sexta-feira, 3 de junho de 2022

CITAÇÕES

 
Houve dois tipos de argumentos a favor da nomeação [de Almeida Costa para o Constitucional], ambos expressos com uma euforia reveladora.

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O primeiro é que seria posta em causa a independência do tribunal se a sua ala PSD não tivesse o direito irrestrito de impor qualquer candidatura. 

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A composição do tribunal é votada pelo Parlamento, um órgão político, e as cooptações subsequentes resultam sempre de acordo, mobilizando uma maioria interpartidária.

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Tudo aqui é político e os juízes nomeados pelos partidos têm tido, em regra geral, o cuidado de escolher juristas de mérito reconhecido.

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[O segundo argumento] é o que afirma que falta fundamento à oposição àquela escolha.

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O que é dito não é que o homem tenha mudado de opinião.

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O que nos é garantido é que essa opinião foi — e será agora — razoável.

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Para uma parte da direita (…) o referendo pela legalização do aborto e a lei que dele resultou são irreversíveis.

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[O que choca em Almeida Costa] é o programa da “averiguação prévia da ‘fenomenologia’ das gravidezes resultantes da violação”.

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Ou seja, o candidato acha que a violação pode não ser crime, dado que a mulher é cúmplice “em muitos casos”.

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Ora, a maioria das pessoas, de esquerda ou de direita, prefere a sensatez a um juiz que busque a culpa da mulher na sua violação.

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Foi a sensatez que venceu, mas ficamos a saber do que anda por aí à solta.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Batalhões de comentadores lançaram-se contra o homem [Kissinger], que ataca o Ocidente ao estender a mão a um acordo com Putin.

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Há nisto uma vingança cósmica. Kissinger foi, por décadas a fio, o expoente do cinismo majestático.

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Esta doutrina recomenda que os poderes imperiais se adaptem, pelo que não há nada de novo na frase recente de Kissinger.

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Como se acomodaram à ocupação da Crimeia e, depois dela, festejaram o negócio de vistos gold e o envio de fortunas da oligarquia putinesca para Londonegrado.

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[Agora] já não permitimos o “relativismo”, dizem os cardeais do relativismo.

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Kisssinger, o mestre da hipocrisis, limita-se a navegar nestas águas.

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Contra ele não vale a pena apelar à estupidez, como se tudo fosse simples e o crime fosse perceber os interesses que movem a guerra. 

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Zelensky exige a garantia da adesão à UE “sem mas”, e todos os relativistas que nos governam retorcem as frases para explicar que não há “mas” e também não há adesão.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Infelizmente, a tez de importância que a ANMP teve, desde a sua criação, tem vindo a desvanecer-se e é, agora, rosa-pálida, lendo o futuro nas folhas do chá.

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A subalternização da ANMP no processo de descentralização de competências do Estado para as autarquias é mais um capítulo na política de engodo que deseja que tudo corra mal na descentralização para que a regionalização não avance.

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A subdotação orçamental para a transferência definitiva e obrigatória de competências na área da Educação, negociada pelo Governo com a ANMP, é um escândalo.

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Este é o momento político do Governo valorizar a ANMP, não a condenando ao fraccionamento, à lógica de "guichet" e à rarefacção de poder.

Miguel Guedes, JN

 

Não é moderno, ou recente, o interesse pelo que se passa durante a mais importante diligência judicial [um julgamento]. 

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Quem está a ser julgado encontra-se à mercê de um entendimento, de outrem, dos factos que estão a ser avaliados e que lhe dizem respeito.

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No caso do processo Depp v. Heard mais razões de interesse existiam; a visibilidade de ambos e o tema. Tinha tudo para ser exemplar.

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Um julgamento de um caso de violência doméstica já tem, por si, a atenção da comunidade.

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Foram séculos de silêncio e de martírio para as mulheres.

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Só que este caso, e sobretudo o seu desfecho, veio pôr a nu um perigo desconfortável: alguém pode assumir o papel de vítima sem o ser e, com essa encenação, fazer uma vítima verdadeira.

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Temos de refletir nisto e temos de tirar consequências.

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Afigura-se provável que também a Justiça ceda cada vez mais à tendência para a espetacularização. Nesta senda os juízes poderão ser heróis ou cafres.

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No espetáculo da administração da Justiça é a moralidade que importa e não as questões legais ou jurídicas.

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[Quem não acompanhou este julgamento] também se livrou do tormento de, no futuro e em situações semelhantes, cuidar de verificar qual das partes é de facto a vítima.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

Segundo as estatísticas existentes, haveria na União Europeia entre 750 mil e 1,3 milhões trabalhadores sexuais no final da década passada. Em Portugal, seriam entre 9700 e 28 mil.

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Em Portugal, segundo um inquérito de 2010 realizado a 1040 profissionais do sexo, da inciativa de uma série de ONG, 82% dos trabalhadores do sexo eram mulheres, 10% homens e 8% transgénero.

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A prostituição é legal e regulada em apenas em seis Estados-membros (Áustria, Alemanha, Grécia, Hungria, Letónia e Países Baixos); em outros seis, é ilegal.

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Nos restantes 15 Estados-membros, que incluem Portugal, a prostituição é legal, mas não é regulamentada.

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A proibição é o pior dos mundos. O medo atira as trabalhadoras sexuais para a clandestinidade e inibe-as de denunciarem abusos, facilitando a vida a quem as quer explorar e agredir.

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Não penalizar, não regulando é completamente hipócrita.

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Em Portugal é ilegal arrendar um apartamento a uma pessoa que venda serviços sexuais.

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Sem regulamentação da profissão, estas pessoas trabalham num vazio de direitos. 

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Não pagam segurança social e por isso não têm direito a proteção na doença e na reforma.

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Também não pagam impostos, não têm direito a regulamentação de segurança e higiene no trabalho nem a outros direitos laborais.

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Do lado dos partidos, as reações à discussão no Parlamento indicam alguma abertura do lado da IL, PSD, BE e PS para regulamentar a atividade [do exercício da prostituição], sem legalizar o lenocínio.

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O melhor argumento para a regulamentação é mesmo a justa reivindicação das várias associações de trabalhadoras e trabalhadores do sexo que têm lutado por essa causa.

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Devemos criminalizar, fiscalizar e aplicar penas pesadas a quem trafica escravos sexuais.

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As pessoas adultas que vendem sexo de forma consentida têm um direito elementar – o de decidirem por elas mesmas. Está na hora de o reconhecermos.

Susana Peralta, “Público” (sem link)


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