um de nós, mesmo lúcido e mentalmente capaz, sofre de enviesamentos cognitivos
e comportamentais que vão condicionar as nossas escolhas.
(…)
É da
responsabilidade do Estado criar condições para que as escolhas sejam as mais
acertadas.
(…)
A
lista de enviesamentos comportamentais que podem exacerbar o consumo de
raspadinhas, comparativamente ao consumo que seria feito por um agente
totalmente racional, é longa.
(…)
Não
nego que seja necessário encontrar recursos para financiar a manutenção do
património cultural e que alternativas à privatização devam ser privilegiadas.
(…)
Se a
opção for a exploração dos mais vulneráveis, então, não espanta que contra
factos só se tenham maus argumentos.
Sandra Maximiano, “Expresso” Economia (sem link)
O mundo do futebol, cheio de ilegalidades, de contratos
esquisitos com jogadores, de offshores, de despesas sumptuárias, de corrupção e de violência, não
suscita no populismo muita condenação.
(…)
Os partidos, a imprensa, os comentadores com proximidade com
o mundo dos negócios “liberais” tendem a desvalorizar aquilo e aqueles sobre os
quais fazem um cordão sanitário, dizendo que “eles” não são o retrato do
capitalismo português.
(…)
Sim, tomá-los pelo todo é injusto com alguns dos grandes e
muitos dos pequenos.
(…)
Os grandes devedores não caíram do céu ou exclusivamente do
regaço de rosas de Ricardo Salgado, conluiado com José Sócrates, mas
comprometem gente altamente “reputada” e qualificada do mundo da banca.
(…)
Muita da imprensa económica, e não só, reflecte este mesmo
tipo de preocupações, chamemos-lhe “de classe” para irritar com um vocabulário
marxista, e tem dependências muito pouco transparentes.
(…)
A economia das indignações é dúplice em vários escalões.
Atinge muito mais os que vêm de baixo do que a gente fina, que é de facto
“outra coisa”.
(…)
Para onde foram as centenas e centenas de milhões de euros,
eles que não têm bens e que, os que têm, a banca acha que é melhor “não serem
executados”? A essa pergunta sei responder; para o seu bolso e dos seus
cúmplices.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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