Foi divulgado, na passada terça-feira, o Relatório de 2025 do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
(…)
O liberalismo económico tende a aumentar a riqueza de alguns,
poucos, à custa do empobrecimento da maioria dos cidadãos.
(…)
O crescimento económico sem justa distribuição é
depauperamento dos mais frágeis e agravamento de desigualdades.
(…)
As conclusões do relatório são muito preocupantes:
[Por exemplo: agravou-se a brecha entre países ricos e países pobres: se
os resultados de 2024 passarem a “novo normal” as metas de combate à pobreza
estabelecidas pela ONU para 2030, serão “adiadas por décadas”]
(…)
As instituições internacionais que nos vêm impondo o
liberalismo económico, como o Banco Mundial e suas “extensões”, agem em favor
dos países ricos e do grande poder económico e financeiro.
(…)
Só que, enquanto [o Banco Mundial] não tem tido falta de
financiadores e as suas orientações são tomadas como leis universais, [o PNUD,
ou a Organização Internacional do Trabalho], lutam pela sobrevivência e
as suas recomendações são secundarizadas ou combatidas.
(…)
Para aferição do desenvolvimento humano o PIB per capita é
considerado, mas acompanhado de uma bateria de outros indicadores.
(…)
Precisamos de forças sociais e políticas que se comprometam a
dar um passo em frente na luta contra o abismo do retrocesso social.
Carvalho da Silva, JN
Acho que nunca escrevi um artigo em estado de maior
indignação.
(…)
O que se passa em Gaza e no território da Autoridade
Palestiniana convoca (…) tudo o que quiserem, mas tudo
está abaixo de um repto moral, de uma obrigação de falar, de um dever de
protestar e actuar perante um massacre cruel, diante dos nossos olhos, de um
povo, o palestiniano.
(…)
Só conheço uma comparação para esta indiferença (…) o encolher de
ombros de todos os que sabiam que o Holocausto estava em curso (…) e
nada fizeram.
(…)
E não
me venham com a história do anti-semitismo, que é um argumento insultuoso para
justificar os crimes de Israel, da mesma natureza que o canto “desde o rio até
ao mar” serve para justificar o massacre do Hamas.
(…)
[O que
se passa nos dias de hoje] é uma política de destruição em massa de um povo e
do seu “lugar”, e conheceu mais um agravamento na semana passada, com o anúncio
da anexação de mais uma parte do território de Gaza ao Estado de Israel.
(…)
A
hipocrisia moral de muitos países da União Europeia, como Portugal, [leva a] que
nem sequer o passo de reconhecer o Estado palestiniano são capazes de dar.
(…)
Se for
levada a sério, com a instalação de embaixadas no novo Estado, a assinatura de
acordos económicos, políticos e militares, com um Estado soberano, então a
coisa fia mais fino.
(…)
Acresce que Israel, violando todas as regras do direito
internacional, conduzindo um massacre quotidiano, não tem sanções.
(…)
Todos
os dias [Israel é responsável pela morte de] gente inocente, crianças,
mulheres, velhos, sem sequer qualquer racionalidade militar que não seja
destruir, matar ou atirar para fora da sua terra milhões de pessoas.
(…)
E, já
agora, não convinha perguntar, em plenas eleições, algo de verdadeiramente
importante ao PS, ao PSD, ao CDS, ao Chega, por aí adiante, se, chegando ao
Governo, estão dispostos a reconhecer o Estado palestiniano.
(…)
[Se] estão
dispostos a impor sanções a Israel e a usar todos os meios ao dispor de um
Estado da União Europeia para punir os criminosos?
Pacheco Pereira. “Público” (sem link)
Um dos
elementos mais relevantes da herança traumática da Segunda Guerra Mundial e da
vontade das nações em não permitir o regresso da barbárie foi a institucionalização
dos direitos humanos.
(…)
Esses
direitos foram pensados e criados entre 1945 e 1948, no quadro da Organização
das Nações Unidas e da elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
aprovada pela Assembleia Geral reunida para o efeito em Paris.
(…)
Até ao surgimento dos direitos humanos na esfera internacional
(…)
os Estados podiam fazer o que que quisessem com os seus habitantes e nada nem
ninguém podia interferir com essa ação.
(…)
Com os direitos humanos, estabeleceram-se limites ao que os
Estados podiam fazer com todos os que permaneciam no seu território.
(…)
Esses limites eram rigorosos, mensuráveis e escrutináveis
pelos organismos internacionais, pelos outros Estados e pela opinião pública
internacional.
(…)
O discurso dos direitos humanos começou a ganhar maior
relevância com o chamado “apaziguamento” entre as duas superpotências.
(…)
Contudo,
foi ainda mais tarde, já depois da queda do Muro de Berlim e do final da Guerra
Fria, que os direitos humanos se tornaram a narrativa dominante. Mas por pouco
tempo.
(…)
Os adversários dos direitos humanos continuavam a simular o
seu interesse por eles, tal era a força do discurso dominante.
(…)
[Com o segundo mandato de Trump] e juntamente com a “ordem
internacional liberal”, os direitos humanos deixaram de ter relevância a nível
internacional.
(…)
Os países nos quais os equilíbrios liberais-democráticos
consigam resistir aos partidos da direita radical (…) poderão
manter na sua agenda política interna a centralidade dos direitos fundamentais
dos seus cidadãos e dos que passam pelo seu território.
(…)
Os direitos humanos (…) permanecerão como recordação de um
mundo que poderia ter sido melhor.
João Cardoso Rosas, “Público” (sem link)
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