(…)
[No Estado norte-americano de Nova Jérsia] o aumento do salário
mínimo fez crescer o emprego.
(…)
A realidade é um desafio à ortodoxia que, indiferente ao mundo,
continua a clamar que a subida dos salários gera perda de empregos ou que,
havendo desemprego, a solução é a redução do nível salarial.
(…)
[Buchanan] foi um dos grandes economistas liberais
mobilizados pelo ditador Augusto Pinochet para avalizarem o seu regime, o que
fez com gosto.
(…)
O mesmo dogma tem sido repetido em Portugal, sobretudo desde os
finais de 2015, quando se iniciou um aumento regular do salário mínimo, que já
perfaz 32%.
(…)
Entretanto, o desemprego foi sempre sendo reduzido e a explicação
é evidente, depende essencialmente da dinâmica macroeconómica.
(…)
Seguindo Buchanan, estes liberais acharão porventura que
reconhecer a realidade faz dos economistas, como o recentemente nobelizado, um
“bando de seguidores de prostitutas”.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Essa
entidade abstrata, que tem na Comissão Europeia e no Conselho Europeu a ponta
do icebergue, seria o fantasma que paira sobre os países, assombrando quem
queira defender os trabalhadores.
(…)
Confesso
que não encontrei nada nos tratados europeus que impeça os países de alterarem
a sua legislação laboral e defenderem os direitos dos trabalhadores.
(…)
Mas a ideia de essas regras não escritas
pairarem sobre os países com menos poder persiste.
(…)
[Segundo o primeiro-ministro] estaríamos livres
desses fantasmas, poder-se-ia pensar.
(…)
Em
vários momentos, sempre que confrontados com mudanças nas leis laborais,
membros do Governo ou dirigentes do PS respondem que isso iria chamar a atenção
das instituições europeias: ficaríamos no radar da Europa [uma coisa má].
(…)
Muitas
das reticências e desacordos entre o Governo e os partidos à esquerda radicam
nesta submissão a uma agenda que não tem legitimidade democrática nem legal,
mas que amedronta os governantes.
(…)
O
Bloco de Esquerda propõe a reposição da compensação por despedimento em trinta
dias por ano de trabalho, como vigorou até à intervenção da troika.
(…)
Na
reposição dos 25 dias úteis de férias por ano, recuperando até o que foi uma
proposta feita por António Guterres, o Governo rejeita liminarmente a ideia.
(…)
[Nestas matérias e noutras] é a receção das
mexidas em Bruxelas que serve de justificação para o Governo.
(…)
[No que respeita à contratação coletiva] o
Governo prefere andar de moratória em moratória do que acabar de vez com a
caducidade que ameaça os direitos dos trabalhadores.
(…)
É na
submissão a esta Europa que não está prevista nos tratados que parte das
divergências se acumulam à esquerda.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
A pobreza é, talvez depois da guerra, o maior
obstáculo ao desenvolvimento.
(…)
Persiste um grupo social
amplo pobre, que engloba mais de 10 % do total dos trabalhadores, uma parte
significativa de idosos pensionistas, e as crianças das famílias destes dois
conjuntos de pessoas.
(…)
A pobreza é uma desgraça,
tem de ser tratada como tal, mas jamais pode ser aceite como fatalidade.
(…)
Numa perspetiva conjuntural
são louváveis as ações que atenuam as carências e os sofrimentos causados pela
pobreza, mas confundir tais atitudes com o combate estrutural é hipocrisia pura.
(…)
É preciso tratar o pilar
das políticas sociais respondendo às manifestações da pobreza com respostas
robustas.
(…)
Os Orçamentos do Estado são
expressões das nossas escolhas como sociedade e da coerência política com que
encaramos os problemas.
(…)
A tese de que primeiro se
trata da criação da riqueza e depois das formas de a distribuir é uma das
maiores trapaças com que se alimentam as políticas de baixos salários, a
libertinagem contratual que raia o criminoso, as desigualdades e a pobreza.
(…)
A destruição progressiva da
negociação coletiva [entre outros fatores provocando] uma harmonização
no retrocesso, mais alimentam a "eternização" da pobreza no nosso
país.
Há um país que pode estar
suspenso por um primeiro-ministro que analisa o poder como uma circunstância do
momento e não como o dever de serviço de que está incumbido.
(…)
Após uma vitória algo
tímida nas autárquicas, onde a perda de autarquias simbólicas afectou a moral
socialista e acrescentou pontos às dúvidas, Costa parece ainda viver numa zona
de conforto muito sua.
(…)
Há uma parte do país que
não lhe perdoou não ter tido a humildade de remodelar o Governo.
(…)
Há
uma parte substancial do país que já percebeu que, como em alguns momentos do
passado recente, Costa só não negoceia porque não quer.
(…)
É demasiado evidente a sua falta de vontade, pelo que já não
consegue passar o odioso para o BE e PCP por uma eventual não aprovação do
OE22.
(…)
E a questão que se coloca é se o PS que suporta esta
governação quer tanto ir a eleições como António Costa aparentemente deseja.
A radicalização não é a insubmissão, nem
a justa revolta, é outra coisa: é a substituição do indivíduo e da sua
liberdade pela ordem de marcha.
(…)
Vivemos há anos sob a ditadura de
algumas expressões que fazem estragos na política, porque de há muito o seu
significado original se perdeu ou deixou de ter sentido.
(…)
Mas a substância da democracia perde
quando a ecologia do combate, o desespero da impotência, a fragilidade do
cansaço, se misturam para criar este caldo de cultura.
Pacheco Pereira, “Público” (sem
link)
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