(…)
Foi por causa dos acordos que [Cavaco] exigiu que ela [geringonça]
existiu além da vontade de Costa segurar o poder.
(…)
[Em entrevista] Costa deixou os entendimentos à esquerda
dependentes do enfraquecimento eleitoral de PCP e BE.
(…)
Conforme a sua conveniência, [Costa] usará as maçanetas das portas
da direita e da esquerda, sem fechaduras que o aprisionem a qualquer
compromisso.
(…)
[Para Rangel] Não havendo governo com o Chega, haverá acordos como
o dos Açores?
(…)
Rangel disse que o voto no PS era inútil, porque estavam
destruídas as condições de governabilidade.
(…)
E, ao contrário de Rangel à direita, [o PS] ainda não excluiu
liminarmente entendimentos à sua esquerda.
(…)
O BE já disse que exigirá um acordo escrito, como em 2015, sem
fazer isso depender da mudança de liderança no PS, como Costa inventou.
(…)
Se [o Bloco] defende acordos para reverter a lei laboral da
troika, como em Espanha, tem de aceitar uma ‘geringonça’ à espanhola. O PCP
também.
(…)
E o PAN, desde que lhe deem um ministério, tanto apoia PS como PSD.
(…)
A estabilidade não é um valor político por si só. É um instrumento
ao serviço de valores políticos.
(…)
E a maioria absoluta não só é improvável como, para quem se lembra
de Cavaco e Sócrates, deve ser evitada.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Em 27 países [na Europa], há de tudo um pouco: coligações,
executivos maioritários e até coligações entre coligações.
(…)
No momento atual, há 17 Estados-membros governados por coligações.
Esta é a norma.
(…)
Atualmente, as maiorias absolutas monocolores só existem em países
com sistemas eleitorais maioritários (França), com bónus maioritário (Grécia)
ou onde reina o bipartidarismo (Malta).
(…)
Na Europa de hoje, não há nenhuma maioria absoluta em países com
sistemas eleitorais proporcionais, como o português.
(…)
A Europa política é diversa, à esquerda e à direita dominada por
coligações e, excecionalmente, por governos de maioria absoluta ou minoritários.
(…)
[É um erro pensar que, depois de 30 de Janeiro] é viável repetir
um governo sem maioria, sem coligação e sem acordo parlamentar.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
Faltam
profissionais ao Serviço Nacional de Saúde. É um facto indesmentível e
mensurável no dia a dia dos utentes e dos profissionais do SNS.
(…)
São
carências que têm consequências: serviços de urgência que encerram por
dificuldade em fazer escalas, especialidades com longuíssimas listas para
consulta e cirurgia.
(…)
São
disso exemplo os inadmissíveis 908 dias de espera para uma consulta de
ginecologia em Faro ou os mais de mil dias para uma consulta de cardiologia na
Guarda.
(…)
Em
2020, o SNS pagou mais de 300 milhões de euros em horas extraordinárias e 130 milhões
com empresas e prestadores de serviços.
(…)
Já nos cuidados de saúde primários tem
aumentado o número de utentes sem médico de família.
(…)
[O PS e o Governo aceitam] que é
uma fatalidade o SNS ficar à míngua, os médicos de família não serem para todos
os utentes, os hospitais não conseguirem completar escalas, os blocos
operatórios não poderem funcionar.
(…)
Apenas metade dos médicos inscritos na Ordem
estão efetivamente a trabalhar no SNS.
(…)
O
problema principal é que o SNS não está a conseguir atrair médicos, nem sequer
está a conseguir fixar todos aqueles que forma.
(…)
Todos os anos são centenas de médicos que se
vão embora [do SNS].
(…)
Por
isso é que, em vez de encolher os ombros, se deve ter medidas para melhorar
condições de trabalho dos médicos e de outros profissionais de saúde.
(…)
Confrontados
com o falhanço da estratégia do imobilismo apenas conseguem repetir “não há
médicos para contratar”, um lamento falso e que defrauda as pessoas e o SNS.
Moisés Ferreira, “Público” (sem link)
É demagógico invocar essas clivagens
[político-ideológicas entre o PS e os partidos à sua esquerda] a propósito da
negociação para este Orçamento do Estado.
(…)
Relativamente
ao Orçamento deste ano, aliás, as exigências do BE e do PCP foram bem
explicitadas e nada tinham a ver com o abandono da União Europeia, da NATO ou o
deixarmos de viver num regime capitalista.
(…)
Pelo
contrário, eram propostas muito concretas, defensoras dos direitos laborais,
reforçadoras do Serviço Nacional de Saúde e da Segurança Social.
(…)
[Se a melhoria de uma série de condições de vida da
maioria da população] é incompatível com o capitalismo e com as
regras da União Europeia, então, teríamos que dar razão àqueles que denunciam a
falência do capitalismo como modelo produtor de bem-estar.
(…)
A
verdade é que nenhuma das propostas apresentadas, quer pelo PCP, quer pelo BE,
para a aprovação deste Orçamento de Estado inviabilizam o regime capitalista ou
prejudicam o crescimento económico.
(…)
Muito
pelo contrário, as políticas que trazem segurança laboral e rendimentos
acrescidos às pessoas são políticas potenciadoras do consumo e da natalidade,
logo, da procura numa economia de mercado e da sustentabilidade da segurança
social.
(…)
[Portugal] quer ser um capitalismo
indecente dos baixos salários, longas cargas laborais, inexistência de
protecção no emprego, de exploração sistémica e inimigo da família?
(…)
Medidas
como os fortes aumentos do salário mínimo (…), o combate à precariedade ou a
diminuição do horário de trabalho são tudo medidas necessárias para irmos no
bom caminho.
Gabriel Leite Mota, “Público” (sem link)
[Bastou que se aliviassem um pouco as
restrições relativamente à pandemia e eis que] os interesses próprios
voltam a impor-se e o outro desaparece das nossas preocupações.
(…)
A dita
civilização volta a ‘incivilizar-se’ e quem tem a vacina tem tudo, quem não tem
a vacina que se dane.
(…)
E nem todos os mecanismos de solidariedade do
mundo conseguem funcionar sem vontade política ou pressão social.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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