quarta-feira, 21 de setembro de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (21)

 
[No funeral de Isabel II] Até os cães da rainha se tornaram estrelas de televisão.

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A vertigem sugou pelo menos os países que se representam como Ocidente

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Esse tempo da monarquia britânica já morreu há muito. A agonia do Império tinha-se acelerado durante este reinado.

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Passados setenta anos, o que foi ficando disso é telenovela kitsch e com laivos de dramalhão.

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A família real, cujo poder é a exibição, é uma tragicomédia em cena e só a rainha, no seu silêncio esfíngico, parecia escapar a esta condenação.

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A ordem monárquica é não só um arcaísmo, como um barbarismo: não tem legitimidade nem valor constitucional democrático. 

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A legitimidade é nula, nenhuma Casa Real nasce de uma escolha popular consentida e todas foram impostas por guerras ancestrais, golpes palacianos ou, no melhor dos casos, escolhas de classe ou de casta aristocrática.

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Talvez quem lê estas linhas se lembre do que aprendemos, os reis reivindicavam a indicação divina e essa era a sua primeira fonte de legitimidade.

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Desaparecida a autoridade da palavra divina, o que fica é um marasmo de explicações trôpegas sobre a razão da monarquia.

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O impasse é por demais evidente: a ideia monárquica não pode reivindicar a democracia e tem de se situar para além da legitimidade democrática. 

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Uma ordem constitucional destas não pode determinar igualdade de direitos entre todos os cidadãos, dado que a recusa.

Se esta época está mesmo a acabar, seria uma grande notícia para o mundo.

Francisco Louçã, “Expresso” online (sem link)

 

Os estudantes, que antes do boom do turismo e dos investidores estrangeiros eram um bom negócio para alguns proprietários, contam-se agora entre as vítimas deste processo [de mercantilização do direito à habitação]. 

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A situação é desesperante para grande parte dos 21 mil alunos deslocados, de entre os 50 mil colocados este ano no Ensino Superior.

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O “mercado” tem outras prioridades: os turistas, que pagam ao dia e pagam bem; e os “nómadas digitais”, que podem pagar muito mais. 

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“Olho por olho, dente por dente", diz a porta-voz dos proprietários, mostrando como se exerce o poder numa economia de mercado.

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Mas a que propósito ficámos dependentes do mercado para cumprir um direito social básico? Aliás, dois: o direito à habitação e o direito à educação.

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[No imediato, o Governo não faz o que devia como por exemplo] limitar e retirar licenças do alojamento local, impedir legalmente que tantas casas tenham outro fim que não a habitação, adaptar espaços do Estado para acolher estudantes,…

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Falta regular a sério este setor [da habitação].

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Também neste domínio é preciso restringir o “livre funcionamento do mercado” e impor-lhe critérios de bem comum e de racionalidade.

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Deixar “o mercado funcionar” com as suas regras e atirar para as calendas as soluções estruturais é que é um verdadeiro desastre democrático.

José Soeiro, “Expresso” online

 

A não ser que viva numa bolha climatizada, já ninguém precisa que lhe expliquem que o dantesco futuro que nos anunciavam chegou.

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Primeiro serão os pobres dos países pobres, depois os pobres dos países ricos e só no fim, tarde demais, os ricos, que não têm país.

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[Guterres] lembrou que os lucros combinados das maiores empresas de energia a nível global aproximaram-se dos cem mil milhões de dólares no primeiro trimestre deste ano.

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Quem nos dera que os governos fossem sequer capazes de cobrar impostos a estas empresas para os canalizar para os seus próprios pobres. 

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[A prioridade do nosso Governo é] cortar em salários da Função Pública, pensões futuras e IRC a todas as empresas, sem qualquer critério.

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O mesmo António Guterres bem tentou que o mundo, olhando para ele, olhasse para a tragédia imensa que se abateu sobre o Paquistão.

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Na visita ao Paquistão, Guterres explicou que a área inundada era três vezes maior que a de Portugal.

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Isto começou há quase um mês, e num terço desse mês as televisões dedicaram-se a uma única morte que, ainda por cima, não tem qualquer consequência prática ou política.

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A visita de Guterres [ao Paquistão] foi um dia depois da morte de Isabel II. Teve azar. O mundo não quis saber.

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Enquanto um território três vezes o português sentia, debaixo de água, os efeitos das alterações climáticas, o mundo ficou de olhos postos numa fila de um velório.

Daniel Oliveira, “Expresso” online (sem link)

 

Sem um pai presente [numa família monoparental], vivo nesta realidade que passa mais pela sobrevivência do que propriamente por “viver”.

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Ser pobre e estudante ainda é tabu. Não se fala sobre as oportunidades perdidas pelas pessoas com pouco dinheiro. Escondem-nos da sociedade.

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As variantes socioeconómicas têm uma interferência enorme no aproveitamento escolar.

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É graças à bolsa de estudo que estou agora na universidade, a tentar lutar pelos meus sonhos.

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O Estado Social permite-me estudar na faculdade que eu escolhi. De outra forma, não seria possível.

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E mais revoltante ainda é o facto de estes estudantes [com bolsas] não serem incentivados, mas sim encaminhados para cursos considerados “mais fáceis”, com entrada directa para o mundo do trabalho.

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Embora a bolsa seja um apoio indispensável para o percurso de jovens com dificuldades financeiras, a sua atribuição é imensamente demorada.

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Quando o assunto se debruça sobre alunos deslocados, o problema atinge proporções maiores.

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Fazer sacrifícios e abdicar de algumas coisas em prol de outras continua a ser necessário. Ser pobre e estudante ainda é tabu, mas urge deixar de ser.

Soraia Oliveira, “Público” (sem link)


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