sábado, 16 de agosto de 2025

MAIS CITAÇÕES (346)

 
Nota-se hoje uma menor responsabilização dos políticos e da política pelos problemas dos incêndios. 

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A Comunicação Social passou a tratar os incêndios com análises de especialistas. 

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A opção não será má se os especialistas evidenciarem os problemas e lembrarem que as respostas necessárias continuam a ser políticas.

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A ausência de respostas às alterações climáticas e ambientais, associadas a um estilo de vida insustentável, está no cerne do problema. 

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Estamos num ano em que a condição dos solos potencia esse fenómeno.

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A retirada das pessoas pode tornar-se a antecâmara do abandono, do despovoamento. 

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Para habitarem numa aldeia [as pessoas] precisam de ter trabalho, de atividades que lhes garantam meios materiais e serviços fundamentais. 

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A financeirização tomou conta da política dos solos urbanos, prepara-se para se apoderar da área dos rústicos e talvez venha a vender falsas soluções para a gestão da floresta.

Carvalho da Silva, JN

 

O litoral alentejano encontra-se hoje num processo acelerado de reconfiguração. 

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Uma das transformações mais silenciosas, mas simbólica, é a desvalorização das culturas de sequeiro e da agropecuária extensiva

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Com a chegada da água em abundância e a lógica da produtividade máxima por hectare, esse sistema tem vindo a ser substituído por monoculturas hiperintensivas de amendoal e olival.

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O campo arável de cereais, que funcionava como tampão ecológico e território biodiverso, perde-se.

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O montado, considerado um dos sistemas agrícolas mais biodiversos da Europa, está agora em risco pelo avanço destas práticas que exigem solo "limpo".

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Este processo não é neutro. É, assim, uma espécie de gentrificação do espaço rural.

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O alargamento de rega em massa e a estrutura da propriedade foi permitindo a expansão de monoculturas como o olival e o amendoal em regime superintensivo.

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Estas culturas são, na prática, expressões de um novo extrativismo que esgota os solos, empobrece ecossistemas, diminui a biodiversidade e torna o território dependente de um único modelo produtivo.

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“saharização” do solo e a perda de polinizadores são algumas das consequências já identificadas.

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Ao mesmo tempo, os investimentos turísticos, centrados entre Tróia, Comporta e Melides, têm alterado profundamente o litoral alentejano.

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A identidade rural alentejana corre o risco de ser apenas consumida enquanto imagem volátil.

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As praias e os acessos naturais ao mar, torna-se agora uma realidade progressivamente murada e vigiada.

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Com a turistificação do seu território veio também o aumento do custo de vida e o agravamento das condições de acesso à habitação.

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O concelho de Odemira tornou-se referência nacional na produção intensiva em estufas, particularmente para exportação.

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Esta agricultura é altamente dependente de mão-de-obra migrante, frequentemente em situações de precariedade e exclusão social

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Já na planície, campos inteiros estão a prestes a ser cobertos com painéis solares.

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O solo alentejano, frágil e biodiverso, é olhado apenas como um suporte físico de fluxos de capital, indiferentes a preocupações “comezinhas”.

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O que está em causa no Alentejo é a afirmação de um modelo de desenvolvimento que acumula impactos ambientais profundos, promove a exclusão social e transforma o território em ativo financeiro.

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São tempos onde impera a lógica extrativista e geram mais injustiça territorial.

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O que é trágico é que o ordenamento do território (…) provou ter uma incapacidade estrutural de escolher e moldar o caminho que foi sendo trilhado.

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O litoral alentejano arrisca-se a ser mais um retrato amargo e injusto do que pode ser o futuro.

Jorge Gonçalves, “Público” (sem link)

 

Quatro anos após o arranque da famosa “​bazuca”, Portugal arrisca-se a perder uma oportunidade única de tratar alguns dos males do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

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A execução dos fundos da saúde é lenta, fragmentada e insuficiente para alcançar resultados expressivos até meados de 2026.

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A saúde é dos setores com pior desempenho no PRR.

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Apenas 379 milhões de euros chegaram, efetivamente, às entidades executoras.

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O PRR é uma gota no oceano do gasto público em saúde, mas essencial para atacar alguns dos problemas crónicos do SNS.

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Temos centros de saúde degradados, hospitais envelhecidos, equipamentos obsoletos e uma digitalização incipiente.

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A Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR considera que a situação da execução na saúde é crítica, especialmente no que respeita a investimentos nos cuidados de saúde primários, continuados e paliativos.

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Falta executar a maioria das empreitadas nos centros de saúde, hospitais e nas redes nacionais de cuidados continuados e paliativos.

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Das 557 obras previstas em centros de saúde, hospitais e unidades de cuidados continuados, apenas 67 estão concluídas e 47 em curso.

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Foram adquiridos 772 veículos elétricos, mas, por exemplo, a maioria das 81 viaturas entregues à região do Algarve continuam paradas por falta de postos de carregamento, também financiados pelo PRR.

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A situação na área da saúde mental, uma prioridade no pós-pandemia, também é considerada preocupante.

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Apenas foi utilizada uma fração dos 88 milhões para a reforma da saúde mental. 

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A digitalização na saúde avança a passo de caracol na prometida interoperabilidade de sistemas.

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Entretanto, persistem sistemas incompatíveis, falhas de comunicação entre unidades e processos administrativos arcaicos que dificultam a vida a utentes e profissionais.

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A ladainha dos motivos da fraca execução no setor da saúde é a mesma de sempre.

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Que remédios podem ainda assegurar bons resultados, em tempo útil?

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Os investimentos do PRR em infraestruturas e equipamentos do SNS são indispensáveis, mas não são suficientes.

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A falta de profissionais em especialidades tão críticas como a saúde familiar, pediatria, obstetrícia, cirurgia e anestesiologia é o principal problema do SNS.

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O Estado também deve assegurar que o investimento europeu no SNS não se destina a ser entregue ao setor privado.

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Para (os) reter [os profissionais de saúde], o SNS precisa de lhes oferecer carreiras estabelecidas e seguras.

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Poucos cidadãos sabem onde estão a ser aplicados os milhões do PRR na saúde, quais os critérios de seleção dos projetos ou qual o seu impacto real.

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O tempo das promessas já passou, esperam-se agora resultados mais visíveis no terreno.

António Faria Vaz, Francisco Ramos, Guadalupe Simões (…) e outros Membros do Grupo de Saúde da Associação Causa Pública


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