(…)
Thiel é um dos principais promotores da
ideologia arcaica que domina o pensamento de homens como Elon Musk, Jeff Bezos,
Mark Zuckerberg, Tim Cook (…)
(…)
A sua adaptação à extrema-direita já não
surpreende.
(…)
Os tecnolordes ditaram algumas das pedras
basilares da política autoritária e forneceram os meios para a ascensão da nova
ideologia do regresso ao passado.
(…)
[Os tecnolordes constituem] uma mistura de
doutrinas libertárias à la Iniciativa Liberal com racismo científico, uma visão
anti-histórica de regresso ao feudalismo e a aceleração rumo ao colapso social
e ambiental.
(…)
[A sua ideologia defende] que “o poder
corporativo capitalista deve tornar-se a força organizadora da sociedade”.
(…)
Pretendem afirmar a desigualdade não como
acidente, mas como estrutura.
(…)
Para todos os efeitos práticos, a ideologia dos
tecnolordes pretende derrubar qualquer ilusão democrática.
(…)
[A rejeição da educação formal destes
homens] privou-os de informação essencial sobre História, sobre Biologia,
Química, Física e outras áreas nevrálgicas do conhecimento.
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Os mercados recompensam a sua ignorância audaz
oferecendo em troca de cada usurpação louvor e dinheiro.
(…)
Não admira que se achem semi-deuses e procurem
racionalizações ideológicas para o seu privilégio.
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Numa obra como o Senhor dos Anéis, de JRR
Tolkien, onde a eugenia atravessa a narrativa de todos os lados, os tecnolordes
parecem apoiar a posição mais pérfida.
(…)
A ideologia dos tecnolordes assume uma oposição
directa à democracia, vista como um obstáculo à acumulação e manutenção da
riqueza e do poder dos ricos.
(…)
[Louvam] a cidade de Singapura como modelo.
(…)
Para destruir a democracia, defendem
desmantelar os aparelhos institucionais dos estados-nação.
(…)
[Pretendem] garantir que as injustiças não têm
oposição social e que, havendo oposição, a mesma possa ser fortemente reprimida.
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Advogam a remoção dos funcionários e serviços
públicos quase todos, aumentando os números das forças armadas e policiais, a
capacidade de repressão por parte do poder.
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O DOGE liderado por Elon Musk, combinado com a
expansão de uma polícia política miliciana como o ICE, é um ensaio disto.
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Outro vértice da ideologia dos tecnolordes é o
aceleracionismo, que advoga a libertação de quaisquer restrições ao crescimento
capitalista e ao desenvolvimento tecnológico, até se criarem colapsos sociais e
económicos.
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[Não escondem] que o colapso social é um
objetivo da desregulamentação, em vez de um efeito secundário a ignorar ou
esconder.
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A libertação de restrições no aceleracionismo
serve mesmo para criar colapsos sociais que permitam aos tecnolordes
instalar-se como os novos senhores.
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O aceleracionismo defende que temos de ignorar
o sofrimento atual de milhares de milhões de pessoas para optimizar o
desenvolvimento tecnológico que crie o ambiente em que humanos futuros
colonizem o espaço.
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Ao conjunto das crenças dos tecnolordes
somam-se outros segmentos de ficção científica, todos anti-científicos.
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Os tecnolordes pretendem levar a Humanidade à
fronteira do colapso e depois, num truque de mágica, subir ao poder, salvando a
espécie ou a eles mesmos como últimos espécimes.
(…)
[Querem] subjugar todas as sociedades a uma
distopia tecnológica em que CEOs mandam e se comportam como os sobreviventes do
apocalipse.
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[Os tecnolordes são] o porto de abrigo ideológico e a
infraestrutura de difusão sem paralelo para a nova extrema-direita.
(…)
Montaram as armadilhas e estamos dentro delas
há muito.
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Os algoritmos isolam-nos e privam-nos da
informação útil para a nossa vida coletiva.
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Os tecnolordes e a sua ideologia são inimigos
mortais da Humanidade e não travarão perante nada para impor as suas distopias
nos próximos anos.
(…)
Mas é na sua ignorância arrogante que se
encontram as suas vulnerabilidades.
(…)
Estes gigantes têm de facto pés de barro que é
importante derrubar, e a sua ideologia é aqui central: desprezam a realidade
material, rejeitam o coletivo e social como realidades e estão submersos em
ficção.
(…)
Passar a jogar fora do seu campo preferido, o
das redes sociais, pode ser dos primeiros passos para o seu fim.
João Camargo, “Expresso” online
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