(…)
O
preço médio de uma casa na Área Metropolitana de Lisboa aumentou 144% entre
2000 e 2019. No Grande Porto duplicou.
(…)
E só
nos últimos três anos cresceu ainda mais 30% no distrito de Lisboa e quase 40% no do Porto.
(…)
Quanto
ao salário médio, que tem de cobrir estes preços, não chegou a aumentar 50% desde 2000.
(…)
A
brutal crise no acesso à habitação tem um efeito transversal.
(…)
Há
anos que Lisboa tem falta de professores porque não se consegue viver na
capital. O mesmo acontece com polícias, enfermeiros e todo o tipo de
profissões.
(…)
É um
problema estrutural que exige soluções estruturais.
(…)
À
falta de vontade para regular instrumentos como os vistos gold, Alojamento
Local ou benefícios fiscais concedidos a estrangeiros endinheirados, junta-se a
falta de habitação pública.
(…)
Viena,
Amesterdão, Estocolmo ou Bruxelas têm entre 25% a mais de 40% de casas geridas
por programas sociais.
(…)
Lisboa
e Porto nem chegam aos 10%. No total do país, não passam de 2%.
(…)
Temos
portugueses com salários baixos e sem acesso aos benefícios fiscais reservados
para os estrangeiros qualificados a competir pelo acesso a um teto onde viver.
(…)
E o
problema é a ausência de políticas públicas que contrabalancem a pressão do
mercado global. Isto é um jogo viciado.
(…)
O
problema é estarmos a aquecer uma panela de pressão de um ressentimento social
que alimentará a xenofobia.
(…)
A
solução passa por mais Estado, essa heresia para os dogmas da moda.
(…)
O que
fazem tantos países europeus, despreocupados com o estigma das políticas
“socialistas”.
(…)
Mas
não está fácil vender por cá o que é óbvio em tanto lado.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Todas as dimensões da vida das pessoas/trabalhadores, e por consequência
das famílias, são atingidas negativamente [pela precariedade no trabalho].
(…)
Nos últimos 50 anos ocorreram mudanças
profundas na divisão social do trabalho.
(…)
Novas formas de organização e de
prestação do trabalho tiveram de ser consideradas.
(…)
Todavia, a precariedade, no fundamental,
não decorre de imperativos inerentes às complexidades daquelas mudanças.
(…)
Quanto à volatilidade do emprego,
repare-se que, quer no setor privado, quer no público, são imensos os postos de
trabalho permanentes por onde passam trabalhadores precários uns atrás dos
outros, anos a fio.
(…)
A precariedade no trabalho é, em grande
medida, um conjunto de mecanismos de sobre-exploração.
(…)
Enfraquecidas as representações coletivas
dos trabalhadores (…) O resultado é sempre pior retribuição do trabalho
e perda ampla de direitos e formações.
(…)
[A precariedade] faz parte dos
instrumentos mais requintados da "economia que mata".
(…)
[Moderno é] o Direito do Trabalho, que
tem por função primeira a proteção do elemento mais frágil na relação de
trabalho - o trabalhador - e não a de promover políticas económica e de emprego
neoliberal.
(…)
O Governo, se tem verdadeira preocupação
com os impactos da precariedade, enfoque o seu esforço na promoção da segurança
no emprego.
Foram
divulgados os resultados de um inquérito feito a 494 juízes portugueses sobre a
avaliação que fazem da sua independência individual ou de todo o sistema.
(…)
Mais
de um quarto dos inquiridos, 26%, acredita que, nos últimos três anos, juízes
portugueses aceitaram subornos ou outras formas de corrupção.
(…)
Outro
aspecto relevante é que 27% desses juízes consideram ter havido distribuição de
processos a juízes à revelia das regras ou dos procedimentos estabelecidos.
(…)
Os portugueses têm razões de sobra para desconfiar do sistema
judicial.
(…)
Os megaprocessos (…) a morosidade inexplicável
(…) a desigualdade no acesso à justiça (…) e, mais recentemente, casos
de corrupção envolvendo magistrados.
(…)
Só que este inquérito revela descrédito por parte de quem
está dentro do próprio sistema judicial.
(…)
O descrédito dos juízes inquiridos aponta para a falta da
qualidade fundamental de quem é magistrado judicial: a integridade.
(…)
O problema é agora público. E não desaparecerá, por magia, se
nada for feito.
(…)
Esta falta de confiança aniquila a que os próprios
portugueses pudessem ter.
(…)
[As pessoas] tomarem conhecimento destes factos e
esperar-se que esqueçam o assunto ou que convivam bem com este elefante na sala
é desrespeitoso.
(…)
Não se
pode apagar o passado. Casos de corrupção terão acontecido e a percepção que os
magistrados judiciais têm uns dos outros é preocupante.
(…)
O desprestígio da justiça e o dos juízes têm um peso
insustentável em democracia.
(…)
O
poder judicial é o menos escrutinado pelos mecanismos democráticos, mas isso
não o autoriza a virar costas às pessoas e ignorar as suas legítimas
inquietações.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Se a
população dos Estados Unidos está em declínio, a da China acendeu todas as
luzes de alarme e os números podem ser ainda piores do que as estatísticas oficiais
já mostram.
(…)
Depois da política de um filho por casal imposta no tempo de
Deng Xiaoping (…) o Governo chinês resolveu
fazer um plano multissectorial tão alargado quanto possível para “criar um
ambiente favorável ao matrimónio e à fertilidade”.
(…)
Em 2021, 11 das 31 regiões e províncias da China tiveram
crescimento negativo.
(…)
As mulheres chinesas em idade fértil mostram pouca vontade de
ter filhos.
(…)
Em vez
de pelo menos 2,1 filhos por mulher para que a população se mantenha estável, o
número anda em 1,3.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A
demografia pode jogar a favor das relações laborais porque menos fertilidade,
implica menos população em idade activa e menos mão-de-obra disponível para as
empresas contratarem.
(…)
A
ideia dos patrões de que podem ser só eles a definir o valor trabalho no
cálculo de custos devido à abundância de mão-de-obra, começa a ser contrariada
pela diminuição da fertilidade.
(…)
Nos
EUA, há uma tendência cada vez mais em voga de as pessoas deixarem as empresas
plantadas e não aparecerem quando deviam a começar a trabalhar.
(…)
Esse
declínio de oferta no mercado laboral já levou países a agilizarem as
burocracias para contratarem migrantes e a criar pacotes de incentivos que
permita atrair a mão-de-obra que falta.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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