(…)
Veio então a expansão do comércio mundial, apoiada em instituições
“empoderadas” para promoverem os novos ventos (…) e uma vaga de liberalização
económica.
(…)
O mundo foi aplanado pelo sucesso da globalização, que continuou
nas décadas seguintes, em particular com o auge da financeirização.
(…)
Ideologicamente não parecia haver contraposição a esta glória,
Deng Xiao Ping era um dos seus arautos, triunfava sem contestação a TINA.
(…)
A terceira via levou a social-democracia para o redil liberal.
(…)
Quarenta anos depois da sua fulgurante reencarnação moderna, esta
globalização acabou.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
Se a invasão russa da Ucrânia alterou o tabuleiro mundial, a Casa
Branca foi a primeira a aperceber-se das novas potencialidades estratégicas.
(…)
A nova Administração [Biden] terá logo compreendido a
potencialidade política criada pela jogada de Putin: num ápice, podia
repetir-se o desgaste económico que tinha vitimado o regime de Moscovo durante
a Guerra Fria.
(…)
Ao mesmo tempo reagrupar a NATO, saída da sua humilhação da fuga
de Cabul e relançada como o cavaleiro branco do mundo ocidental.
(…)
Este caminho tem, no entanto, um preço, que é o fim da
globalização e, em consequência, impõe a partição do mundo em duas esferas de
influência.
(…)
O que está em marcha tem como objetivo conduzir a sistemas
financeiros separados, a comércio reduzido, a internets distintas e a ameaças
militares em crescendo.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
A China tem já um PIB em paridades de poder de compra superior ao
dos EUA.
(…)
A China tem 20 anos de crescimento, multiplicou as exportações
para os EUA por 125.
(…)
O consumo norte-americano depende hoje da indústria chinesa.
(…)
E Jinping concluiu, como seria de esperar, que esta correnteza lhe
permite passar de uma potência regional para uma força mundial.
(…)
Nas últimas duas semanas, [o secretário-geral da NATO]
afirmou duas vezes que a China é o adversário a ter em conta e que o seu apoio
à Rússia define o conflito futuro.
(…)
Ora, a China, para ser bem sucedida nesta disputa, precisa de
tempo.
(…)
Estamos, portanto, numa corrida contra o tempo, o que os seus
adversários sabem melhor do que ninguém.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
O reaparecimento mediático de Cavaco Silva em dose dupla, texto e
entrevista televisiva, reforçou todas as controvérsias que não permitem ao PSD
assumir o conforto de nenhum legado histórico dos seus líderes desde Sá
Carneiro.
(…)
O drama adensa-se quando o PSD procura referências para apresentar ao
país, e só encontra Cavaco Silva-Passos Coelho como cartões de visita e Durão
Barroso-Santana Lopes como cartas de rejeição.
(…)
Qualquer reaparição de Cavaco Silva a
querer impor a sua relevância ao país relembra-nos porque continua a ser o
presidente mais impopular de sempre
(…)
Cavaco teima em falar para o país, mas
não quer diálogo com Portugal porque não o entende. O legado de Cavaco Silva é
a amargura.
(…)
Quando a motivação maior para escrever um
texto nasce de uma "revanche", o ponto de partida é, desde logo,
inaugurado por um mau princípio.
(…)
Tece críticas certeiras à incompreensível
demora do processo de transição interna de poder no PSD, não resistindo a
tentar humilhar Rui Rio de uma forma pouco digna.
(…)
O eterno ajuste de contas do
ressentimento e azedume. É este o papel que Cavaco Silva continua a escolher
para impor aos portugueses o seu legado na História.
Ainda
no mês passado veio a público que o Tribunal da Relação de Lisboa não
considerou racistas as publicações de Mário Machado no Twitter quando era
dirigente do movimento NOS.
(…)
De
mais decisões judiciais poderíamos falar. Mesmo a exemplar decisão no processo movido
pela família Coxi, contra André Ventura e contra o partido Chega, se
absteve de considerar discriminatória em função da cor, ou seja, racista, a
conduta do então candidato presidencial.
(…)
A lei portuguesa, e falo da lei ordinária,
trata o racismo como sendo de extrema gravidade.
(…)
A
título exemplificativo, mas deverá ser mesmo o melhor exemplo, se um partido
político for considerado racista deverá ser extinto. É o que consta na Lei dos
Partidos.
(…)
Mas de
que serve esse reconhecimento legislativo se é
tão difícil para os tribunais portugueses considerarem racista determinado
comportamento, pessoa ou organização?
(…)
Os
portugueses sabem que Mário Machado é racista e que partilha publicações e
conteúdos dessa natureza. O próprio não esconde o seu ideário.
(…)
Na
luta antirracista, convivemos ainda com as mais grotescas e abjetas
manifestações de racismo na vida pública e política. E elas passam incólumes.
(…)
Acontece
que temos um partido que [difunde mensagens de conteúdo racista]; um partido
que convocou uma
manifestação com o mote “Portugal não é racista” a seguir ao
homicídio de Bruno Candé, um partido que defendeu o confinamento
de ciganos durante a pandemia.
(…)
O partido Chega incita efetivamente ao ódio
racial.
(…)
Mais: ouvimos correntemente comentadores,
políticos e analistas falar do racismo do partido. Só que nada acontece.
(…)
Como terá surgido esta ideia de que somos
obrigados a tolerar isto?
(…)
Não podemos continuar a aceitar que um partido
que perfilha um ideário que é racista viva entre nós.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
A linguagem inclusiva é importante, mas
apresentá-la como frente prioritária ou única do movimento antirracista é uma
caricatura completa.
(…)
Não basta combater os racistas “energúmenos” (e
os mais polidos, já agora!), o racismo tem dimensões estruturais e
institucionais.
(…)
[Esta semana, como já outros tinham feito a
ECRI afirma] – que o contexto da
pandemia reforçou
o racismo e a discriminação; que é preciso combater o racismo nas forças
policiais e ensinar nas escolas aquilo que foi a violência colonial.
(…)
Esta é
também a semana em que o Ministério Público pede a absolvição de seis dos sete
arguidos no
caso da morte de Luís Giovani, brutalmente assassinado à pancada, e em que
nos aproximamos dos 27 anos do hediondo assassinato de Alcindo Monteiro.
(…)
Não
falta material para parodiar em torno do racismo à portuguesa e, acima de tudo,
da sua negação, mas se calhar não se sabe fazê-lo “com graça”.
Cristina Roldão, “Público” (sem link)
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