(…)
Se subir muito o salário de um gestor isso faz aumentar o
salário médio sem que subam os outros salários.
(…)
[O salário mínimo e os salários da administração pública]
estão neste momento a perder valor real porque a inflação os consome.
(…)
Se debatemos o salário real, é impossível fazê-lo sem ter em
conta três aspetos: a inflação, as desigualdades salariais e a lei laboral.
(…)
O aumento de 0,9% para a administração pública e a recusa de
um aumento intercalar do salário mínimo significa empobrecimento, aumento da
desigualdade e menor peso dos salários no PIB.
(…)
Sobre desigualdades salariais, elas têm vindo a aumentar e a
pandemia agravou o problema.
(…)
A proposta de criar leques salariais de referência, medida
que tem sido discutida em vários países, continua a ser um tabu por cá.
(…)
Sobre a lei do trabalho, as alterações de 2012 que foram
responsáveis por uma imensa transferência de rendimento do trabalho para o
capital permanecem nos seus aspetos essenciais.
(…)
Mas que agenda para a dignidade do trabalho é esta em que não
se mexe em normas aviltantes.
(…)
[Que agenda para a dignidade do trabalho é esta que]
continua a permitir que haja convenções coletivas (…) com conteúdos piores que
a lei geral?
(…)
[Osrendimentos dignos pelo trabalho prestado] não
surgem em resultado de proclamações ou de desejos, mas de escolhas e de
decisões concretas que o Governo, infelizmente, tem vindo a rejeitar.
José Soeiro, “Expresso” online
Como seria de esperar, o efeito da investida comunicacional
de Cavaco Silva dissipou-se como trovoada de verão.
(…)
Já passou muito tempo e não se pode buscar a felicidade
futura no conjurar do passado.
(…)
O entusiasmo da direita por estas palavras [de Cavaco], ou
pelo menos de alguns dos seus ideólogos mais pesados, (…), deve ter do mesmo
modo confortado a alma do governo.
(…)
Viver no passado pode ser um divertimento, mas um programa
político é que não é.
(…)
É precisamente o fracasso desta operação cavaquista que
constitui a ameaça para Costa, pois, assim sendo, tudo é demasiado fácil para o
seu governo.
(…)
Cria uma atmosfera de inexpugnabilidade que gera
autocontentamento e ilusão do lado do governo.
(…)
Não é só a maioria absoluta que conforta [Costa], é ainda a
perceção de que está a ganhar campo à direita.
(…)
Ao ouvir Cavaco Silva, Costa confirmou o que já sabia: esta é
mesmo a direita de que gosta e que tão bem o serve.
Francisco Louçã, “Expresso” online
A
História faz-se muitos anos depois de alguém morrer, mas Cavaco insiste em
ajudar o seu curso para o que lhe interessa, contrastando com a saudável
atitude de distanciamento de manifestações públicas de Ramalho Eanes e Jorge
Sampaio, o que melhor quadra a um ex-chefe de Estado.
(…)
Sabemos
que Cavaco nunca ultrapassou um certo complexo de inferioridade devido às suas
origens (…) e, ao que se diz, à circunstância de o seu leque de interesses
culturais ser relativamente limitado.
(…)
Creio que é esse mesmo indisfarçado complexo que, volta e
meia, o põe em bicos de pés.
(…)
[Enquanto
governante] não apostou no essencial: o capital humano, o que é tão mais
curioso quanto ele próprio o fez na sua carreira profissional.
(…)
Interessante
mesmo era que Cavaco, retirado da política activa, se dedicasse a causas que
contribuíssem para o bem-estar dos seus concidadãos.
(…)
Assim,
cumpre o papel daquele velho do Restelo que, volta e meia, aparece e lembra que
está tudo mal e que no tempo dele é que era bom, ainda por cima com ar
sobranceiro que, uma vez mais, esconde o complexo de inferioridade.
André Lamas Leite, “Público” (sem link)
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