(…)
Quando se instrumentaliza o saber, a sociedade inteira
empobrece.
(…)
A autonomia das universidades (…) está hoje sob
pressão sistémica.
(…)
Assistimos a padrões repetidos que convergem numa mesma
lógica: transformar o financiamento, a nomeação de cargos e a reputação
académica em instrumentos de conformidade política.
(…)
A universidade moderna (…) constitui um laboratório
vivo onde se testam os limites da própria democracia.
(…)
Quando estas instituições perdem a capacidade de funcionar
como espaços de dúvida metódica, toda a sociedade perde a sua bússola cognitiva.
(…)
O ataque contemporâneo à autonomia universitária revela uma
estratégia política sofisticada: deslegitimar as instituições que produzem
conhecimento independente.
(…)
[Trata-se de] uma disputa existencial sobre quem tem autoridade
para definir a realidade.
(…)
Em vez de tanques nos “campus” académicos, assistimos a uma
asfixia gradual através de instrumentos aparentemente técnicos.
(…)
Esta estratégia revela uma compreensão aguçada da
vulnerabilidade estrutural das universidades no momento atual.
(…)
A chantagem financeira substitui a censura direta.
(…)
Longe de ser apenas anti-elitista, o populismo atual funciona
como uma teologia política que transforma a ignorância em virtude
cívica.
(…)
Esta dinâmica produz uma inversão perversa: quanto mais
complexo é um problema, alterações climáticas, pandemias, desigualdades
estruturais, mais os líderes populistas tendem a desqualificar quem possui
conhecimento técnico para o abordar.
(…)
Cada ataque às universidades serve um duplo propósito:
enfraquecer centros de produção de conhecimento independente e fortalecer a
narrativa de que o líder populista é a única fonte legítima de verdade.
(…)
Os investigadores começam a evitar temas que possam gerar
polémica política, mesmo quando esses temas são cruciais para o avanço do
conhecimento.
(…)
Quando os académicos sentem que as suas carreiras dependem do
alinhamento com determinadas ortodoxias, sejam elas progressistas ou
conservadoras, o próprio processo de descoberta científica fica comprometido.
(…)
Países que permitem a erosão da autonomia universitária pagam
um preço económico desproporcional em termos de competitividade global.
(…)
Sociedades que tratam o conhecimento como uma mercadoria
política pagam esse luxo com décadas de atraso no desenvolvimento.
(…)
A defesa da autonomia universitária exige uma compreensão
sofisticada das novas formas de pressão política.
(…)
Universidades integradas em redes globais de investigação e
ensino tornam-se mais difíceis de isolar politicamente.
(…)
Igualmente crucial é o desenvolvimento de novas formas de
financiamento que reduzam a dependência exclusiva do erário público.
(…)
A modernização do ensino superior português exige mais do que
reformas estruturais — necessita de salvaguardas robustas contra a
instrumentalização política do conhecimento.
(…)
A crise da autonomia universitária força-nos a repensar o
contrato social que liga conhecimento, democracia e soberania nacional.
(…)
[Isto significa] um compromisso renovado com a educação para
a cidadania crítica.
(…)
As universidades devem demonstrar a sua relevância social sem
comprometer a sua integridade intelectual.
(…)
Sociedades que protegem os seus centros de produção de
conhecimento investem no futuro.
(…)
Defender a autonomia universitária hoje é, portanto, defender
a possibilidade mesma de um futuro democrático.
(…)
Numa época em que os desafios globais exigem soluções cada
vez mais sofisticadas, o luxo da ignorância política transformou-se numa ameaça
existencial.
Domingos Caeiro, “Expresso” online
Quem
vota na extrema-direita não está desesperado, está com a esperança de sentir o
gostinho da vitória, de pertencer ao clube supremacista dos “portugueses de
bem”.
(…)
Não
serve de nada dizer que estes representantes são bad boys, porque é precisamente por isso que suscitam
adulação, fascínio, desejo.
(…)
Que
ousados e que poder têm os nossos líderes! Líderes estes que cultivam
metodicamente a imagem de bad
boys enquanto rezam com a mão no peito ou de braço esticado à
santinha que os ilumina.
(…)
Não é
defeito, nem feitio, é estratégia. A estratégia utilizada por toda a
internacional reacionária que segue à letra os conselhos de gurus de trazer ao
ombro.
(…)
Inundem o espaço mediático de polémicas,
transformem os nossos inimigos em máquinas reativas, impeçam-nos de parar para
pensar.
(…)
Utilizem a nosso favor a fluxocracia das redes
sociais, onde o virtual distorce, transfigura, transforma o real.
(…)
Cansem-nos ao ponto de serem incapazes de
pensar o presente que já é futuro.
(…)
Cortem-lhes a audácia, a criatividade, a
iniciativa.
(…)
E olhar para os nossos próprios erros, para as
nossas próprias falhas, para as nossas próprias desistências e cobardias?
(…)
Nós
que não sabemos fazer cumprir a nossa Constituição, que não percebemos que a
democracia é um processo frágil sempre em curso.
(…)
Quando
vamos entender que a política partidária é um meio e não um fim, senão não é
política, é uma empresa, é um negócio?
(…)
A
“verdade” sobre a extrema-direita é importante, mas tem de servir para um
autoexame operativo. Em que medida permitimos que esta progrida?
(…)
Que
instrumentos não estamos a utilizar, a inventar, a criar, para que a
extrema-direita volte para o buraco de uma agremiação de cave de onde nunca
deveria ter saído?
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
No ano passado, um inquérito citado pela Forbes
dava conta de que 88% dos trabalhadores, nos EUA, estavam esgotados.
(…)
A expressão do stress é muito diferente entre os
géneros.
(…)
Os mesmos dados revelavam ainda que o esgotamento
afeta desproporcionalmente a vida pessoal das mulheres em comparação com os
homens
(…)
Dados de um inquérito levado a cabo pelo BCE - e
divulgado pelo DN na passada sexta-feira – davam conta de que os trabalhadores
europeus estavam disponíveis para abdicar de parte do seu salário em troca de
dias de trabalho remoto, quando as empresas parecem querer caminhar no sentido
contrário, e forçar os regressos a 100% ao escritório.
(…)
Tudo aponta para que a eficiência aumente quando
os trabalhadores optam pelo regime híbrido.
(…)
Em Portugal, não há dados recentes sobre o
número de trabalhadores que apresentam sinais de esgotamento, mas há dois anos
eram mais de metade segundo um estudo da Universidade do Porto.
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