(…)
Que o
Governo não tenha antecipado que o gato escondido com rabo de fora seria
imediatamente revelado é demonstrativo de um véu de prosápia que só pode ser
assacado à existência de uma maioria absoluta.
(…)
Em
modo de alarme e de controlo de danos, o Governo despachou então o líder
parlamentar para atacar os críticos, mandou a ministra dos Assuntos
Parlamentares evocar a troika.
(…)
Fez
muito, e ainda beneficiou do mais notável acontecimento comunicacional do
século, a morte da rainha em diretos televisivos por 10 dias sem descanso, mas
fez tudo confuso.
(…)
A bem
dizer, ainda não assentou numa explicação unificada sobre o futuro das pensões.
Nem o pode fazer.
(…)
Não é
caso menor, como muita gente observou, dado o peso social dos pensionistas e,
já agora, dada a sensibilidade social do assunto.
(…)
As
pensões são muito baixas.
(…)
Mais
de um milhão de pessoas abaixo desse valor [490 euros], e para estas pessoas a
inflação é superior à média global da economia.
(…)
O
Governo teme esta visibilidade do empobrecimento e procurou corrigir a perceção
do truque.
(…)
dizer
às pessoas que é o “maior aumento” das últimas décadas, [é outro truque]
esperando que não se perceba que se trata de um valor nominal e que o valor
real desce no conjunto de 2022 e 2023.
(…)
O
primeiro-ministro convocou as suas tropas para atenuar o efeito desta polémica,
mas não impediu que se chocassem dois discursos: o de que corrigirá os
valores e o de que é reciso mudar a lei.
(…)
[Mudar
a lei] consiste simplesmente em impor na lei a redução das pensões a partir de
2024 em termos reais.
(…)
É
preciso acrescentar que, em 2022, o poder de compra das pensões está a ser
efetivamente reduzido.
(…)
A
pensão perde em 2022 em termos reais, perderá com a inflação de 2023 e perderá
mais no futuro.
(…)
No dia
em que [o Governo] apresentar [a nova lei] serão feitas as contas do
empobrecimento que o PS vai impor.
(…)
A
afirmação de que a lei deve ser mudada pois não foi concebida para períodos de
inflação é sinistra.
(…)
[O
Governo] deveria ter sido leal com a população e explicado que a lei garantiria
as pensões contra a inflação só quando não houvesse inflação.
(…)
O
entusiasmo da direita com tal “reforma estrutural” bem se pode compreender.
(…)
O
Governo pede aos pensionistas que aplaudam o seu próprio empobrecimento.
(…)
Afinal,
é mesmo para isto [recorrer aos bolsos dos pensionistas] que serve uma maioria
absoluta.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Durante
o seu [de Costa] primeiro governo não se pode, em abono da verdade, falar de um
tempo novo, mas foi possível vislumbrar o que seria um tempo novo ou seja, um tempo diferente daquele PS/PSD/CDS nos
habituaram.
(…)
Um
tempo novo seria o de atenção para com os mais desfavorecidos, de lisura, de
transparência, de honradez em vez de cupidez e corrupção, de palavra respeitada
face à palavra dada.
(…)
Outro [tempo] veio em que a estabilidade era o tudo para
permitir a Costa prosseguir o caminho da bazuca.
(…)
A
maioria absoluta traz cada dia novas instabilidades e o regresso à pior matriz
do PS a mandar “nisto tudo” e sem travões na AR.
(…)
[O empobrecimento] volta ao quotidiano dos portugueses que
vivem muito pior desde que o PS passou a governar só.
(…)
As medidas anunciadas com toda a pompa a fim de enganar os
papalvos vão exatamente em sentido contrário ao anunciado.
(…)
Até a palavra dada é desrespeitada e não haverá a atualização
das pensões de acordo com a taxa de inflação.
(…)
Sempre
que o PS governa em maioria absoluta ou similar as questões essenciais como o
Ensino e Educação, Saúde, Segurança Social e Justiça esbarram com interesses
privados que encontram na direção do PS uma tendência para lhes satisfazer os
apetites.
(…)
Lamentavelmente
para António Costa é mais importante o poder dos mercados financeiros, sem
qualquer escrutínio, do que as aspirações legítimas dos seus eleitores.
(…)
Este é o programa dos social-democratas ou dos liberais?
(…)
Os
entusiastas da desregulamentação do mercado energético na U.E. (comandados à
distância por certos interesses dos EUA) obrigam os povos da União a
sacrifícios brutais em contraste com os lucros sem medida das empresas que
dominam o mercado. Nem aqui o PS assume a coragem de taxar lucros
desmedidos.
Domingos Lopes, “Público” (sem link)
A verdadeira economia de mercado repousa no duplo fundamento
da livre iniciativa e de um mercado que exiba alguma vitalidade.
(…)
[O Brasil e outros países subdesenvolvidos] ostentam o
bizarro paradoxo de se apresentarem como economias de mercado, sem mercado.
(…)
As
iniciativas do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, destinadas a
desconcentrar a renda nacional, redistribuindo-a ainda que de forma moderada
para parcelas expressivas da população até então alijadas do mercado
consumidor, haviam promovido uma tonificação da economia, ao dinamizar o
mercado interno.
(…)
[As iniciativas do governo
Lula] tinham por vocação viabilizar o futuro de um modelo de
produção capitalista, só possível com a multiplicação dos agentes económicos
atuando no mercado.
(…)
A
resistência de boa parte das elites brasileiras a essa experiência inovadora na
política económica, que não conflitava com a bases do sistema capitalista, foi
tenaz.
(…)
Com a
riqueza distribuída é possível produzir em escala, tornando os preços das
mercadorias, (…), mais competitivos.
(…)
[Os ricos sentiram que] poderiam perder um privilégio dos
mais caros para eles: o da exclusividade da riqueza.
(…)
Essa pertinaz mentalidade preconceituosa (…) trava
nosso [referente ao Brasil] desenvolvimento económico, tem ao que parece matriz
cultural no legado da escravatura.
(…)
[A brutal concentração das riquezas em favor das classes
dominantes no Brasil e noutros países do terceiro mundo constitui] um
paradoxo com a ideia de uma economia de mercado e uma desanimadora constatação
que tais nações ainda não superaram a era pré-capitalista.
José Carlos Tortima, “Público” (sem link)
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