(…)
Mas [o SNS] foi de tal forma posto à prova que todas as suas
fragilidades vieram ao de cima.
(…)
As empresas que fornecem estes serviços [externos], muitas
delas criadas por médicos saídos do SNS, tendem a falhar quando todo o sistema
passa a depender delas.
(…)
É preciso dar autonomia para os hospitais contratarem e aumentar
de forma permanente e muito substancial os médicos que escolham a exclusividade.
(…)
Deixar o SNS morrer porque reforça-lo (e à escola pública, e
à segurança social) é “preconceito ideológico”.
(…)
A demissão de Marta Temido, num sistema que está a demonstrar
brutais insuficiências, acaba por acontecer num caso em que ele até não falhou.
(…)
Falhas é quando a rede não pode responder. Não era o caso.
(…)
Seja como for, no que dependia do sistema, tudo esteve
preparado.
(…)
Mas quem tem memória há de se lembrar dos nascimentos em
ambulâncias que deixaram de ser notícia no dia em que um ministro contestado
caiu.
(…)
Se há área onde se movem interesses poderosos e muito
dinheiro é esta.
(…)
O seu pecado, e é por causa dele que a sua demissão era
inevitável, foi não ter aproveitado a força política que ganhou durante a pandemia.
(…)
Marta Temido deixou-se inebriar pelo galanteio politicamente
vazio de António Costa.
(…)
[Marta Temido] não fez o mais urgente: exigir, depois da
brutal pressão da pandemia, apoios absolutamente excecionais para a recuperação
de um sistema que já acumulara dificuldades.
(…)
Os agradecimentos de vários dirigentes do PS pelos serviços
prestados, sem uma critica à falta de apoio dos últimos meses, são de um
cinismo revoltante.
(…)
[O substituto] sobreviverá se ceder sempre a quem tenha poder
de pressão.
(…)
Foi Costa que criou condições para esta demissão.
(…)
Ambos [PCP d Bloco] avisaram que depois da Covid o sistema
iria colapsar.
(…)
Mas o tempo deu razão aos dois partidos: de nada serve abrir
vagas para mais médicos que inevitavelmente ficariam vazias.
(…)
Marta Temido foi um cordeiro sacrificial e o isolamento para
a queda seguiu o padrão habitual de Costa.
(…)
Só a cedência a esses interesses [de sempre] compra a paz
junto dos lóbis privado e corporativo mais fortes neste país.
(…)
António Costa só quer poucas ondas.
(…)
Estes quatro anos são para preparar outros voos. Os seus. O
resto vai-se gerindo. Sem lealdades, como exigem os grandes voos.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(sem link)
São as políticas que aplicam [o conhecimento] que promovem
essa dignidade [à vida].
(…)
É a utilização que dele [conhecimento] se faz que promove
justiça ou desigualdade, bem-estar ou indignação, harmonia ou conflito.
(…)
A secretária de Estado Patrícia Gaspar invocou um
algoritmo para concluir que a Serra da Estrela devia
ter ardido mais.
(…)
Em
segunda versão cheia de incongruências, [João Costa] adoçou o disparate inicial,
sem que tenha deixado de corporizar mais um menoscabo pelo ensino do Português.
(…)
A
carência [de professores] não deve abrir portas à diminuição da exigência,
porque existem formas de a superar sem baixar a qualidade da docência.
(…)
Estamos a assistir ao gradual esboroar da qualidade do
sistema de ensino.
(…)
Estamos a pagar o preço de reformas que não se fizeram e de
estratégias mal pensadas.
(…)
Os próprios sindicatos assemelham-se a laboratórios de
conformismo.
(…)
Muitos [professores] estão desesperançados e saber como
reagrupá-los para operar a mudança é o desafio do momento.
(…)
A decidir, temos um ministro insuportavelmente doutrinário do
ponto de vista pedagógico.
(…)
Um
ministro perito em ignorar a realidade para criar expectativas, cujo conceito
de inclusão foi criar uma escola de exigências mínimas, obrigatória para todos,
aprendam ou não.
Santana Castilho, “Público” (sem link)
[Marta Temido] foi amplamente aplaudida durante a pandemia e
chegou a ser considerada uma potencial
sucessora de António Costa.
(…)
A sua popularidade atingiu um pico — linguagem de pandemia — que vimos ser prontamente capitalizado pelo
PS.
(…)
Depois
da tempestade costuma vir a bonança, mas é um clássico que quem tem habilidade
para brilhar durante a tempestade não tem talento para a bonança.
(…)
A pasta da saúde, no regresso à normalidade, revelou-se uma
verdadeira granada.
(…)
Pela
oposição à esquerda, foi vista como não tendo força para impor a sua vontade às
limitações orçamentais de António Costa e sobretudo à visão ideológica de um PS
liberal.
(…)
Num
governo de maioria absoluta, não foi certamente a
direita e também não foi a oposição à esquerda que a fizeram cair.
(…)
Morreu uma grávida.
(…)
Mas
será que esta morte se deveu a uma falha do sistema e, por isso, a uma falha
atribuível a Marta Temido?
(…)
Houve um problema, e que terminou numa tragédia, mas ele não
parece resultar de uma falha do SNS enquanto sistema.
(…)
Também neste final ninguém terá sentido a mão do
primeiro-ministro a segurar Marta Temido.
(…)
[Marta Temido] apresentou demissão na sequência de um caso,
relativamente ao qual não tem “culpa”.
(…)
O
tratamento jornalístico que deverá ser dado a estes factos é outra coisa: é
obrigatório que, nesse âmbito, se investigue a morte da mulher grávida.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)