quarta-feira, 28 de setembro de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (22)

 
É uma reprise, dado que, depois de Modi, Orban, Trump e Bolsonaro, é escusado fingir surpresa pelos seus triunfos, e este debate vagueia entre nós desde sempre.

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Afinal de contas, o governo dos Açores parece não incomodar ninguém [com a integração de fascistas no governo].

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Integra-se, mas é um “risco”, como se a extrema-direita não estivesse já instaladíssima e integradíssima; ou isola-se, mas é “ineficaz”, como se não fosse a declamação do tremendismo que faz a fortuna destes candidatos.

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É certo que tanto quem defende a primeira solução como quem pugna pela segunda aceita e, por vezes, até afirma que o problema é a política social, o fracasso económico, a falta de perspetivas, a exasperação da pobreza, a rotina criada pela sociedade que se fecha e que se pendura em desigualdades escabrosas.

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Mesmo sabendo que é a austeridade que cria a indignação de que se alimentam as extremas direitas, que por sua vez proporão mais austeridade e mais desigualdade, esse é o dogma dos nossos tempos e é o que querem prosseguir.

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Diz o nosso primeiro-ministro que a extrema-direita se combate na confiança social - e depois recusa cumprir a lei e pretende impor uma baixa do valor real das pensões e dos salários.

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Portugal é o país mais desigual da Europa – mas a resposta é reduzir os rendimentos dos pensionistas, punir os assalariados, subir os juros.

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Se sabem que é esta a forma de cultivar o desespero que agiganta os neofascismos, parecem muito empenhados em confirmar-se a si próprios como os causadores da tragédia democrática.

Francisco Louçã, “Expresso” online (sem link)

 

Na noite eleitoral, em canais de notícias e telejornais portugueses, os oráculos anunciavam a vitória do “centro-direita” [em Itália].

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Como pode uma herdeira do fascismo italiano [Meloni] liderar uma coligação de “centro-direita”?

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Desde que não seja abertamente eurocética como Boris Johnson e defenda a NATO, pode maltratar os emigrantes à vontade. 

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Chega as juras de amor de Meloni à União Europeia, à NATO e à Ucrânia, carregando sem vergonha o legado de Mussolini. 

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[Cá e em toda a Europa] a direita sabe que terá de governar com esta gente. 

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É a resignação. Já ninguém tem dúvida que, se precisar, o PSD fará um acordo com a extrema-direita para governar.

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Para preparar o caminho que todos sabem ser inevitável para a direita voltar ao poder é preciso ir normalizando não só André Ventura como os seus aliados europeus. 

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Mas se a conversa é sobre Itália, esta equiparação entre comunistas e fascistas torna-se especialmente insultuosa (…) depois do “compromisso histórico” que [Aldo Moro] fez com os comunistas, que ajudaram a construir a democracia italiana.

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A normalização da extrema-direita é uma estratégia de curto prazo para o centro-direita. A longo prazo ela tem-se revelado sempre suicida.

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Essa normalização tem-se feito sempre através da absorção dos valores da extrema-direita. 

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O nazismo e os seus crimes contra a humanidade só foram possíveis numa sociedade em que o antissemitismo estava disseminado.

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É este caldo de tolerância com a intolerância que a direita outrora moderada está a ajudar a cozinhar.

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Acabarão por ser absorvidos por aqueles que julgam que vão absorver, liderados por quem julgam que vão liderar.

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[Em Itália] foi Georgia Meloni que absorveu o voto do campo da direita.

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Mas o dado que não podemos esquecer é este: nas democracias ocidentais, a desigualdade atingiu, desde 2008, níveis que só conheceu em 1929.

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E é a desigualdade que deslaça a comunidade e torna a democracia inviável.

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O centro-esquerda continua a acreditar que se for a última fronteira do cordão sanitário à extrema-direita manterá na sua mão um seguro de vida. Não. Esse seguro de vida caducou. 

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O que a esquerda italiana tem de se perguntar é como vale hoje 26%, e o Partido Democrático [PD] 20%.

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Como aconteceu isto a uma das mais poderosas e vibrantes esquerdas da Europa.

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Mas a descaracterização de um partido [PD] feito da amalgama do antigo PCI, democratas-cristãos e neoliberais nunca permitiu que escolhesse entre a social-democracia e o neoliberalismo.

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Perante as primeiras gerações que sabem que viverão pior do que os seus pais, é preciso saber que a desesperança é tão perigosa para os governos democráticos europeus como para a teocracia iraniana.

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A esquerda tem de propor uma forte redistribuição da riqueza para salvar democracia.

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O remédio contra ela [extrema direita], [redistribuição da riqueza], que resultou noutros tempos, foi retirado do mercado.

Daniel Oliveira, “Expresso” online (sem link)

 

Não se pode ignorar que, politicamente, extrema-esquerda tem um significado e que ele [Luís Montenegro] não se coaduna com estes dois partidos [BE e PCP].

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São defensores das liberdades individuais e colectivas, não apelam à sublevação revolucionária ou à luta armada ou qualquer outro fim ou meio que não esteja previsto e consagrado na Constituição.

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[Montenegro insiste nesta classificação] porque lhe dá jeito.

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Montenegro precisa de desdramatizar o perigo e de justificar aos portugueses a sua intenção de chegar a entendimento com o partido neofascista e racista português.

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[Montenegro] faz contas à necessidade que tem do previsível resultado eleitoral do Chega para chegar à governação, mas também é obrigado a fazer contas à debandada de todos aqueles que, sendo de direita, são também antifascistas e sérios.

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Para chegar ao poder não hesitam em colocar os portugueses numa posição de sujeição política e executiva a uma força que a grande maioria considera repugnante e antidemocrática.

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Luís Montenegro quer fazer desse problema [crescimento da extrema-direita] a sua solução.

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O tempo chegará em que [os eleitores da extrema-direita] serão esclarecidos, mas, para nosso mal, estamos precisamente na fase contrária que, ao que parece, está para durar.

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O financiamento do partido [de extrema-direita] pelas famílias Champalimaud e Mello, de que dava conta uma peça da revista Sábado, é bem ilustrativo do quanto, em vez de partido anti-sistema, é um partido comprometido com as suas bases mais bafientas.

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[Montenegro] não emprega as suas energias a combater a extrema-direita e não tem qualquer confiança na sua própria liderança e na possibilidade de chegar à governação sem este entendimento.

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Não é verdade que o PS tenha governado com a extrema-esquerda, mas é verdade que o PSD quer governar com a extrema-direita. E é imperdoável.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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