(…)
Ambos são muçulmanos. E ambos estarão mais
expostos a alguma forma de violência, física ou psicológica.
(…)
É neles que penso ao ver os resultados que a
nossa democracia teve. Em pessoas.
(…)
A pequena escola primária dos meus filhos
permanece aberta graças às crianças que vieram de outros países. Os seus
pais contribuem para o excedente da Segurança
Social.
(…)
Portugal nunca foi um país de imigrantes.
Tornou-se num graças ao crescimento económico sustentado dos últimos dez anos.
(…)
Precisamos de um bode expiatório para os
problemas que temos ou que imaginamos ter.
(…)
[Portugal recebe] migrantes, atraídos por
oportunidades de trabalho e de negócio. E isso é novo, muito novo. Não
estávamos habituados.
(…)
Penso
nas múltiplas forças políticas e ideológicas que, apesar das lutas ferozes, se
uniram para construir a democracia, social e pluralista, celebrada todos os anos
no dia 25 do mês de Abril.
(…)
Que bom seria agora sonhar com um país multicultural,
aberto à vocação universal que já foi a sua.
(…)
Continuarei
com o meu filho a jogar à bola com o seu amigo, e a receber a amiga da minha
filha cá em casa.
(…)
E tentar
estar preparado, para quando chegar a hora de ter de me colocar entre eles e
alguma forma de violência.
Rui Vasconcelos, “Público” (sem link)
O
cenário é devastador para o eleitorado de esquerda — não só pela composição
parlamentar diminuta, mas pelo surgimento de um claro candidato à governação da
direita radical populista.
(…)
Claramente, não sou alguém que beneficie desta
nova geografia parlamentar.
(…)
A ascensão do Chega, com um discurso populista, revela uma
valorização crescente de propostas que prometem soluções rápidas para problemas
complexos.
(…)
Os soundbites
fáceis e a ausência de pensamento estruturado funcionam em campanha — ainda
mais quando aliados a uma estratégia de vitimização ao estilo bolsonarista ou
trumpista, que se tem revelado eficaz.
(…)
Ficou
claro que a falta de idoneidade do primeiro-ministro não incomoda grande parte
do eleitorado. A estratégia de vitimização utilizada pela coligação da AD
resultou.
(…)
Apesar de Luís Montenegro a ter transferido
para a esposa, continuou a beneficiar financeiramente.
(…)
[A AD] defende políticas migratórias mais
restritivas, aproximando-se da agenda da extrema-direita.
(…)
[Portugal] precisa de mão-de-obra para cumprir
o PRR e responder às necessidades do mercado laboral (INE, Censos 2021).
(…)
A ideia de superioridade de um “nós” face aos
"outros" que chegam para trabalhar tem raízes profundas. É
herdeira de um legado colonial paternalista que Portugal evita confrontar no
espaço público.
(…)
O
Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024 alertava para o aumento do
aliciamento de menores por grupos de extrema-direita através da internet.
(…)
Ao contrário de vários países europeus, não
reforçou o financiamento à investigação e ao desenvolvimento.
(…)
As
eleições de 2025 reflectem um país desatento, à procura de soluções imediatas e
simplistas, sem políticas inclusivas, desinvestido em áreas estruturais.
(…)
Tenho
claro o que não quero: um país desigual, que desvaloriza o Estado Social,
recompensa o chico-esperto e responde a interesses económicos, e não ao bem
comum.
Marta Pinto Machado, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário