O primeiro auto de fé, em Portugal, teve lugar em Lisboa, no dia 20 de
setembro de 1540.
Há certamente na longa sequência do ADN um qualquer gene da crueldade que
molda o cromossoma humano, mas ninguém faz o mal com tanto entusiasmo e tamanha
alegria como quem tem uma fé à prova da clemência e uma devoção que exonera a
compaixão.
Das instituições que levaram a perversão a maiores requintes, a tortura a
mais elevados níveis e o êxtase pelo sofrimento alheio a um grau de felicidade
tamanho, destaca-se a Inquisição, essa máquina sinistra para matar hereges,
bruxas, judeus, não deixando sem castigo a adivinhação, a feitiçaria ou a
bigamia.
Em Portugal, foram os santos frades dominicanos que entusiasticamente se
dedicaram à incineração dos vivos e à exaltação criativa para ampliar e
prolongar o sofrimento, para maior glória de Deus e purificação das almas dos
réprobos.
Na Península Ibérica assistiu-se a esta curiosidade sinistra, países onde a
Reforma nunca chegou, motivo do atraso dos seus povos, mas que exigiram a
Inquisição, o instrumento mais cruel da Contrarreforma. Era a piedade dos reis
que via nos padecimentos de quem não seguisse a religião verdadeira, ou quem
pecasse contra ela, a forma de assegurarem a viagem para o Paraíso. (Cláudia Teixeira)
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