(…)
Perante
a dificuldade, quer convencer a população de que quem recebe uma pensão é
egoísta ao criar um problema ao país e impõe a ideia de que, na crise, a
solução será sempre reduzir o valor real dos rendimentos.
(…)
Membros
do Governo atacam-se florentinamente em público sobre a forma de reduzir os
impostos a empresas, que, sobretudo quando têm muito, pouco pagam.
(…)
O IRC
é um terço do total que pagamos em IRS e menos de um quinto do que pagamos em
IVA e outros impostos indiretos, mas a parte do capital é metade do rendimento
nacional.
(…)
Dizem-nos
simultaneamente que é preciso baixar todas as pensões futuras em nome da
sustentabilidade.
(…)
Portugal
estaria a transbordar de felicidade, o maior aumento de PIB da zona euro, a
mais gloriosa redução do défice, em conclusão, é preciso amputar as pensões em
termos reais.
(…)
Nem
sei se os ministros se dão conta de como a população sabe que nos estão a
tratar por estúpidos.
(…)
Os
pensionistas são pobres: a média da pensão de velhice na Segurança Social está
abaixo do limiar de pobreza e impor-lhe um futuro de cortes é cruel.
(…)
A lei
que estabeleceria segurança é alterada para criar a certeza da insegurança.
Francisco
Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O uso
do termo “fascista” tem sido muitas vezes desvirtuado e descontextualizado,
tendendo a ignorar que um fascista no governo pode não conseguir criar
imediatamente um governo ou um regime fascista.
(…)
Há
autoritarismos bufanescos, como foi o de Trump, que reproduzem traços populistas
do fascismo sem o alcançarem.
(…)
[Umberto]
Eco e [Pier Paolo] Pasolini, e não os podemos ignorar, viviam uma memória que
nos alerta ainda hoje para as tragédias passadas, que todas começaram por ser
implausíveis.
(…)
A
vertigem do desespero atual, o pasto dos pós e neofascismos, é a herança dos
que ignoraram e colaboraram.
(…)
Os
avisos que ouvimos são para serem levados a sério.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Agora mártir, Mahsa Amini morreu para que as mulheres possam usar o véu,
querendo.
(…)
Distintas entre seres humanos em razão do género, a obrigatoriedade e a
imposição são inultrapassáveis e indefensáveis do ponto de vista societário.
(…)
O mal não pode residir no tamanho ou no
acerto da colocação do véu, nem no comprimento ou largura da roupa, por mais
incolor ou "technicolor" que se exiba.
(…)
[A breve passagem de Mahsa Aminit
por Teerão] termina na tragédia da sua morte pelo uso indevido do véu e num
grito de revolta das mulheres iranianas que, heroicamente, tomam em mãos o
destino da mudança social no país.
(…)
Fazem a sua revolução, aquela que a
"sharia" da Revolução de 1979 lhes suprimiu.
(…)
A onda de solidariedade internacional com
os protestos no Irão, já com um número considerável de mortos, não pode ser
encarcerada dentro do espartilho da política.
(…)
A dicotomia entre os bons e os maus,
entre o bom ou mau cristão, ou o bom ou mau muçulmano, é a mais perversa
alucinação que sustenta e alavanca as mais terríveis atrocidades.
(…)
Mas as mulheres iranianas têm agora um
rosto e a luta delas é a nossa.
Essa desvalorização [que se sentiu por cá relativamente às
manifestações de moscovo] não pode passar em branco e merece que se pense nas
suas causas e consequências.
(…)
Temos razões para acreditar que sempre existiu oposição russa
à guerra.
(…)
É ofensivo pretender que só agora teve início essa oposição.
(…)
Quem
julga aqueles manifestantes, e os condena, está a esquecer-se de que o regime
de Putin tem características ditatoriais e que não são mansas as consequências
para quem se manifesta publicamente.
(…)
Na
Rússia, como cá e na maioria das guerras, são os pobres que combatem, aqueles
que não têm capacidade financeira para a fuga. Nada de novo.
(…)
São as
condições socioeconómicas, como recordava Pacheco Pereira neste
fim-de-semana, que, mais do que tudo, moldam a vida das pessoas e a sua
história.
(…)
A
razão para desconfiar de quem mostra estar contra o regime de Putin, e contra a
guerra, é a hostilização generalizada do povo russo.
(…)
Ser
solidário com um povo invadido e massacrado, como está a ser o povo ucraniano,
não é uma justificação para atropelarmos os nossos próprios princípios.
(…)
Ainda
agora, numa fascinante peça da revista Sábado
sobre donativos a partidos políticos, estava a proposta de Salvini
a André Ventura para que aceitasse que o Chega fosse financiado por Putin.
(…)
Apoiar
a extrema-direita é lançar à terra as sementes do mal: a política do ódio, da
acusação, da discriminação, do procurar e do encontrar, no outro, um inimigo.
(…)
A velha Europa, o continente que não tinha desculpa para cair
nesse erro, está rendida ao
neofascismo.
(…)
Mas o
que é absolutamente certo é o nosso enfraquecimento a partir de dentro. A
Europa está outra vez lançada no seu movimento autodestrutivo. Somos os nossos
maiores inimigos.
(…)
[Devemos preocupar-nos] especialmente
por existirem tantos, entre nós, que não reconhecem essa evidência e que
caminham alegremente para uma realidade em que o mal está normalizado.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Nas
últimas semanas, assistimos a mais um patético número de lamentação de quem até
é capaz de dizer que não vê cores, mas que não suporta que uma personagem
ficcional meio-peixe meio-humana possa ser negra.
(…)
Ainda
nas últimas semanas, a agremiação dos lamuriantes também não gostou de saber
que haveria um casal de mulheres lésbicas, mães de uma personagem no desenho
animado A Porquinha Peppa.
(…)
Para
os lamuriantes as obras artísticas podem representar mulheres, pessoas negras
ou pessoas LGBT+ desde que estas apareçam em lugares fossilizados.
(…)
O que
lhes causa no mínimo comichão é ver estas personagens geralmente subalternas,
sem profundidade ou poder, passarem a personagens centrais.
(…)
Os
lamuriantes sabem, mesmo se de forma não consciente, que a representatividade
importa, senão não se incomodariam tanto com estas questões e não entrariam
numa espécie de pânico de grande substituição.
(…)
Independentemente
das razões comerciais e/ou progressistas de quem produz hoje obras mais
inclusivas, a verdade é que a representação de uma diversidade positiva é
necessária.
(…)
O
progresso em matéria de direitos humanos é real, mas foi sempre feito à custa
de uma luta contínua em várias frentes.
(…)
Estamos
numa fase de retrocesso em várias partes do mundo, com fantasmas do passado
rejuvenescidos para os quais os direitos humanos e até uma sereia negra são uma
ameaça.
(…)
[Os
lamuriantes] conseguem fazer acreditar que,
hoje, quem luta pelos direitos humanos é extremista, radical, terrorista.
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
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