(…)
[Os nossos governantes] convocam
continuamente a instituição "crise" para criar as situações de
exceção com que eliminam direitos e aumentam a exploração e a pobreza.
(…)
O Conselho de Finanças Públicas
apresentou cálculos perspetivando que um trabalhador que recebe os 12 meses do
ano, o subsídio de férias e o de Natal - que não veja o seu salário atualizado
de acordo com a inflação - irá ter uma perda equivalente a um salário.
(…)
Como será possível um Acordo sobre
Competitividade e Rendimentos, para o imediato e o curto prazo, fora daquela
Agenda [do trabalho digno]?
(…)
O que leva o governador do Banco de
Portugal (e governantes) a clamar contra a atualização justa das pensões não é
a preocupação com a sustentabilidade da Segurança Social.
(…)
[Eles querem] utilizar os milhares de
milhões de euros dos saldos positivos da gestão do sistema (é dinheiro só do
trabalho) para concretizar a sua visão de Orçamentos do Estado com contas
certas.
(…)
No momento, setores patronais
oportunistas invocam impactos reais e imaginários de crises e catástrofes para
tentarem conquistar a redução do IRC.
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Mais de 50% das empresas não pagam IRC.
(…)
Os apoios às empresas devem, pois,
dirigir-se às que deles necessitam e merecem, por assumirem contrapartidas
necessárias.
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Marcelo quer que os portugueses se
acomodem às perdas de rendimentos que já tiveram e à não atualização de
salários e pensões a que têm direito, agora.
(…)
Não aceitemos a "normalização"
das crises.
Se isto [ameaça de uma guerra nuclear] não é um ataque à paz,
não sei o que possa ser.
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Quem,
desde o primeiro dia deste conflito, resultado de uma agressão militar da
Rússia à Ucrânia, fez ameaças nucleares foram Putin, Lavrov e aquele belicista
sem paralelo no lado de “cá”, Medvedev.
(…)
Se [no
PCP] não saírem para a rua claramente contra quem faz esta escalada, pondo o
nome às coisas, e Putin e a Federação Russa são os nomes, na verdade não é a
paz que desejam, mas uma vitória militar russa.
(…)
A sequência perigosa está toda no discurso de Putin.
(…)
Os
referendos têm apenas o papel de pseudolegitimar conquistas territoriais de um
Estado sobre outro, o mais clássico motivo para uma guerra imperialista.
(…)
Duvido que [no PCP] apoiem a escalada belicista de Putin, mas
também os incomoda muito a eficaz ofensiva ucraniana.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Não
houve um tempo em que fossem suaves os impactos culturais e sociais que as
migrações provocam.
(…)
Em
Portugal, 0,5% da população que aqui vive há mais de 500 anos chega para ocupar
50% da agenda do terceiro maior partido.
(…)
Recusar
o debate [sobre imigração, refugiados ou minorias não “integradas”] é
entregá-lo aos promotores do ódio, mas só vale a pena fazê-lo com quem quer
fazer parte da solução, não com quem alimenta e se alimenta do problema.
(…)
E é
por isso que a extrema-direita não é interlocutora.
(…)
Os
problemas com as comunidades migratórias ou com as minorias são de sempre.
(…)
O que
é preciso perceber é o que lhes deu centralidade política.
(…)
Apesar
de termos mais recursos do que nunca, os filhos estão condenados a viver pior,
com maior incerteza e de forma mais precária do que os pais. Mesmo
nos países mais ricos.
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A
crise quase permanente em que vivemos há tanto tempo ajuda a explicar parte do
fascínio por quem oferece soluções simples e alvos fáceis.
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Negar
a componente social e económica da sedução pelo autoritarismo, centrando a
divisão do mundo entre oponentes e defensores de um “mundo aberto”, levar-nos-á
a duros choques com a realidade.
(…)
Mesmo
a pacata Suécia, um dos países mais tolerantes, educados e prósperos do mundo,
viu um partido neofascista tornar-se na segunda maior força política.
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Em
2010, 14% da população era de origem estrangeira, um valor que subiu para 26%
numa década.
(…)
Tal
choque só é suportável reforçando direitos e a igualdade, nunca fazendo o
caminho oposto.
(…)
Estamos
sempre a tentar entrever o recuo do extremismo de direita.
(…)
Mas o
ovo da serpente lá continua.
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Le Pen
teve o melhor resultado da extrema-direita em França.
(…)
Em
Itália, podemos vir a ter um Governo de neofascistas e aparentados.
(…)
A
resposta é a que demos depois da II Guerra, (…): temperar a economia de mercado
com uma implacável redistribuição da riqueza que a impeça de ser uma sociedade
de mercado, doente e inviável.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Esse drama [existencial que a democracia brasileira vive
actualmente] resulta da ameaça que paira sobre a sobrevivência da
própria democracia.
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Haverá
risco de um golpe de Estado no Brasil? Serão pacificamente reconhecidos os
resultados eleitorais se contrários aos interesses bolsonaristas? A quem serve
a retórica do golpe anunciado e o ambiente de intimidação instalado?
(…)
A retórica do golpe é mais eficaz em instalar o medo do que
em condicionar opções.
(…)
Por isso, o medo do golpe funciona sobretudo enquanto golpe
do medo.
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Talvez
pela primeira vez na história do continente, os EUA não parecem estar
interessados em fomentar a instabilidade democrática ou em influenciar o
processo eleitoral.
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As
Forças Armadas [brasileiras] estão divididas e os sinais que recebem da sua
maior referência estratégica (as altas patentes militares norteamericanas) não
parecem estimular aventuras golpistas.
(…)
Sabem,
no entanto, que têm hoje suficiente poder de influência no Brasil para impor
algumas condições de continuidade ao novo presidente se ele não for Bolsonaro.
(…)
A extrema-direita brasileira é talvez mais ambígua sobre o
processo eleitoral do que se supõe.
(…)
Por
outro lado, a forças que se opõem ao bolsonarismo estão neste momento divididas
em três candidatos - Lula da Silva, Ciro Gomes e Simone Tebet.
(…)
Particularmente
em tempo de polarização, a divisão enfraquece e o potencial eleitorado dos
candidatos que disputam a alternativa de Lula da Silva pode facilmente migrar
para Bolsonaro.
Boaventura Sousa Santos, “Público” (sem link)
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