(…)
A atmosfera belicista em que vivemos é inimiga do bem comum e
pode “justificar” o aniquilamento dos nossos direitos sociais, culturais,
cívicos e políticos.
(…)
Ali [na Ucrânia], pode instalar-se um foco de gestação de
conflitos na Europa e em outras latitudes.
(…)
[A guerra na Ucrânia tem] como expressão maior de violência,
de hipocrisia e de desumanidade os massacres e o genocídio que vêm sendo
praticados por Israel sobre o povo palestiniano.
(…)
É preciso lutar pela paz e defender políticas de cooperação
efetiva entre países e povos, respeitando reciprocamente as suas culturas.
(…)
Há instituições do sistema económico em que vivemos que
projetam a posição relativa dos países a partir dos seus PIB, para o ano 2050,
e concluem que nessa altura os Estados Unidos da América estarão em terceiro
lugar, sendo que nos dez primeiros não estará nenhum país europeu.
(…)
A Alemanha anunciou esta semana que avançará com 5% do PIB
para se armar.
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O quadro de alianças está em acelerada mutação.
(…)
A Europa vai (re)industrializar-se a partir da indústria
bélica e matando o Estado social?
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Não haverá democracia sem salários dignos e estabilidade no
trabalho, sem valorização das profissões e qualificações, sem direitos
sindicais, sem escola pública de qualidade.
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Não haverá democracia sem um bom Serviço Nacional de Saúde e
um Sistema de Segurança Social Público, Universal e Solidário, ou sem acesso a
habitação digna. Reflitamos.
Embora talvez com algum período de nojo e aceitação, mal
seria se as eleições servissem para julgar a moralidade dos actos.
(…)
Se tal acontecer, estamos mais perto da americanização da
política portuguesa do que alguma vez julgámos.
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À semelhança de Trump e Bolsonaro, a mediatização das
convulsões é, também ela, um indicador de como alguma comunicação social troca
o trigo pelo joio.
(…)
O voto de domingo dirá muito sobre o tratamento hospitalar de
urgência de alguma comunicação social, só aparentemente utilizadora de pulseira
laranja.
(…)
Por mais dissonante que possa parecer, o anúncio da
candidatura presidencial do almirante Gouveia e Melo é o tiro mais certeiro da
campanha das legislativas e isso diz muito sobre quem sobrevoa e sobre quem
aterra sem chão.
Oitenta anos depois [do final da 2ª Guerra Mundial], o
exercício de memória e de reflexão parece cada vez mais premente.
(…)
Esta [ordem internacional liberal], construída com base num
movimento de internacionalização dos direitos humanos, que trazia
consigo a esperança de um mundo melhor, parece chegada aos seus momentos finais.
(…)
Lucidamente
[João Cardoso Rosas, nas páginas deste jornal] concluía, como outros têm feito,
que esta ordem mundial, que trazia consigo a esperança de um mundo melhor,
parece chegada aos seus momentos finais.
(…)
Estamos num chão que é novo para os vindouros do pós-Guerra.
(…)
[Há um quarto de século] havia adquiridos civilizacionais que
julgávamos duradouros, quando não permanentes.
(…)
Mesmo
nos momentos mais extremos, como os tempos da Guerra ao Terror do pós-11 de
Setembro, (pelo menos) o discurso ainda prestava tributo aos direitos humanos.
(…)
Era
ainda o tempo em que, como dizia Norberto Bobbio, o maior problema dos direitos
humanos na ordem internacional não era o de os fundamentar ou justificar a sua
validade, mas sim o de os proteger.
(…)
Hoje,
no entanto, nesta nova ordem que desponta, parece que os direitos humanos e a
paz passaram, ambos, a ser subversivos.
(…)
A
comunidade internacional parece votada ao descrédito, com a barbárie de uma população a ser chacinada, em Gaza,
perante os seus olhos e perante a sua passividade.
(…)
[Na Europa] vemos agora uma chamada ao rearmamento, com uma
retórica de guerra até hoje inédita.
(…)
Em Portugal, mergulhados em mais uma campanha eleitoral,
parecemos alegremente alheios a esta reflexão.
(…)
Se ainda não
sabemos se teremos de sacrificar o Estado social ao "investimento na defesa",
pelo menos já importámos para o mainstream político a discussão sobre a
pertinência da educação para a cidadania nas escolas ou a retórica imoral da
caça ao imigrante.
Ana Rodrigues, “Público” (sem link)
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