(…)
[A ministra Ana Paula Martins] insiste em manter salários
desajustados, carreiras bloqueadas e condições de trabalho degradadas.
(…)
[Os médicos internos e especialistas] são o coração do
serviço público.
(…)
A fuga de médicos não é um capricho: é a consequência inevitável
de quem se vê forçado a trabalhar sem condições.
(…)
Muitos dos médicos que terminam o internato irão para o setor
privado ou para o estrangeiro.
(…)
Luís Montenegro não resolve a carência de médicos no público —
apenas garante mais médicos para o privado e menos para os utentes do SNS.
(…)
É esta a política em curso: enfraquecer o público para fortalecer
o negócio da doença.
(…)
O caminho não é impor barreiras artificiais.
(…)
Luís Montenegro desvaloriza quem escolheu servir o SNS, empurra
médicos para o privado e deixa os doentes à espera.
(…)
[O verdadeiro erro político é] transformar a saúde pública num
campo de negócios, em vez de a garantir como um direito de todos.
Joana Bordalo e Sá, “Expresso” (sem link)
O total de acessos, nesta 1.ª fase [de colocação
de alunos no Ensino Superior], ficou 12% abaixo do ano anterior.
(…)
Uma realidade desastrosa, num quadro em que
outros indicadores relativos a condições de trabalho, a níveis salariais e a
custos da habitação são muito duros, em particular para os jovens.
(…)
Nos níveis inferiores da escola o
desaparecimento de crianças filhas de portugueses é compensado pela entrada de
filhos de imigrantes.
(…)
O enredo do problema é complexo e condiciona a
evolução do tecido socioeconómico, o equilíbrio do sistema de proteção social,
a modernização dos serviços públicos, a prestação dos direitos fundamentais a
todos os cidadãos.
(…)
Há falta de profissionais qualificados em
várias dos subsetores públicos.
(…)
Portugal é hoje um país bloqueado no seu
processo de desenvolvimento e a condição de membro da União Europeia - no atual
contexto internacional - pode acrescentar cargas negativas pesadas.
(…)
O Estado social depende da valorização e
dignificação do trabalho e da cidadania social que coloca os indivíduos como os
portadores dos direitos.
(…)
O ataque à escola pública, as políticas de
baixos salários e o bloqueio no acesso à habitação conduzem-nos a um inexorável
retrocesso.
(…)
O alojamento para estudantes é de valor
insuportável para a maioria das famílias. Não há residências públicas para
estudantes.
(…)
O acesso ao ensino público é um lugar onde as
desigualdades a montante do sistema têm um brutal impacto.
O
capitalismo seduziu todos os povos porque alimenta este “ADN capitalista”: um
consumo crescente, pornografia gratuita, expectativas de poder, tecnologia que
reduz a necessidade de esforço físico.
(…)
Temos também um “ADN social”: empatia e cuidado
pelo outro, sentido de cooperação e de justiça, propensão para a
espiritualidade.
(…)
No Ocidente, o sistema que criámos foi a
democracia liberal.
(…)
É precisamente a democracia liberal que os
tecnolibertarianos (…) visam destruir, para impor um projeto
político-ideológico baseado no ultraliberalismo digital, projeto que, na
prática, institui um poder autoritário.
(…)
[Trump e quem o rodeia] consideram a democracia
ineficiente e um entrave ao avanço da inovação tecnológica.
(…)
Começaram, assim, a desmantelar as “regras e
instituições de outra era”, os seus “inimigos internos”.
(…)
Trump pretende decretar um “dia sem regras”.
(…)
[O fenómeno tecnolibertariano] propaga-se
pelos países europeus através das plataformas digitais e do financiamento de
partidos de extrema-direita.
(…)
[Apenas] mencionam [o trabalho] para salientar
que a tecnologia é mais eficiente e muito mais barata e que, portanto, substituirá
o trabalho humano.
(…)
Ora, o ADN social está associado ao trabalho;
surgiu da necessidade de trabalhar para todos, incluindo crianças e idosos,
sobreviverem.
(…)
É no trabalho e nas esferas familiar e social,
e não no consumo, que cuidamos dos outros e somos úteis.
(…)
Sociedade pós-humana, sociedade pós-trabalho; a
consistência ideológica do terramoto cultural tecnolibertariano é assustadora.
(…)
A
esquerda lutou, e bem, contra a exploração do trabalho pelo capital, denunciou
o ADN dos capitalistas e reivindicou o aumento dos salários.
(…)
Os trabalhadores não querem ser vistos como
vítimas mas sim como pessoas autónomas e capazes de agir.
(…)
O seu ressentimento tem sido canalizado pela extrema-direita
para uma revolta contra a civilização liberal.
(…)
É ao ADN capitalista que a extrema-direita e os
tecnolibertarianos apelam, pois não acreditam no ADN social.
(…)
Prometem uma sociedade infinitamente próspera e
infinitamente livre. Promessas que são um logro existencial.
(…)
O consumo ilimitado conduz às catástrofes
ecológicas a que começámos a assistir.
(…)
A liberdade ilimitada conduz a sociedades em
que imperam a barbárie e a lei do mais forte.
(…)
A lei da força está de regresso.
(…)
Dados
os impasses a que o ADN capitalista nos leva, qual é o projeto que permite
construir uma economia dentro dos limites planetários e que seja politicamente
viável?
(…)
[Há
que] identificar os domínios e as formas em que se exerce a lei da força e
conseguir transmitir essa informação aos cidadãos.
(…)
[Há
que] criar novas instituições que consolidem o ADN social, começando pelo mundo
do trabalho, porque é aí que se pode potenciar o ADN social.
(…)
É hora de levar a centralidade do trabalho (não
só o emprego) a sério.
(…)
É o trabalho que mais cristaliza os traços do
ADN social.
(…)
Isso exige enfrentar o ADN capitalista, mostrar
que não é no consumo que está o sentido da vida.
(…)
A democracia política não sobrevive sem
democracia no trabalho.
(…)
Descartar o trabalho e a política é descartar
os trabalhadores e o seu poder.
(…)
Descartar o Estado e a democracia e
substituí-los por uma “República digital” é obter um poder absoluto.
Helena Lopes, “Público” (sem link)
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