quarta-feira, 21 de maio de 2025

CITAÇÕES QUARTA (156)

 
Ao ver os resultados destas eleições, penso no amigo com quem o meu filho joga futebol ao fim-de-semana, e na amiga que volta e meia vem cá a casa brincar com a minha filha.

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Ambos são muçulmanos. E ambos estarão mais expostos a alguma forma de violência, física ou psicológica.

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É neles que penso ao ver os resultados que a nossa democracia teve. Em pessoas.

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A pequena escola primária dos meus filhos permanece aberta graças às crianças que vieram de outros países. Os seus pais contribuem para o excedente da Segurança Social.

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Portugal nunca foi um país de imigrantes. Tornou-se num graças ao crescimento económico sustentado dos últimos dez anos.

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Precisamos de um bode expiatório para os problemas que temos ou que imaginamos ter.

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[Portugal recebe] migrantes, atraídos por oportunidades de trabalho e de negócio. E isso é novo, muito novo. Não estávamos habituados.

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Penso nas múltiplas forças políticas e ideológicas que, apesar das lutas ferozes, se uniram para construir a democracia, social e pluralista, celebrada todos os anos no dia 25 do mês de Abril.

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Que bom seria agora sonhar com um país multicultural, aberto à vocação universal que já foi a sua.

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Continuarei com o meu filho a jogar à bola com o seu amigo, e a receber a amiga da minha filha cá em casa.

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E tentar estar preparado, para quando chegar a hora de ter de me colocar entre eles e alguma forma de violência.

Rui Vasconcelos, “Público” (sem link)

 

O cenário é devastador para o eleitorado de esquerda — não só pela composição parlamentar diminuta, mas pelo surgimento de um claro candidato à governação da direita radical populista.

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Claramente, não sou alguém que beneficie desta nova geografia parlamentar.

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A ascensão do Chega, com um discurso populista, revela uma valorização crescente de propostas que prometem soluções rápidas para problemas complexos.

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Os soundbites fáceis e a ausência de pensamento estruturado funcionam em campanha — ainda mais quando aliados a uma estratégia de vitimização ao estilo bolsonarista ou trumpista, que se tem revelado eficaz.

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Ficou claro que a falta de idoneidade do primeiro-ministro não incomoda grande parte do eleitorado. A estratégia de vitimização utilizada pela coligação da AD resultou.

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Apesar de Luís Montenegro a ter transferido para a esposa, continuou a beneficiar financeiramente.

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[A AD] defende políticas migratórias mais restritivas, aproximando-se da agenda da extrema-direita.

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[Portugal] precisa de mão-de-obra para cumprir o PRR e responder às necessidades do mercado laboral (INE, Censos 2021).

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A ideia de superioridade de um “nós” face aos "outros" que chegam para trabalhar tem raízes profundas. É herdeira de um legado colonial paternalista que Portugal evita confrontar no espaço público.

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O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024 alertava para o aumento do aliciamento de menores por grupos de extrema-direita através da internet.

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Ao contrário de vários países europeus, não reforçou o financiamento à investigação e ao desenvolvimento.

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As eleições de 2025 reflectem um país desatento, à procura de soluções imediatas e simplistas, sem políticas inclusivas, desinvestido em áreas estruturais.

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Tenho claro o que não quero: um país desigual, que desvaloriza o Estado Social, recompensa o chico-esperto e responde a interesses económicos, e não ao bem comum.

Marta Pinto Machado, “Público” (sem link)


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