(…)
Precisamos de ouvir menos as manifestações de interesses e
mais os cientistas e conhecedores do país e do seu futuro.
(…)
Há um problema geral chamado alterações climáticas que afeta
de uma forma muito grave os recursos hídricos sobretudo em todo o sul da
Península Ibérica.
(…)
O problema da falta de água resulta mais da escassez hídrica
do que da seca.
(…)
Chove cada vez menos, mas rega-se cada vez mais.
(…)
Agravaram-se as perdas de água tanto nos sistemas de
distribuição urbana, como nos perímetros de rega.
(…)
Se a água dos rios e albufeiras é muito importante e visível,
tão ou mais importante é a água invisível que constitui um fator vital da
segurança dos ecossistemas e dos suportes de vida do país.
(…)
Apesar de essencial ao país, a administração dos recursos
hídricos encontra-se numa paradoxal situação de ‘desgovernança’.
(…)
Estas instituições [Agência Portuguesa do Ambiente e Administrações
de Região Hidrográfica] aprovadas na Lei da Água de 2005 constituíam os
pilares centrais de uma verdadeira e eficaz gestão da água como recurso
estratégico ao ambiente, à economia e à sociedade.
(…)
Entretanto, as políticas públicas da água parecem postas em
espera o tempo que for necessário até que os grandes interesses ligados
sobretudo ao agronegócio e obras públicas se tenham instalado sem escrutínio
democrático.
(…)
É cada vez mais urgente aquilo que se chama hoje ‘plantar
água’, ou seja, florestar sustentavelmente para reter a água no solo a montante
das captações, e recarregar os aquíferos.
(…)
O Estado tem o dever inalienável de assegurar os suportes dos
sistemas vitais do país como são os recursos hídricos, através do conhecimento
da sua quantidade e qualidade.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
O Estado ainda funciona no juízo de autocrítica quando se lê
o Relatório da auditoria da Inspecção-Geral das Finanças às contas e ao dossier
de privatização da TAP.
(…)
Os 203 milhões de euros que David Neeleman não meteu na TAP,
“utilizando” a dívida da empresa para pagar os 61% do capital da companhia que
“comprou” ao Estado, são de bradar aos céus e bem para lá das piores nuvens.
(…)
Quem sofre é a TAP mas quem paga somos todos.
(…)
A vergonha tem de ter rostos num negócio ruinoso tantas vezes
sinalizado, avisado, criticado e tardiamente escrutinado.
(…)
Este simulacro de negócio tem um nome pouco eventual: Maria
Luís Albuquerque, na altura ministra do Estado e das Finanças, resolveu brincar
com o nome do país
(…)
É verdadeiramente inenarrável que Luís Montenegro não tenha
já arrepiado caminho quanto à sua nomeação para comissária europeia.
(…)
Ninguém ignora que fomos todos ludibriados mesmo que nem
todos percebamos como, tal a complexidade do processo.
Sentem os cidadãos portugueses do século XXI
fascínio pelo lançamento de foguetes ou pela sua explosão? Não creio.
(…)
Porque
continuam as festas e romarias do nosso país a lançar foguetes como se fossem o
oxigénio que permite a festa respirar?
(…)
Vem
esta introdução a propósito do alegado envolvimento de um foguete como causa
direta do medonho incêndio que cobriu de negro a Madeira.
(…)
O
Presidente do Governo Regional hesitou na ação entre o combate ao incêndio e as
suas merecidas ou imerecidas férias no Porto Santo.
(…)
Mesmo
quando confrontado com relatos que associaram o lançamento de foguetes,
oficialmente autorizados, em dia de risco máximo de incêndio, continuou a
defender a tese do fogo posto.
(…)
Na Madeira a consciência dos políticos pesa,
mas não lhes tira o sono, nem as férias.
(…)
Como
se pode permitir o lançamento de uma cana de fogo e explosão sobre as florestas
deste país, em dias de risco máximo de incêndio?
(…)
O mercado dos foguetes pode inovar e adaptar-se
às novas abordagens.
(…)
Na Madeira da nossa desgraça sobrou um desastre
ambiental de enormes proporções.
(…)
Ficam as arribas instáveis, os solos postos a
nu, a terra exposta às próximas chuvadas.
(…)
A Madeira ardeu... os políticos da Madeira
ardem, mas assobiam para o lado.
João Malva,
“Público” (sem
link)
Nos
comentários a um vídeo nas redes sociais, onde uma mãe israelita faz um
discurso doloroso depois da morte do seu filho, um dos reféns do Hamas, uma
pessoa pergunta-se por que já não consegue sentir emoção diante da morte destas
pessoas
(…)
[Tenho] medo de que, em mim, em nós, a
brutalidade extrema do regime israelita prevaleça e nos desumanize.
(…)
Depois
de estarmos expostos a imagens de uma violência gráfica tão extrema, de
pequenos corpos mutilados, queimados, explodidos, como manter a empatia pelas
mortes do lado do país agressor?
(…)
Como evitar amálgamas entre regimes bárbaros e
terroristas como o israelita e os seus cidadãos?
(…)
Resistir à sua própria desumanização exige
humilde e vigilância.
(…)
Se, de repente, a dor de uma mãe já não nos
comove, é porque algo está errado.
(…)
Não existe um muro a tapar o que se passa na
Palestina, Mediterrâneo, Sudão, Congo ou Iémen.
(…)
Quem não vê é porque escolheu não ver, e esse
desinteresse é um muro erguido pela sua própria desumanização.
(…)
[A resistência à desumanização] envolve uma
ação ativa para garantir que não nos tornemos insensíveis ou cúmplices.
(…)
Aqueles que já perderam a sua humanidade não
nos façam perder o interesse em preservar a nossa.
Luísa Semedo, “Público”
(sem link)
Quando os regimes ditatoriais duram muito temo, os cidadãos
acabam frequentemente por interiorizar as limitações à sua liberdade, parecendo
até que a actividade dos censores já não é necessária.
(…)
Claro que, abrindo-se uma janela, a liberdade entra por ali
dentro e os cidadãos, ao respirar ar limpo, rapidamente se habituam à nova
situação e quase esquecem a anterior, como se fosse apenas um sonho mau.
João Paulo Craveiro, “Diário de
Coimbra” (sem link)
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