(…)
É
difícil imaginar uma negociação com quem não deixa claro os seus objetivos, por
mais indecentes que sejam.
(…)
Do
lado da Ucrânia, à medida que se sucedem os crimes de guerra, torna-se mais
difícil negociar.
(…)
A
alternativa é ele [Putin] cair, o que põe a fasquia tão alta que esta guerra se
eternizaria.
(…)
[Os
EUA] são, graças aos crimes de Putin, os ganhadores desta guerra.
(…)
Somos
adultos e sabemos que os EUA marcam o ritmo das decisões em Kiev.
(…)
É no
que chocou que [Kissinger] tem razão: é provável que esta guerra acabe com
perda negociada de território.
(…)
Suspeito
que as justas sanções para secar o financiamento do esforço de guerra russo
venham, no seu efeito boomerang, a desgastar mais depressa as nossas
democracias do que a ditadura de Putin.
(…)
Haverá
um momento que as democracias que querem salvar a Ucrânia se quererão salvar a
si mesmas.
(…)
Putin
usa a fome mundial como chantagem para deixarmos cair as sanções.
(…)
A
crise alimentar arrastará centenas de milhões para a tragédia.
(…)
Por
causa da guerra, poderemos ter, nos próximos seis meses, mais 243 milhões de
pessoas a enfrentarem insegurança alimentar, mais 6,9 milhões em risco de vida
por fome e mais 201 milhões em pobreza extrema.
(…)
A
Arábia Saudita, aliada do Ocidente e beneficiária do fim da compra de petróleo
à Rússia, alimenta há anos uma guerra no Iémen.
(…)
Por
causa dela morreram 233 mil pessoas, mais de 10 mil crianças.
(…)
Como
explicamos aos iemenitas que passarão ainda mais fome em nome da nossa
segurança?
(…)
E
sabem que nunca faríamos por eles o que estamos a fazer pela Ucrânia.
(…)
E não
lhes podemos exigir sacrifícios que nunca fizemos por eles.
(…)
A
pergunta brutal que nos podemos vir a fazer é: quantos milhões de vidas no
mundo vale o Donbas?
(…)
Brevemente
estaremos perante dilemas morais que tenderão a agravar-se com o prolongamento
da guerra.
(…)
O
risco é a justiça que desejamos deixar um devastador rasto de morte pelo
caminho.
Bruxelas
revia em alta o crescimento económico português para este ano muitos pontos
acima do previsto.
(…)
A
outra notícia foram as declarações de novos residentes norte-americanos a
elogiarem Portugal como um eldorado dos preços baixos.
(…)
O que
liga as duas notícias é o chamado ‘turismo internacional’.
(…)
Aquelas
duas pequenas unidades noticiosas têm implicações graves.
(…)
O país
que se vê expulso das suas cidades, arredado dos seus patrimónios, penalizado
pela emigração de jovens qualificados (…), não pode deixar de se sentir
desrespeitado e humilhado.
(…)
Detrás
desta omnipresença do excitante turismo em recuperação internacional,
esconde-se também uma cadeia de danos duradouros e muitas vezes irreversíveis.
(…)
[O
país tem-se] abstido de pensar e de decidir estrategicamente o turismo que quer
e o que deve ter.
(…)
A
culpa da situação que se esconde por trás de tão entusiasmantes notícias do mês
de maio está na vergonhosa abstenção de fazer política onde ela é necessária.
(…)
O país
do glorioso crescimento de 5,8% previsto para 2022 e vendido em saldos ao
turismo internacional, sabe bem o preço que esses números lhe custam.
(…)
O
dinheiro não compra tudo, mas anda a comprar coisas que não deveriam vender-se:
o nosso futuro, por exemplo.
O Governo aprovou esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, uma
proposta de lei que integra as alterações à legislação laboral identificadas na
Agenda do Trabalho Digno.
(…)
O debate daquelas alterações legislativas
no sentido de se valorizar o trabalho, os salários e as condições de vida dos
trabalhadores, desde logo dos mais jovens é um dos debates políticos
prioritários.
(…)
As grandes reformas laborais implicam
avaliação efetiva dos impactos que as leis ainda em vigor produziram.
(…)
Elas exigem reflexão, estudo, debates.
(…)
Este envolvimento não está criado e não
se perspetiva fácil.
(…)
Na última grande reforma laboral, com a
entrada em vigor do Código de Trabalho em 2003 (…) impuseram-se
prestações de trabalho cada vez mais precárias e penosas, e alterações
legislativas a consagrá-las.
(…)
Não se procedeu a um balanço
sistematizado e profundo destes 20 anos - os Livros Verdes não tratam todas as
dimensões e impactos a considerar.
(…)
Em várias das 70 medidas que estarão na
proposta de lei enviada à AR há mexidas cirúrgicas, em regra, em desfavor dos
trabalhadores.
Os direitos humanos são de todas as pessoas e foram definidos
por representantes do mundo inteiro.
(…)
Os direitos
humanos ligados aos direitos civis e políticos, às liberdades, por vezes nem
exigem ação dos governos. Exigem mesmo o contrário.
(…)
[Falar de direitos humanos na China] é não
esquecer a perseguição a opositores e defensores de direitos humanos, ou a pena
de morte que permanece no país.
(…)
Bachelet
[alta-comissária para os Direitos Humanos da
ONU] deve pedir ao governo chinês que desmantele os campos de reeducação
e trabalhos forçados, liberte as pessoas arbitrariamente detidas ali e nas
prisões e que acabe com os ataques sistemáticos contra minorias muçulmanas em
Xinjiang.
(…)
A
comunidade internacional não pode ficar indiferente e tem de perceber que os
negócios com a China perpetuam abusos de direitos humanos.
Pedro A. Neto, “Público” (sem link)
A
questão da eutanásia é da mesma natureza da do aborto, e compreende posições de
carácter religioso, de ética profissional, de direitos humanos, de liberdade
individual no mais profundo sentido.
(…)
Há
pouca coisa mais íntima e “pessoal” do que a morte. É também por isso uma
questão na qual a liberdade individual, a escolha de cada um na sua solidão
final, tem um valor supremo.
(…)
É um
absurdo pensar que não exista um direito individual a não sofrer, a liberdade
de acabar com a dor ou com a extrema degradação física, quando nenhum outro
método existe para as mitigar.
(…)
Eu
votaria a lei da eutanásia, mesmo mal formulada e imperfeita, porque, tanto
quanto possível, quero ser dono da minha morte.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário