(…)
Um dos
dados mais impressionantes [sobre desigualdades] é a viragem criada pelo que
então se chamou candidamente globalização.
(…)
[Atualmente
nos EUA] os 1% de cima têm quase o dobro do total [do rendimento] dos 50% de
baixo. Tem sido um furacão de mudança social.
(…)
Quem
está à frente [em criança] fica à frente [em adulto], esqueçam a mobilidade
social.
(…)
A
desigualdade tem uma genealogia mas histórias diferentes.
(…)
[Da
cimeira de Glasgow] ficámos a saber que, com a política atual, o aumento da
temperatura do planeta chegará aos 2,9oC.
(…)
Também
aqui há uma história de desigualdade: os 1% mais ricos criam 70 toneladas de
emissões poluentes per capita, em média, ao passo que os 50% mais pobres
produzem uma tonelada per capita.
(…)
A
emissão produzida pelos mais ricos é trinta vezes o limiar que permitiria
restringir o aumento médio da temperatura a 1,5oC.
(…)
A
desigualdade é agonizantemente visível e está a agravar-se.
(…)
[A consequência
desta fratura social e das suas implicações] é a ingovernabilidade que nasce
dos obstáculos sistémicos a soluções razoáveis e que bloqueia a política
da transição energética e ambiental.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia” (sem link)
Perante
algum incómodo silencioso de São Bento, Dombrovskis já anunciou em Bruxelas que
o novo Orçamento será entregue à Comissão Europeia em março, portanto poucos
dias depois da tomada de posse do próximo Governo.
(…)
Ou
seja, o futuro Orçamento já está pronto.
(…)
Resta
então a questão: se o próximo Governo já tem o malfadado Orçamento e se a
remodelação já está “compactada”, para que foi todo o dramalhão?
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O Governo aprovou 14 contratos mineiros num só dia.
Catorze contratos, assinados no final do mandato do Governo, assinados contra
as populações e os interesses ambientais do país.
(…)
[O] decreto-lei do Governo, dá direitos a multinacionais da
mineração ao mesmo tempo que retira direitos às populações.
(…)
A mão
do Governo serviu para manter a porta aberta às mesmas políticas que vinham do
passado e cujos erros temos pago caro.
(…)
Em todas estas situações foi o interesse económico que mandou
mais alto, procurando calar o interesse nacional e ambiental.
(…)
É a
típica legislação Matos Fernandes, ministro do Ambiente, bonita nas linhas
gerais mas cheia de alçapões por onde desaparece a defesa do interesse
ambiental.
(…)
Já o envolvimento das populações não é quando as populações
decidam, é quando a Direção-Geral entender que se justifique.
(…)
Por
outro lado, as minas obedecerão aos instrumentos de gestão territorial, mas
podem viver à margem deles se houver uma promessa de alteração futura.
(…)
Mas a cereja
no topo do bolo deste cinismo legislativo é a obrigação da distância mínima de
uma mina para aglomerados populacionais que, diz a lei, será de um quilómetro,
mas até pode ser menos do que isso.
(…)
Na verdade, esta legislação só é verde na propaganda.
(…)
Este desmazelo pelo património ambiental não é novo, é marca
da política ambiental de Matos Fernandes.
(…)
Entregar
as riquezas do país ao desbarato não é uma política de desenvolvimento
económico e de valorização de recursos, é uma rendição aos poderes das
multinacionais.
(…)
Seguir essas escolhas quando a urgência mundial é uma
resposta séria às alterações climáticas, é irresponsável.
(…)
É preciso mudar a lei das minas e isso ainda é possível antes
da dissolução do Parlamento.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
Infelizmente, Portugal é, no plano económico, mas também em várias áreas
do social ou da cultura, um país estagnado há já bastante tempo: apenas
pontualmente se tem conseguido sacudir essa estagnação.
(…)
A estabilidade é importante em
Democracia, se ancorada em programas de governação dirigidos à resolução dos
problemas das pessoas e da sociedade, nos diversos espaços e patamares da sua
organização e funcionamento.
(…)
A maioria política [PSD/CDS entre
2011 e 2015] foi utilizada para aprofundar e instituir desigualdades, para
sacrificar os mais frágeis, para fazer baixar o patamar de desenvolvimento do
país.
(…)
O baixo nível salarial, as contradições
atuais do "mercado de emprego" e a precariedade são a ponta do
iceberg, de um perfil da economia que alimenta a estagnação.
(…)
O Bloco Central faz de conta e convoca o
milagre da bazuca. É assim com a saúde, o ensino, a habitação.
[No Bloco Central] consideram a
atualização do SMN radical, mas o custo médio mensal de uma habitação de 80 m2
na região de Lisboa equivale a 85% do seu valor.
(…)
[O compromisso entre as forças de
esquerda em 2015] foi uma das soluções políticas mais estáveis da Democracia.
(…)
As suas debilidades foram surgindo em
resultado da falta de programa político consistente.
(…)
[No atual quadro], cabe às forças da
Esquerda a responsabilidade de se articularem na construção do programa
político e na definição da forma de governar que vença medos.
O abrigo e a reprodução do tom do
discurso de quinquilharia da extrema-direita foi uma das razões que levaram uma
parte do seu eleitorado (à semelhança de quase todo o eleitorado do CDS) a
preferir o original à cópia.
(…)
O acordo no Açores serviu que nem uma
luva ao CH, incapaz de se moderar, capaz de dizer uma coisa e o seu contrário
em curta sucessão, aqui encoberto pelas nuvens da autonomia regional.
(…)
[Agora] Rui Rio vê-se obrigado a assistir
à vitimização daqueles a quem deu a mão enquanto clamava por um PSD "ao
centro".
Portugal
é, em 2021, um dos países do mundo com maior proporção de trabalhadoras do
serviço doméstico. Mais de 109 mil pessoas fazem esse trabalho, 98% mulheres,
um terço migrantes.
(…)
No
serviço doméstico cruzam-se e ampliam-se todas as desigualdades: de classe, de
género, as que resultam da racialização e da divisão internacional do trabalho.
(…)
Soma-se,
à desigualdade social, uma verdadeira marginalização legislativa.
(…)
O
serviço doméstico é regulado por uma lei à parte, fora do Código do Trabalho,
com menos direitos em aspetos essenciais da regulação laboral (…) e um regime
de proteção social de segunda (…).
(…)
Só em
2004 ele [salário mínimo] passou a ser o mesmo que o dos trabalhadores em geral.
José Soeiro, “Expresso” Diário
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