(…)
Nunca se prometeu tanto para esperar tão pouco.
(…)
As pessoas têm a sensação justificada de não ter poder na
mudança.
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Foi mais gente às urnas só para votar
num partido que sabem (as pessoas não são parvas) ser ausente de proposta.
(…)
Da desigualdade à
precariedade e assustadora rapidez de tudo, há muitas razões para explicar um
fenómeno global que acelerou depois de uma crise financeira paga pelos de baixo
e cresceu com a pandemia.
(…)
No crescimento da extrema-direita, na
consolidação de três blocos políticos e na derrocada do centro-esquerda, apenas
chegámos com atraso a uma Europa onde só seis países (em 27) têm a direita
abaixo dos 50%.
(…)
É verdade que a
imigração teve nestas eleições, como em muitas na Europa, um peso
extraordinário.
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A circulação aumentou
exponencialmente em todo o mundo e políticas mais ou menos restritivas não têm
conseguido controlar mais do que a taxa de regularização.
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Os imigrantes entram na
mesma. A não ser, claro, que aceitemos viver num Estado policial.
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A esquerda varia entre
o discurso dos direitos humanos, moralmente correto mas politicamente inútil, e
o utilitarista, que, apesar de ser indiscutível que a economia colapsava sem
imigrantes.
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[A comunicação social] passou
dois dias atrás de um político com azia e talento para o drama, mas não devemos
desprezar o poder imersivo das redes sociais.
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Alguém [que conheço]
que vive ao lado de imigrantes foi mais impactado pelas redes do que pela experiência
pessoal.
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Uma pessoa que fez
campanha disse-me que passou dias a desmentir, nos mercados, falsos recibos da
Segurança Social que lhe mostravam no telemóvel.
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A produção de desinformação tem uma escala que a
democracia nunca conheceu.
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O crescimento da
extrema-direita não vem das redes. A dificuldade em combater as doenças de que
ela é sintoma sim.
Daniel
Oliveira, “Expresso” (sem
link)
Na área do Ambiente há
decisões tão arrastadas, que já se tornaram um património de atrasos de vida.
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E são sobretudo
afazeres que só nos beneficiam na saúde e qualidade de vida.
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[Sobre resíduos
urbanos] não há tempo a perder para uma mobilização de todos e recorrendo a
clássicos mediadores de proximidade, como são as escolas e as Juntas de
Freguesia.
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[Sobre as águas] não
vale a pena tapar o sol com a peneira e andar a excitar o país com transvases,
barragens, dessalinizadoras e outras artes mágicas.
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Energias renováveis —
não há modo de justificar que as Comunidades de Energia Renováveis — úteis,
racionais e social e economicamente benéficas — continuem a ficar no fundo de
uma gaveta por razões desconhecidas e incompetências conhecidas.
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[Sobre poluição do ar] não
há maneira de justificar o adiamento de medidas inevitáveis para que seja
possível viver sem risco para a saúde nos lugares onde a maioria da população
portuguesa reside.
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Zonas costeiras — a
imparável sobreocupação do litoral, é um crime contra o futuro que todos vamos
pagar caro.
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Somos o único país da
Europa que os não tem [leia-se diretores de área protegida].
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Florestas — qualquer
força invisível continua a não permitir que se complete o cadastro e se avance
com o ordenamento florestal.
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[Alterações climáticas]
tudo impõe o cumprimento da Lei do Clima e do Relatório Nacional de Adaptação
(RNA 2100) para prevenirmos catástrofes e consequentes perdas humanas e
prejuízos económicos.
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O país tem vivido anos
a fio numa incapacidade de agir perante todos estes problemas, escondendo-se
atrás da aprovação de leis que não cumpre.
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A agenda do país está
aberta na mesma página há demasiados anos.
Luísa
Schmidt, “Expresso” (sem
link)
Ao jogo do empurra no
Bloco Central entre quem queria menos ir para eleições, o povo respondeu com a
manutenção da liderança e a substituição da alternância.
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O desejo de uma vida
melhor para todos deu lugar a um país revoltado, com um inconformismo azedo.
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Não interessa curar da
realidade, de ser verosímil, de não dizer o contrário do que se disse, não é
relevante insultar mulheres ou pessoas com deficiência, mentir descaradamente,
achincalhar no Parlamento ou entregar às etnias todos os males do Mundo.
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Na realidade, nada
interessa quando se estima que 58% dos perfis que se relacionam positivamente
com o Chega são falsos.
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Farto de
eleições, já ninguém se atravessará pela voz do povo caso algum partido resolva
desencadear uma nova crise política.
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Se [o PS] deixar que,
também materialmente, seja a extrema-direita a tomar o seu lugar enquanto
oposição, não só cavará a profundidade da perda como entregará ao PSD a
mensagem de que “a seguir são vocês”.