(…)
O que posso afirmar é que, enquanto advogada,
assisti a todas essas situações.
(…)
Atrevo-me
a garantir que todos os idosos que receberam cartas dos senhorios naquela
altura, ou pelo menos aqueles que sabiam da alteração legislativa, ficavam em
sobressalto.
(…)
Talvez
os leitores tenham a experiência do sobressalto de receber uma qualquer carta
da Autoridade Tributária. Somos todos humanos e reagimos todos ao perigo.
(…)
Reabilitaram
as cidades, e claro que isso é positivo, mas à custa da expulsão de centenas ou
milhares de pessoas que deixaram passar o prazo de resposta aos senhorios, que
deixaram de poder pagar as rendas aumentadas ou que simplesmente viram os
contratos chegar ao fim, decorrido o período de transição.
(…)
Pagou-se um preço muito alto pela reabilitação.
(…)
[Acusar
Mariana Mortágua de ter mentido] ajuda muito a estabelecer o paralelismo com o
populismo da extrema-direita, que de facto tem mentido quase todos os dias
nesta pré-campanha.
(…)
[A
Mariana Mortágua] deve ser reconhecido rigor no que afirma e o prévio estudo
dos temas sobre os quais fala. A comparação é ofensiva.
(…)
É
altamente esclarecedor que continuem a defender uma lei que tanta mossa fez à
vida de milhares de portugueses e que acabou por contribuir para a crise na
habitação que enfrentamos.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Como notas em subtítulo, as juras sobre o que é verdade numa
campanha política repleta de demagogia onde essa verdade, se interessa, não é
reconhecida como elemento fundamental.
(…)
A verdade interessa pouco quando a perseguição a quem não diz
a verdade já ganhou e as notas artísticas não têm a mentira como ponderação.
(…)
Os bravos do pelotão em feiras poderão voltar à tradicional
forma de fazer política que garanta os votos dos mesmos.
(…)
Às voltas com a verdade, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro
digladiam números que dificilmente sustentam ou entendimentos reversíveis sobre
o que pode ser a governabilidade do país.
(…)
No momento em que os portugueses se revêem ao espelho numa
crise de afirmação, é estranho que os políticos lhe entreguem falsas certezas
em ritmo expresso.
Na última década temos testemunhado o avanço,
embora parcial, dos direitos humanos das pessoas LGBTQIA+ em diversos países,
incluindo Portugal.
(…)
Infelizmente esse avanço tem sido acompanhado
por um movimento conservador e reacionário que se posiciona contrário a estes
progressos sociais.
(…)
A casa
de banho é o espaço que melhor ilustra o crescimento dos movimentos
fundamentalistas e de extrema-direita, pois este espaço traz consigo todo um
imaginário estereotipante e policialesco das formas de ser e estar no mundo.
(…)
Assim,
o uso das casas de banho por pessoas com identidade de género não binária ou
por pessoas trans e travestis se tornou “controverso” e as casas de banho
viraram um espaço de disputa,
(…)
Diversos
estudos apontam para o impacto negativo que a falta de respeito pela
autodeterminação da identidade e expressão de género traz para crianças e
adolescentes trans, sobretudo no ambiente escolar.
(…)
Segundo
a UNESCO,
no âmbito da União Europeia, em 2019, apenas 8% das pessoas
entre os 15-24 anos de idade se declararam abertamente LGBTQIA+ na escola,
enquanto 43% disseram ter sido alvo de burlas, insultos e ameaçadas na escola
por serem LGBTIA+.
(…)
Em
Portugal há um vasto conjunto de exemplos recentes que ilustram o avanço de
discursos e políticas “antigénero”, antitrans”, “anti-LGBT” e da chamada
“ideologia de género”, principalmente no âmbito escolar, promovidos por grupos
e partidos de extrema-direita.
(…)
Há
também partidos políticos que usam suas plataformas para fazer campanha contra
casas de banho mistas nas escolas, como é o caso do Chega.
(…)
Nenhum
dos argumentos usados por esses grupos e partidos políticos de extrema-direita
são embasados em evidências científicas, muito pelo contrário, são apelações
baseadas em ideias estereotipadas e acima de tudo estigmatizantes de um
segmento da população, nomeadamente a população transgênera.
(…)
[Há
evidência documentada] que estudantes LGBTQIA+ têm sofrido violência e
discriminação por não ter o acesso às casas de banho e balneários garantido.
(…)
Cerca de um quarto [de muitos/as jovens
LGBTI] evita frequentar espaços como os balneários, casas de banho ou
aulas de Educação Física”.
(…)
As casas de banho são uma necessidade de todos,
mas ainda são um espaço inacessível para muitos.
(…)
Contudo,
dentro desta temática, uma alternativa à desinformação e os discursos de ódio é
conhecer iniciativas e projetos que trabalhem estas questões e que possam,
eventualmente, ajudar-nos a superar as barreiras culturais e políticas que se
utilizam como fundamento para manter vigentes as desigualdades de género.
(…)
[Esse
projetos demonstram que] para uma parcela da população aceder a este espaço
implica antes atravessar (e sobreviver) a um conjunto de interdições e vetos.
(…)
Como
visto, o debate sobre casas de banho vem de longe e atravessa diferentes
países, mas tem em comum o crescimento da extrema-direita.
(…)
É
imprescindível também repensar a segregação das casas de banho não só desde o
ponto de vista da arquitetura, mas à luz dos corpos que irão fazer uso desse
espaço.
Josefina Cicconetti, “Público” (sem link)
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