quarta-feira, 8 de junho de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (06)

 
Mesmo sendo o “salário médio” um indicador melindroso num país de grandes desigualdades (…), o que surpreende é que o primeiro-ministro faça esta exortação [subida de salários] a outros ao mesmo tempo que rejeita fazer a sua parte.

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Se subir muito o salário de um gestor isso faz aumentar o salário médio sem que subam os outros salários.

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[O salário mínimo e os salários da administração pública] estão neste momento a perder valor real porque a inflação os consome.

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Se debatemos o salário real, é impossível fazê-lo sem ter em conta três aspetos: a inflação, as desigualdades salariais e a lei laboral.

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O aumento de 0,9% para a administração pública e a recusa de um aumento intercalar do salário mínimo significa empobrecimento, aumento da desigualdade e menor peso dos salários no PIB.

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Sobre desigualdades salariais, elas têm vindo a aumentar e a pandemia agravou o problema.

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A proposta de criar leques salariais de referência, medida que tem sido discutida em vários países, continua a ser um tabu por cá.

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Sobre a lei do trabalho, as alterações de 2012 que foram responsáveis por uma imensa transferência de rendimento do trabalho para o capital permanecem nos seus aspetos essenciais.

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Mas que agenda para a dignidade do trabalho é esta em que não se mexe em normas aviltantes.

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[Que agenda para a dignidade do trabalho é esta que] continua a permitir que haja convenções coletivas (…) com conteúdos piores que a lei geral?

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[Osrendimentos dignos pelo trabalho prestado] não surgem em resultado de proclamações ou de desejos, mas de escolhas e de decisões concretas que o Governo, infelizmente, tem vindo a rejeitar.

José Soeiro, “Expresso” online

 

Como seria de esperar, o efeito da investida comunicacional de Cavaco Silva dissipou-se como trovoada de verão.

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Já passou muito tempo e não se pode buscar a felicidade futura no conjurar do passado.

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O entusiasmo da direita por estas palavras [de Cavaco], ou pelo menos de alguns dos seus ideólogos mais pesados, (…), deve ter do mesmo modo confortado a alma do governo.

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Viver no passado pode ser um divertimento, mas um programa político é que não é.

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É precisamente o fracasso desta operação cavaquista que constitui a ameaça para Costa, pois, assim sendo, tudo é demasiado fácil para o seu governo.

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Cria uma atmosfera de inexpugnabilidade que gera autocontentamento e ilusão do lado do governo.

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Não é só a maioria absoluta que conforta [Costa], é ainda a perceção de que está a ganhar campo à direita.

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Ao ouvir Cavaco Silva, Costa confirmou o que já sabia: esta é mesmo a direita de que gosta e que tão bem o serve. 

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

A História faz-se muitos anos depois de alguém morrer, mas Cavaco insiste em ajudar o seu curso para o que lhe interessa, contrastando com a saudável atitude de distanciamento de manifestações públicas de Ramalho Eanes e Jorge Sampaio, o que melhor quadra a um ex-chefe de Estado.

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Sabemos que Cavaco nunca ultrapassou um certo complexo de inferioridade devido às suas origens (…) e, ao que se diz, à circunstância de o seu leque de interesses culturais ser relativamente limitado.

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Creio que é esse mesmo indisfarçado complexo que, volta e meia, o põe em bicos de pés.

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[Enquanto governante] não apostou no essencial: o capital humano, o que é tão mais curioso quanto ele próprio o fez na sua carreira profissional.

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Interessante mesmo era que Cavaco, retirado da política activa, se dedicasse a causas que contribuíssem para o bem-estar dos seus concidadãos.

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Assim, cumpre o papel daquele velho do Restelo que, volta e meia, aparece e lembra que está tudo mal e que no tempo dele é que era bom, ainda por cima com ar sobranceiro que, uma vez mais, esconde o complexo de inferioridade.

André Lamas Leite, “Público” (sem link)


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