sábado, 13 de agosto de 2022

CITAÇÕES

 
Desde 2015, o aumento do número de queixas [por discriminação racial] terá sido de 400%.

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O Governo mantém-se agora atrapalhadamente silencioso sobre a declaração do seu encarregado de negócios em Doha, Manuel Gomes Samuel, que explicou de forma desempoeirada como a melanina é vantajosa para os trabalhos duros de construção dos equipamentos para o Mundial de Futebol no Catar. 

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Parece que o diplomata não requer conhecimento sobre o assunto, basta-lhe a convicção e a naturalização da conclusão.

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Do salário mínimo pelos 250 euros, dos seis dias de trabalho por semana, dos dois anos de trabalho obrigatório, dos mortos em acidentes, disso nada constou.

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Na versão mais sofisticada [da resposta à afirmação do diplomata], não existe racismo estrutural, de modo que os dizeres do homem seriam um mero episódio a esquecer.

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E por aí ficaríamos se a questão não se levantasse vezes sem conta, suscitando linhas de defesa preocupadas.

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O Presidente, também não faz muito tempo, assegurou que as queixas tratam de casos isolados.

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A cumplicidade com os desmandos da FIFA e do Governo do Catar é pesada, tudo pelo espetáculo.

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E, já agora, em Odemira os imigrantes não vivem em condições diferentes dos do Catar nem o escândalo da revelação as alterou.

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O truque dos normalizadores é sugerir que o reconhecimento destas condições estruturais remeteria para uma culpa individualizada.

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No que há culpa individual é na declaração racista do diplomata, mas essa parece que é para esquecer.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

[O Governo decidiu] por despacho primo-ministerial, nem mais nem menos ele próprio, que o secretário de Estado da Energia passava a carimbar cada uma das faturas apresentadas a cada um dos serviços públicos pela Endesa.

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O édito é de 1 de agosto e logo dois dias depois o gabinete do primeiro-ministro explicou que a decisão estava decidida na base da certeza de que não mudava nada.

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Creio que ninguém perguntou para que servia então o documento se tudo ficava na mesma.

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O dito secretário de Estado teve o desplante de passar oito dias depois a missão para a entidade respetiva, sinal de franco desleixo em relação à determinação superior.

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O homem da Endesa tinha avisado o secretário de Estado de que ia referir o assunto, quem sabe até se deitar o número redondo, o aumento dos 40% no preço da eletricidade.

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Por mor das dúvidas, a empresa comunicou a todos os seus clientes que não mexia no preço até ao fim do ano.

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O Governo faz o que tem a certeza de ser inútil.

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A empresa deixa-nos adivinhar que a 1 de janeiro começa outra vida, e um e outra ficam depois à espera que nos esqueçamos do episódio. 

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Talvez o celibato e a abstinência sexual dos padres não ajudem, em alguns casos, a formar pessoas psicológica e moralmente saudáveis. 

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Porque tiveram os denunciantes, fossem vítimas, familiares ou outros padres, de lidar com a indiferença ou incompreensão das suas comunidades?

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Porque não se mobilizaram mais católicos para protegerem as crianças do abuso na sua própria Igreja?

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Em poucas [instituições] se tornou tão evidente um encobrimento tão generalizado, sistemático e ao mais alto nível. 

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Seguindo o padrão global, vários bispos portugueses no ativo são suspeitos de terem recebido denúncias claras, de as terem ignorado.

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Os abusadores são criminosos, talvez doentes. Mas os cúmplices do silenciamento, no topo da hierarquia, é que têm de responder publicamente.

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Não tem de responder perante os católicos, mas perante todos nós.

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Algumas das histórias que nos chegam têm décadas. 

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Porque a Igreja não tem o poder político, social e económico do passado, deixou de ser opaca a mozeta que encobria os ombros e os pecados de bispos e cardeais. 

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Para além de se entender com o julgamento dos tribunais e da opi­nião pública, a Igreja tem pela frente um desafio interno que ultrapassa os abusos sexuais. 

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Para recuperar a credibilidade, precisa de quebrar os laços de proteção clerical que alimentaram o monstro. 

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Não chega mudar as pessoas, é preciso mudar a Igreja. 

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[Este terramoto] resulta de séculos de clericalismo que desabam num tempo em que este poder bruto e implacável já não é tolerável.

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Não espanta que seja entre os católicos mais conservadores, (…), que surgem os discursos mais desculpabilizadores da hierarquia. 

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A moral sexual repressiva que defendem depende da cultura de ocultação, recalcamento e infelicidade onde medra toda a miséria moral.

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Preocupa-me que, no lugar da milenar Igreja Católica, cresçam algumas igrejas-empresa vendedoras de uma espiritualidade de autoajuda rápida e pragmática que tão bem casa com os novos tempos.

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Desejo, por isso, que este processo não enfraqueça mortalmente a Igreja. 

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

E é muito comum formar-se o consenso em torno da ideia de que todo o investimento estrangeiro é bem-vindo. Não!

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Os investimentos são bons ou maus em função do que deles resultar a favor de toda a população, das condições estruturais que ficam para o desenvolvimento do país, da qualificação e fixação de "recursos humanos" que cada investimento pode gerar.

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Portugal está prisioneiro de um baixo perfil de especialização da sua economia, num contexto marcado por uma inflação galopante e por mudanças geopolíticas que acentuam pressões dos países poderosos sobre os outros.

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Investimentos especulativos, ou em atividades de baixo potencial de melhoria de produtividade acabarão por tolher a nossa capacidade de mudança de rumo.

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É esta a realidade que estamos a viver.

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Vejamos o que se passa com o turismo, a hotelaria, a restauração e o imobiliário (com impactos nas políticas de habitação) onde temos hoje negócio a rodos, mas contradições gritantes a gerarem impactos negativos no nosso futuro coletivo.

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Os preços da restauração são para turistas, que não é a nossa condição do dia a dia.

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Tudo indica que [com a introdução dos vistos gold] estamos perante um lamaçal de negociatas promíscuas, não houve criação de emprego, a fuga aos impostos presume-se elevada e este processo contribui para a especulação imobiliária.

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Há que analisar com muita atenção o tipo de investimentos de que necessitamos e as condições em que eles nos podem ser vantajosos.

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A nossa localização geográfica não nos permite produções agrícolas com elevados consumos de água, nitratos e pesticidas. Contudo, é essa a via seguida no investimento na agricultura.

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[Não faltarão investimentos indesejados como aqueles que se colocam] apenas ao sabor dos grandes negócios propostos pelos potentados económicos e financeiros já instalados?

Carvalho da Silva, JN


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