(…)
Queira-se
ou não, a consolação é a pior condenação que se pode imaginar para uma tragédia.
(…)
Os
“colapsólogos” são então uma forma contemporânea destes apocalípticos
consoladores.
(…)
[Servigne]
retoma as lições dessa existência simples [das formigas] e propõe uma
alternativa para o tal colapso iminente, que seriam as cooperativas e aldeias,
com o regresso a redes de proximidade e de consumo limitado.
(…)
As
formigas com a sua notável instituição social, são também um exemplo de
obediência piramidal que pouca gente parece querer replicar.
(…)
Em 10
anos, malgrado as Conferências da ONU e as juras internacionais, a parte dos
combustíveis fósseis no mix da energia utilizada passou de 80,3% em 2009 para
80,2%.
(…)
O uso
anual do carvão só recuou em média 0,3% em 20 anos e agora voltou a crescer.
(…)
Só nos
últimos cinco anos o uso do gás natural aumentou 2,6% e o do petróleo 1,5%.
(…)
Portanto,
as emissões [de CO2] continuam a crescer, mesmo que cada ano se tornem mais
brutais os sinais da emergência climática.
(…)
As
energias renováveis não substituem as fósseis, limitando-se a responder a parte
do consumo que se vai ampliando.
(…)
O peso
político dos produtores de combustíveis fósseis tem-se avantajado, como se
verifica na UE com a viragem da guerra na Ucrânia e no abandono do diálogo
entre os EUA e a China para medidas energéticas responsáveis.
(…)
Com ou
sem colapso até 2030, temos pela frente calamidades sucessivas.
(…)
Para
que o aumento da temperatura média fique pelos 1,5°C, o que implicaria viver no
regime dos desastres atuais, seria necessária uma redução de CO2 de 59% até
2030 e de 100% até 2050.
(…)
Nada
disso parece politicamente acessível, tanto mais que metade das emissões são
geradas pelos 10% mais ricos, os que têm força para proteger o privilégio.
(…)
Mesmo
os [dirigentes políticos] mais vocais pelas medidas climáticas são os primeiros
a obedecer à lógica cumulativa do egoísmo fóssil.
(…)
Os
custos da transição climática exigem um gigantesco investimento público.
(…)
Os
colapsólogos partilham com todos os ambientalistas uma convincente ata de
acusação aos governos.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
À terceira, perante suspeitas de que nem
tudo terá decorrido na perfeição no processo eleitoral angolano, a UNITA não
deverá levantar (apesar de alguns assomos e vozes) a bandeira da fraude.
(…)
Por um lado, é difícil sustentar a tese
da fraude eleitoral quando a UNITA soma quase mais 435 mil votos e cerca do
dobro da percentagem do MPLA em Luanda.
(…)
Esta [é] uma realidade pública e
confirmada pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), duríssima para a história,
ego e representatividade do partido do Governo.
(…)
[Com resultados globais mais apertados]
qualquer acusação de fraude eleitoral provocaria, em alguns sectores da UNITA,
uma onda de protestos que dificilmente poderia ser controlada por Adalberto
Costa Júnior.
(…)
A nova maioria absoluta do MPLA governará
fragilizada por uma derrota esmagadora no centro nevrálgico do poder angolano e
inclusa numa Assembleia Nacional absolutamente bipolarizada.
(…)
Será tentador não promover mais
transparência, mantendo o anátema da falência da separação de poderes em Angola.
A perda de biodiversidade está na base dos problemas que afectam toda
a nossa estabilidade.
(…)
De
acordo com o último Fórum Económico Mundial, mais de metade do produto interno bruto (PIB) total do mundo
está altamente dependente do que a natureza oferece, com impactos na
produção, cadeias de fornecimento e mercados.
(…)
No entanto, assistimos a pressões internas e externas que nos
levam a virar costas.
(…)
Uma verdadeira economia circular devia ter por base o
conhecimento do funcionamento dos ecossistemas.
(…)
De
2017 até hoje pouco se aprendeu sobre o papel de como a gestão dos ecossistemas
e a decisão sobre os tipos de ecossistemas a preservar geram consequências que
podem ser fulcrais para a estabilidade da nossa paisagem.
(…)
A sociedade, profundamente antropocêntrica e urbana, sente-se
desresponsabilizada.
(…)
Estamos
a gerar sociedades semelhantes aos ecossistemas humanizados de produção: a
exploração de áreas extensas com uma só espécie
de forma clonal, herbáceas, frutícolas ou florestais, numa lógica linear de
economia.
(…)
[Há] uma realidade actual que ainda não é vista como novo
paradigma social e económico.
(…)
O
conhecimento transversal e holístico dos ecólogos permite transformar
conhecimento em planos de acção que, em conjunto com outros técnicos, podem ser
estruturantes e abrangentes.
(…)
[Os ecólogos] não
podem continuar inconformados e fechados perante a indiferença pública dos
verdadeiros riscos ambientais.
Maria Amélia Martins-Loução, “Público” (sem link)
Nesta
quarta-feira o presidente Zelensky pediu ao chefe da diplomacia portuguesa,
João Cravinho, a imposição de restrições à concessão de vistos a cidadãos russos.
(…)
Desde
fevereiro, não concedemos “vistos gold” a estes cidadãos, mas que se
mantém a concessão de vistos para estadas de curta duração.
(…)
O tema será discutido no próximo dia 31 em reunião dos
ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.
(…)
Bastaria
sabermos que existem dissidentes para acionarmos um travão no que diz respeito
ao tratamento do povo russo como um todo homogéneo e apoiante da invasão.
(…)
Como justificar a hostilização, ou pelo menos a
estigmatização, de um povo na sua globalidade?
(…)
Qual a fronteira entre uma medida dessa natureza e xenofobia?
(…)
Há aqui um teste à solidez dos valores que costumamos
apregoar.
(…)
Não
tem havido lugar para contextualizações ou quaisquer posições que não se
restrinjam à manifestação de apoio incondicional à Ucrânia e à condenação da
invasão russa.
(…)
A
indignação daqueles que são manifestamente radicais no apoio à Ucrânia dirige-se
a comentadores da guerra ou a quem manifesta posições relativamente a ela.
(…)
O
pedido do presidente Zelensky, de restrições à concessão de vistos, não mereceu
uma torrente de apoio público ou a exigência, junto do Governo português, para
que a ele aceda.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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