quarta-feira, 1 de outubro de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (174)

 
O século XXI trouxe-nos uma paradoxal inversão de valores: nunca a humanidade dispôs de tanto conhecimento científico, mas raramente este foi tão sistematicamente desacreditado por quem detém o poder político.

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Quando se instrumentaliza o saber, a sociedade inteira empobrece.

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A autonomia das universidades (…) está hoje sob pressão sistémica.

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Assistimos a padrões repetidos que convergem numa mesma lógica: transformar o financiamento, a nomeação de cargos e a reputação académica em instrumentos de conformidade política.

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A universidade moderna (…) constitui um laboratório vivo onde se testam os limites da própria democracia. 

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Quando estas instituições perdem a capacidade de funcionar como espaços de dúvida metódica, toda a sociedade perde a sua bússola cognitiva.

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O ataque contemporâneo à autonomia universitária revela uma estratégia política sofisticada: deslegitimar as instituições que produzem conhecimento independente.

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[Trata-se de] uma disputa existencial sobre quem tem autoridade para definir a realidade.

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Em vez de tanques nos “campus” académicos, assistimos a uma asfixia gradual através de instrumentos aparentemente técnicos.

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Esta estratégia revela uma compreensão aguçada da vulnerabilidade estrutural das universidades no momento atual.

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A chantagem financeira substitui a censura direta.

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Longe de ser apenas anti-elitista, o populismo atual funciona como uma teologia política que transforma a ignorância em virtude cívica.

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Esta dinâmica produz uma inversão perversa: quanto mais complexo é um problema, alterações climáticas, pandemias, desigualdades estruturais, mais os líderes populistas tendem a desqualificar quem possui conhecimento técnico para o abordar.

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Cada ataque às universidades serve um duplo propósito: enfraquecer centros de produção de conhecimento independente e fortalecer a narrativa de que o líder populista é a única fonte legítima de verdade.

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Os investigadores começam a evitar temas que possam gerar polémica política, mesmo quando esses temas são cruciais para o avanço do conhecimento.

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Quando os académicos sentem que as suas carreiras dependem do alinhamento com determinadas ortodoxias, sejam elas progressistas ou conservadoras, o próprio processo de descoberta científica fica comprometido.

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Países que permitem a erosão da autonomia universitária pagam um preço económico desproporcional em termos de competitividade global.

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Sociedades que tratam o conhecimento como uma mercadoria política pagam esse luxo com décadas de atraso no desenvolvimento.

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A defesa da autonomia universitária exige uma compreensão sofisticada das novas formas de pressão política. 

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Universidades integradas em redes globais de investigação e ensino tornam-se mais difíceis de isolar politicamente.

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Igualmente crucial é o desenvolvimento de novas formas de financiamento que reduzam a dependência exclusiva do erário público.

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A modernização do ensino superior português exige mais do que reformas estruturais — necessita de salvaguardas robustas contra a instrumentalização política do conhecimento.

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A crise da autonomia universitária força-nos a repensar o contrato social que liga conhecimento, democracia e soberania nacional.

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[Isto significa] um compromisso renovado com a educação para a cidadania crítica.

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As universidades devem demonstrar a sua relevância social sem comprometer a sua integridade intelectual.

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Sociedades que protegem os seus centros de produção de conhecimento investem no futuro.

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Defender a autonomia universitária hoje é, portanto, defender a possibilidade mesma de um futuro democrático.

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Numa época em que os desafios globais exigem soluções cada vez mais sofisticadas, o luxo da ignorância política transformou-se numa ameaça existencial.

Domingos Caeiro, “Expresso” online

 

Quem vota na extrema-direita não está desesperado, está com a esperança de sentir o gostinho da vitória, de pertencer ao clube supremacista dos “portugueses de bem”.

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Não serve de nada dizer que estes representantes são bad boys, porque é precisamente por isso que suscitam adulação, fascínio, desejo.

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Que ousados e que poder têm os nossos líderes! Líderes estes que cultivam metodicamente a imagem de bad boys enquanto rezam com a mão no peito ou de braço esticado à santinha que os ilumina.

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Não é defeito, nem feitio, é estratégia. A estratégia utilizada por toda a internacional reacionária que segue à letra os conselhos de gurus de trazer ao ombro.

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Inundem o espaço mediático de polémicas, transformem os nossos inimigos em máquinas reativas, impeçam-nos de parar para pensar.

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Utilizem a nosso favor a fluxocracia das redes sociais, onde o virtual distorce, transfigura, transforma o real.

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Cansem-nos ao ponto de serem incapazes de pensar o presente que já é futuro.

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Cortem-lhes a audácia, a criatividade, a iniciativa.

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E olhar para os nossos próprios erros, para as nossas próprias falhas, para as nossas próprias desistências e cobardias?

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Nós que não sabemos fazer cumprir a nossa Constituição, que não percebemos que a democracia é um processo frágil sempre em curso.

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Quando vamos entender que a política partidária é um meio e não um fim, senão não é política, é uma empresa, é um negócio?

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A “verdade” sobre a extrema-direita é importante, mas tem de servir para um autoexame operativo. Em que medida permitimos que esta progrida?

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Que instrumentos não estamos a utilizar, a inventar, a criar, para que a extrema-direita volte para o buraco de uma agremiação de cave de onde nunca deveria ter saído?

Luísa Semedo, “Público” (sem link)

 

No ano passado, um inquérito citado pela Forbes dava conta de que 88% dos trabalhadores, nos EUA, estavam esgotados. 

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A expressão do stress é muito diferente entre os géneros.

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Os mesmos dados revelavam ainda que o esgotamento afeta desproporcionalmente a vida pessoal das mulheres em comparação com os homens

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Dados de um inquérito levado a cabo pelo BCE - e divulgado pelo DN na passada sexta-feira – davam conta de que os trabalhadores europeus estavam disponíveis para abdicar de parte do seu salário em troca de dias de trabalho remoto, quando as empresas parecem querer caminhar no sentido contrário, e forçar os regressos a 100% ao escritório.

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Tudo aponta para que a eficiência aumente quando os trabalhadores optam pelo regime híbrido.

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Em Portugal, não há dados recentes sobre o número de trabalhadores que apresentam sinais de esgotamento, mas há dois anos eram mais de metade segundo um estudo da Universidade do Porto.

Margarida Vaqueiro Lopes, DN


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