quarta-feira, 27 de agosto de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (169)

 
Em Portugal, um novo clima de fogo já está em plena instalação, com cada vez menores períodos entre verões de incêndios catastróficos.

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Mais de 3% do país ardeu de novo, resultado de uma combinação mortal entre crise climática, abandono e plantações de eucaliptos.

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Montenegro declarou que os fogos são uma guerra, mas atualmente é ele o comandante dos incendiários.

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2025 entrou na lista de piores anos de incêndios em Portugal desde a viragem do século, a seguir a 2017, 2003 e 2005.

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A crise climática, o maior desafio que a Humanidade já enfrentou, continua a avançar através do apoio inabalável de governos e empresas para a expansão de emissões de gases com efeito de estufa.

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Empresas fósseis como a Galp ou a EDP lideram a “guerra do fogo”, uma guerra contra toda a sociedade.

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A área ardida em Portugal, cerca de 250 mil hectares, equivale à área de todo o território do Luxemburgo. 

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As temperaturas extremas perduram semanas a fio, incluindo durante as noites, combinam-se com a baixa humidade e os ventos fortes (…) e no mundo rural português e galego conjugam-se com um barril de pólvora.

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Foi nestes territórios que a difusão de uma espécie invasora e altamente combustível, o Eucalyptus globulus, serviu para criar uma indústria monstruosa (em tamanho e impacto) numa área muito pequena.

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Portugal e a Galiza têm quase 1.500.000 hectares de eucaliptal, uma boa parte dos quais abandonados e que se expandem por invasão todos os anos.

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A gestão mediática dos fogos pelo primeiro-ministro português, Luís Montenegro, tem sido desastrosa.

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Este conservador de direita posou para a imprensa em férias na praia, anunciou num comício de verão o regresso da Fórmula 1 ao país enquanto milhares de bombeiros lutavam pela vida e pelo menos três pessoas morriam.

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O Governo de direita com o apoio da extrema-direita que se comprometeu em aumentar a despesa com gastos militares em mil milhões de euros em 2025 e aumentá-la até 2029, não tinha aviões de combate a incêndios.

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Montenegro diz que “estamos em guerra e o país tem de vencer esta guerra”, mas é um exercício de inversão da realidade.

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Os incêndios de 2025 são mais um massacre que era não só previsível como, nas atuais condições, inevitável.

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[Estamos perante] decisões que garantem, em Portugal, Espanha ou nos outros países do mundo, o lucro de empresas destruidoras e a corrida rumo ao colapso climático.

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As suas infraestruturas cospem anualmente milhares de toneladas de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa para a atmosfera.

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O Governo demorou semanas a chamar apoio internacional.

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O mesmo Governo junta-se à extrema-direita parlamentar e mediática para gritar que há cabalas de incendiários.

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[Travar a crise climática em Portugal] implica um mundo rural com pessoas, a remoção de uma enorme parte do eucaliptal e a ocupação dos pelo menos 20% do território que estão abandonados.

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Implica ainda pelo menos mais um milhão de pessoas a habitar o mundo rural.

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Mas sem acabar com a indústria fóssil, esse esforço não servirá para nada.

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[Mas] Montenegro alia-se com a extrema-direita do Chega para eleger como tema prioritário perseguir migrantes e precarizar o trabalho.

João Camargo, “Público” (sem link)

 

Têm-se multiplicado no espaço público as opiniões sobre o Anteprojeto de Lei da Reforma da Legislação Laboral (“Trabalho XXI”). 

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Se os contratos a prazo apenas são admissíveis em situações de excecionalidade (…) o facto de agora se prever que os contratos a termo certo possam passar de uma duração máxima de dois anos (incluindo renovações) para três anos (…) constitui uma ilusão de estabilidade.

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O anteprojeto elimina essa proibição (art. 338.ºA) [de impedir o recurso a mão de obra externalizada nos 12 meses subsequentes a um despedimento] como forma de facilitar os processos de restruturação empresarial.

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Desconfia-se das mães que amamentam depois dos dois anos de idade da criança, limitando-se esse direito.

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A falta por luto gestacional (art. 38.ºA) é revogada. [Isso] na impossibilidade de remuneração concedida ao pai por faltar ao trabalho num contexto de infortúnio familiar.

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O alargamento do âmbito dos serviços mínimos (…) visa certamente enfraquecer a ação sindical.

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No contexto da reforma atual, a suposta prioridade concedida a uma relação contratual entre estafetas e intermediários poderá configurar-se como uma forma de proteger as plataformas, predispostas que sempre têm estado para invisibilizar os indícios de laboralidade.

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O anteprojeto cria enviesamentos, reforçando os desequilíbrios (que sempre existiram mas agora se acentuam) na relação entre capital e trabalho.

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Sobressaem medidas favoráveis aos representantes do mundo empresarial e acentua-se a desvalorização do trabalho.

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Enfraquecimento da contratação coletiva, ao suspender-se a arbitragem tendente a apreciar a denúncia da convenção coletiva, o que significa abrir caminho à caducidade.

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Em resumo, o anteprojeto de lei distancia-se de uma visão para o mundo do trabalho pautada pela igualdade, dignidade e respeito pelo trabalho enquanto valor humano.

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Estando dotada de um viés ideológico que não surpreende, a agenda “Trabalho XXI” está, no entanto, sem o querer, a instigar o campo sindical a promover a coesão que lhe tem faltado.

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O movimento sindical não pode perder esta oportunidade para falar a uma só voz.

Hermes Augusto Costa, “Público” (sem link)

 

Do ponto de vista feminino, a paz não é só a ausência de guerra. É a presença de equidade, diálogo e propósito.

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Não há paz possível onde a desigualdade cresce todos os dias, onde a violência contra mulheres e crianças persiste silenciosa, onde o racismo estrutura acessos, silencia vozes e define quem pode e quem não pode existir plenamente.

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Acreditamos que política também se faz com afeto, presença e ação cotidiana. Essas são práticas de paz.

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Porque manter a paz também é garantir acesso. É abrir espaço. É construir redes de apoio reais.

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É permitir que mulheres racializadas, imigrantes, mães solo e tantas outras que vivem à margem deixem de apenas sobreviver. 

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A ausência de paz mina o presente e adia o futuro.

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Paz não é um conceito abstrato. É prática diária. 

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Reconhecer que a paz começa quando cada uma de nós escolhe não se calar diante do que nos fere.

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A paz não se impõe. Mas pode e precisa ser semeada. E nós [mulheres] sabemos fazer isso.

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[Nós mulheres] acreditamos que um mundo mais justo, mais inteligente, mais humano começa pela coragem de escolher a paz.

Débora Fontes, “Público” (sem link)


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