(…)
Mais
de 3% do país ardeu de novo, resultado de uma combinação mortal entre crise climática,
abandono e plantações de eucaliptos.
(…)
Montenegro declarou que os fogos são uma
guerra, mas atualmente é ele o comandante dos incendiários.
(…)
2025
entrou na lista de piores anos de incêndios em Portugal desde a viragem do
século, a seguir a 2017, 2003 e 2005.
(…)
A
crise climática, o maior desafio que a Humanidade já enfrentou, continua a
avançar através do apoio inabalável de governos e empresas para a expansão de
emissões de gases com efeito
de estufa.
(…)
Empresas fósseis como a Galp ou a EDP lideram a “guerra do
fogo”, uma guerra contra toda a sociedade.
(…)
A área ardida em Portugal, cerca de 250 mil
hectares, equivale à área de todo o território do Luxemburgo.
(…)
As temperaturas extremas perduram semanas a
fio, incluindo durante as noites, combinam-se com a baixa humidade e os ventos
fortes (…) e no mundo rural português e galego conjugam-se com um barril
de pólvora.
(…)
Foi
nestes territórios que a difusão de uma espécie
invasora e altamente combustível, o Eucalyptus
globulus, serviu para criar uma indústria monstruosa (em tamanho e
impacto) numa área muito pequena.
(…)
Portugal
e a Galiza têm quase 1.500.000 hectares de eucaliptal, uma boa parte dos quais
abandonados e que se expandem por invasão todos os anos.
(…)
A gestão mediática dos fogos pelo
primeiro-ministro português, Luís Montenegro, tem sido desastrosa.
(…)
Este
conservador de direita posou para a imprensa em férias na praia, anunciou num
comício de verão o regresso da Fórmula 1 ao país enquanto milhares de bombeiros
lutavam pela vida e pelo menos três pessoas morriam.
(…)
O
Governo de direita com o apoio da extrema-direita que se comprometeu em
aumentar a despesa com gastos militares em mil milhões de euros em 2025 e
aumentá-la até 2029, não tinha aviões de combate a incêndios.
(…)
Montenegro
diz que “estamos em guerra e o país tem de vencer esta guerra”, mas é um exercício
de inversão da realidade.
(…)
Os incêndios de 2025 são mais um massacre que era não só
previsível como, nas atuais condições, inevitável.
(…)
[Estamos
perante] decisões que garantem, em Portugal, Espanha ou nos outros países do
mundo, o lucro de empresas destruidoras e a corrida rumo ao colapso climático.
(…)
As
suas infraestruturas cospem anualmente milhares de toneladas de dióxido de carbono e outros gases com efeito
de estufa para a atmosfera.
(…)
O Governo demorou semanas a chamar apoio
internacional.
(…)
O mesmo Governo junta-se à extrema-direita
parlamentar e mediática para gritar que há cabalas de incendiários.
(…)
[Travar
a crise climática em Portugal] implica um mundo rural com pessoas, a remoção de
uma enorme parte do eucaliptal e a ocupação dos pelo menos 20% do território
que estão abandonados.
(…)
Implica ainda pelo menos mais um milhão de
pessoas a habitar o mundo rural.
(…)
Mas sem acabar com a indústria fóssil, esse esforço não servirá para nada.
(…)
[Mas] Montenegro alia-se com a extrema-direita
do Chega para eleger como tema prioritário perseguir migrantes e precarizar o
trabalho.
João Camargo, “Público”
(sem link)
Têm-se multiplicado no espaço público as
opiniões sobre o Anteprojeto de
Lei da Reforma da Legislação Laboral (“Trabalho XXI”).
(…)
Se os contratos a prazo apenas são admissíveis
em situações de excecionalidade (…) o facto de agora se prever
que os contratos a termo certo possam passar de uma duração máxima de dois anos
(incluindo renovações) para três anos (…) constitui uma ilusão de estabilidade.
(…)
O anteprojeto elimina essa proibição (art.
338.ºA) [de impedir o recurso a mão de obra externalizada nos 12 meses
subsequentes a um despedimento] como forma de facilitar os processos de
restruturação empresarial.
(…)
Desconfia-se das mães que
amamentam depois dos dois anos de idade da criança, limitando-se
esse direito.
(…)
A falta por luto gestacional (art. 38.ºA) é
revogada. [Isso] na impossibilidade de remuneração concedida ao pai por
faltar ao trabalho num contexto de infortúnio familiar.
(…)
O alargamento do âmbito dos serviços mínimos
(…) visa certamente enfraquecer a ação sindical.
(…)
No contexto
da reforma atual, a suposta prioridade concedida a uma relação contratual entre
estafetas e intermediários poderá configurar-se como uma forma de proteger as
plataformas, predispostas que sempre têm estado para invisibilizar os indícios
de laboralidade.
(…)
O anteprojeto cria enviesamentos, reforçando os
desequilíbrios (que sempre existiram mas agora se acentuam) na relação entre
capital e trabalho.
(…)
Sobressaem medidas favoráveis aos
representantes do mundo empresarial e acentua-se a desvalorização do trabalho.
(…)
Enfraquecimento
da contratação coletiva, ao suspender-se a arbitragem tendente a apreciar a
denúncia da convenção coletiva, o que significa abrir caminho à caducidade.
(…)
Em
resumo, o anteprojeto de lei distancia-se de uma visão para o mundo do trabalho
pautada pela igualdade, dignidade e respeito pelo trabalho enquanto valor
humano.
(…)
Estando
dotada de um viés ideológico que não surpreende, a agenda “Trabalho XXI” está,
no entanto, sem o querer, a instigar o campo sindical a promover a coesão que
lhe tem faltado.
(…)
O movimento sindical não pode perder esta
oportunidade para falar a uma só voz.
Hermes Augusto
Costa, “Público” (sem link)
Do
ponto de vista feminino, a paz não é só a ausência de guerra. É a presença de
equidade, diálogo e propósito.
(…)
Não há
paz possível onde a desigualdade cresce todos os dias, onde a violência contra
mulheres e crianças persiste silenciosa, onde o racismo estrutura acessos,
silencia vozes e define quem pode e quem não pode existir plenamente.
(…)
Acreditamos que política também se faz com
afeto, presença e ação cotidiana. Essas são práticas de paz.
(…)
Porque manter a paz também é garantir acesso. É
abrir espaço. É construir redes de apoio reais.
(…)
É permitir que mulheres racializadas,
imigrantes, mães solo e tantas outras que vivem à margem deixem de apenas
sobreviver.
(…)
A ausência de paz mina o presente e adia o
futuro.
(…)
Paz não é um conceito abstrato. É prática
diária.
(…)
Reconhecer que a paz começa quando cada uma de
nós escolhe não se calar diante do que nos fere.
(…)
A paz não se impõe. Mas pode e precisa ser
semeada. E nós [mulheres] sabemos fazer isso.
(…)
[Nós mulheres] acreditamos que um mundo mais
justo, mais inteligente, mais humano começa pela coragem de escolher a paz.
Débora Fontes, “Público” (sem link)
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