(…)
A vertigem sugou pelo menos os países que se representam como
Ocidente
(…)
Esse tempo da monarquia britânica já morreu há muito. A
agonia do Império tinha-se acelerado durante este reinado.
(…)
Passados setenta anos, o que foi ficando disso é telenovela
kitsch e com laivos de dramalhão.
(…)
A família real, cujo poder é a exibição, é uma tragicomédia
em cena e só a rainha, no seu silêncio esfíngico, parecia escapar a esta
condenação.
(…)
A ordem monárquica é não só um arcaísmo, como um barbarismo:
não tem legitimidade nem valor constitucional democrático.
(…)
A legitimidade é nula, nenhuma Casa Real nasce de uma escolha
popular consentida e todas foram impostas por guerras ancestrais, golpes
palacianos ou, no melhor dos casos, escolhas de classe ou de casta aristocrática.
(…)
Talvez quem lê estas linhas se lembre do que aprendemos, os
reis reivindicavam a indicação divina e essa era a sua primeira fonte de
legitimidade.
(…)
Desaparecida a autoridade da palavra divina, o que fica é um
marasmo de explicações trôpegas sobre a razão da monarquia.
(…)
O impasse é por demais evidente: a ideia monárquica não pode
reivindicar a democracia e tem de se situar para além da legitimidade
democrática.
(…)
Uma ordem constitucional destas não pode determinar igualdade
de direitos entre todos os cidadãos, dado que a recusa.
Se esta época está mesmo a acabar, seria uma grande notícia
para o mundo.
Francisco Louçã, “Expresso” online
(sem link)
Os estudantes, que antes do boom do turismo e dos investidores estrangeiros
eram um bom negócio para alguns proprietários, contam-se agora entre as vítimas
deste processo [de mercantilização do direito à habitação].
(…)
A situação é desesperante para grande parte dos 21 mil alunos
deslocados, de entre os 50 mil colocados este ano no Ensino Superior.
(…)
O “mercado” tem outras prioridades: os turistas, que pagam ao
dia e pagam bem; e os “nómadas digitais”, que podem pagar muito mais.
(…)
“Olho por olho, dente por dente", diz a porta-voz dos
proprietários, mostrando como se exerce o poder numa economia de mercado.
(…)
Mas a que propósito ficámos dependentes do mercado para cumprir
um direito social básico? Aliás, dois: o direito à habitação e o direito à
educação.
(…)
[No imediato, o Governo não faz o que devia como por exemplo]
limitar e retirar licenças do alojamento local, impedir legalmente que tantas
casas tenham outro fim que não a habitação, adaptar espaços do Estado para
acolher estudantes,…
(…)
Falta regular a sério este setor [da habitação].
(…)
Também neste domínio é preciso restringir o “livre
funcionamento do mercado” e impor-lhe critérios de bem comum e de racionalidade.
(…)
Deixar “o mercado funcionar” com as suas regras e atirar para
as calendas as soluções estruturais é que é um verdadeiro desastre democrático.
José Soeiro, “Expresso” online
A não ser que viva numa bolha climatizada, já ninguém precisa
que lhe expliquem que o dantesco futuro que nos anunciavam chegou.
(…)
Primeiro serão os pobres dos países pobres, depois os pobres
dos países ricos e só no fim, tarde demais, os ricos, que não têm país.
(…)
[Guterres] lembrou que os lucros combinados das maiores
empresas de energia a nível global aproximaram-se dos cem mil milhões de
dólares no primeiro trimestre deste ano.
(…)
Quem nos dera que os governos fossem sequer capazes de cobrar
impostos a estas empresas para os canalizar para os seus próprios pobres.
(…)
[A prioridade do nosso Governo é] cortar em salários da
Função Pública, pensões futuras e IRC a todas as empresas, sem qualquer
critério.
(…)
O mesmo António Guterres bem tentou que o mundo, olhando para
ele, olhasse para a tragédia imensa que se abateu sobre o Paquistão.
(…)
Na visita ao Paquistão, Guterres explicou que a área inundada
era três vezes maior que a de Portugal.
(…)
Isto começou há quase um mês, e num terço desse mês as
televisões dedicaram-se a uma única morte que, ainda por cima, não tem qualquer
consequência prática ou política.
(…)
A visita de Guterres [ao Paquistão] foi um dia depois da
morte de Isabel II. Teve azar. O mundo não quis saber.
(…)
Enquanto um território três vezes o português sentia, debaixo
de água, os efeitos das alterações climáticas, o mundo ficou de olhos postos
numa fila de um velório.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(sem link)
Sem um pai presente [numa família monoparental], vivo nesta
realidade que passa mais pela sobrevivência do que propriamente por “viver”.
(…)
Ser
pobre e estudante ainda é tabu. Não se fala sobre as oportunidades perdidas
pelas pessoas com pouco dinheiro. Escondem-nos da sociedade.
(…)
As variantes socioeconómicas têm uma interferência enorme no
aproveitamento escolar.
(…)
É graças à bolsa de estudo que estou agora na universidade, a
tentar lutar pelos meus sonhos.
(…)
O Estado Social permite-me estudar na faculdade que eu
escolhi. De outra forma, não seria possível.
(…)
E mais
revoltante ainda é o facto de estes estudantes [com bolsas] não serem
incentivados, mas sim encaminhados para cursos considerados “mais fáceis”, com
entrada directa para o mundo do trabalho.
(…)
Embora
a bolsa seja um apoio
indispensável para o percurso de jovens com dificuldades financeiras, a sua
atribuição é imensamente demorada.
(…)
Quando o assunto se debruça sobre alunos
deslocados, o problema atinge proporções maiores.
(…)
Fazer
sacrifícios e abdicar de algumas coisas em prol de outras continua a ser
necessário. Ser pobre e estudante ainda é tabu, mas urge deixar de ser.
Soraia Oliveira, “Público” (sem link)
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