(…)
A Comunicação Social passou a tratar os incêndios com
análises de especialistas.
(…)
A opção não será má se os especialistas evidenciarem os
problemas e lembrarem que as respostas necessárias continuam a ser políticas.
(…)
A ausência de respostas às alterações climáticas e
ambientais, associadas a um estilo de vida insustentável, está no cerne do
problema.
(…)
Estamos
num ano em que a condição dos solos potencia esse fenómeno.
(…)
A retirada das pessoas pode tornar-se a antecâmara do
abandono, do despovoamento.
(…)
Para habitarem numa aldeia [as pessoas] precisam de ter
trabalho, de atividades que lhes garantam meios materiais e serviços
fundamentais.
(…)
A
financeirização tomou conta da política dos solos urbanos, prepara-se para se
apoderar da área dos rústicos e talvez venha a vender falsas soluções para a
gestão da floresta.
O litoral alentejano encontra-se hoje num processo acelerado
de reconfiguração.
(…)
Uma das transformações mais silenciosas, mas simbólica, é a
desvalorização das culturas de sequeiro e da agropecuária extensiva
(…)
Com
a chegada da água em abundância e a lógica da produtividade máxima por hectare,
esse sistema tem vindo a ser substituído por monoculturas hiperintensivas de
amendoal e olival.
(…)
O campo arável de cereais, que funcionava como tampão
ecológico e território biodiverso, perde-se.
(…)
O
montado, considerado um dos sistemas agrícolas mais biodiversos da Europa, está
agora em risco pelo avanço destas práticas que exigem solo "limpo".
(…)
Este processo não é neutro. É, assim, uma espécie de
gentrificação do espaço rural.
(…)
O
alargamento de rega em massa e a estrutura da propriedade foi permitindo a
expansão de monoculturas como o olival e o amendoal em regime superintensivo.
(…)
Estas
culturas são, na prática, expressões de um novo extrativismo que esgota os
solos, empobrece ecossistemas, diminui a biodiversidade e torna o território
dependente de um único modelo produtivo.
(…)
A “saharização” do solo e a perda de polinizadores são algumas das
consequências já identificadas.
(…)
Ao mesmo tempo, os investimentos turísticos, centrados entre
Tróia, Comporta e Melides, têm alterado profundamente o litoral alentejano.
(…)
A identidade rural alentejana corre o risco de ser apenas
consumida enquanto imagem volátil.
(…)
As praias e os acessos naturais ao mar, torna-se agora uma
realidade progressivamente murada e vigiada.
(…)
Com
a turistificação do seu território veio também o aumento do custo de vida e o
agravamento das condições de acesso à habitação.
(…)
O concelho de Odemira tornou-se referência nacional na
produção intensiva em estufas, particularmente para exportação.
(…)
Esta agricultura é altamente dependente de mão-de-obra
migrante, frequentemente em situações de precariedade
e exclusão social.
(…)
Já na planície, campos inteiros estão a prestes a ser
cobertos com painéis solares.
(…)
O
solo alentejano, frágil e biodiverso, é olhado apenas como um suporte físico de
fluxos de capital, indiferentes a preocupações “comezinhas”.
(…)
O
que está em causa no Alentejo é a afirmação de um modelo de desenvolvimento que
acumula impactos ambientais profundos, promove a exclusão social e transforma o
território em ativo financeiro.
(…)
São tempos onde impera a lógica extrativista e geram mais
injustiça territorial.
(…)
O que é trágico é que o ordenamento do território (…) provou
ter uma incapacidade estrutural de escolher e moldar o caminho que foi sendo
trilhado.
(…)
O litoral
alentejano arrisca-se a ser mais um retrato amargo e injusto do que pode ser o
futuro.
Jorge Gonçalves, “Público” (sem link)
Quatro anos após o arranque da famosa “bazuca”, Portugal
arrisca-se a perder uma oportunidade única de tratar alguns dos males do
Serviço Nacional de Saúde (SNS).
(…)
A execução dos fundos da saúde é lenta, fragmentada e
insuficiente para alcançar resultados expressivos até meados de 2026.
(…)
A saúde é dos
setores com pior desempenho no PRR.
(…)
Apenas 379 milhões de euros chegaram, efetivamente, às
entidades executoras.
(…)
O PRR é uma gota no oceano do
gasto público em saúde, mas essencial para
atacar alguns dos problemas crónicos do SNS.
(…)
Temos
centros de saúde degradados, hospitais envelhecidos, equipamentos obsoletos e
uma digitalização incipiente.
(…)
A Comissão Nacional de
Acompanhamento do PRR considera que a situação da execução na saúde é crítica,
especialmente no que respeita a investimentos nos cuidados de saúde primários,
continuados e paliativos.
(…)
Falta executar a
maioria das empreitadas nos centros de saúde, hospitais e nas redes nacionais
de cuidados continuados e paliativos.
(…)
Das
557 obras previstas em centros de saúde, hospitais e unidades de cuidados
continuados, apenas 67 estão concluídas e 47 em curso.
(…)
Foram
adquiridos 772 veículos elétricos, mas, por exemplo, a maioria das 81 viaturas
entregues à região do Algarve continuam paradas por falta de postos de
carregamento, também financiados pelo PRR.
(…)
A situação na
área da saúde mental, uma prioridade no pós-pandemia, também é considerada
preocupante.
(…)
Apenas foi utilizada uma fração dos 88 milhões para a reforma
da saúde mental.
(…)
A digitalização
na saúde avança a passo de caracol na prometida interoperabilidade de sistemas.
(…)
Entretanto,
persistem sistemas incompatíveis, falhas de comunicação entre unidades e
processos administrativos arcaicos que dificultam a vida a utentes e profissionais.
(…)
A ladainha dos
motivos da fraca execução no setor da saúde é a mesma de sempre.
(…)
Que remédios
podem ainda assegurar bons resultados, em tempo útil?
(…)
Os investimentos
do PRR em infraestruturas e equipamentos do SNS são indispensáveis, mas não são
suficientes.
(…)
A
falta de profissionais em especialidades tão críticas como a saúde familiar,
pediatria, obstetrícia, cirurgia e anestesiologia é o principal problema do SNS.
(…)
O Estado também
deve assegurar que o investimento europeu no SNS não se destina a ser entregue
ao setor privado.
(…)
Para (os)
reter [os profissionais de saúde], o SNS precisa de lhes oferecer carreiras
estabelecidas e seguras.
(…)
Poucos cidadãos sabem onde estão
a ser aplicados os milhões do PRR na saúde,
quais os critérios de seleção dos projetos ou qual o seu impacto real.
(…)
O tempo das
promessas já passou, esperam-se agora resultados mais visíveis no terreno.
António Faria Vaz, Francisco
Ramos, Guadalupe Simões (…) e outros Membros do Grupo de Saúde da Associação Causa Pública
Sem comentários:
Enviar um comentário