(…)
[A esquerda acredita] que ele perde na
comparação com estes oito anos de governo e parece-me que têm ainda mais razão.
(…)
Se os partidos de esquerda achassem que esta
aparição era má para eles não faziam dela centro dos discursos. Passos mobiliza
e recorda.
(…)
Não é preciso falar dos cortes das pensões e da
austeridade quando os pensionistas veem a cara de Passos Coelho numa campanha.
(…)
O que ninguém tira a Passos é o “ir para alem
da troika”.
(…)
Ninguém lhe tira o “se estamos no desemprego,
temos de sair da zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras".
(…)
Ninguém lhe tira o ter dito aos professores
para emigrarem porque havia docentes a mais.
(…)
Não há reescrita da história que faça ignorar
que introduziu novos cortes nas pensões e em escalões de rendimentos muito mais
baixos.
(…)
Terminado o período de intervenção externa, já
em 2014, disse que não era possível voltar aos níveis de remuneração que tínhamos
antes desta crise.
(…)
Errou sempre porque acreditava na austeridade
para lá do que nos foi imposto.
(…)
O eleitorado que Passos Coelho disputa ao Chega
é o que o Chega conquistou ao PSD nas últimas eleições.
(…)
Para o eleitorado mais saudosista, o discurso
de Passos pode apenas sublinhar a diferença da sua clareza em relação ao
discurso sempre vago de Montenegro.
(…)
Se alguém tem dúvidas sobre a ausência de muros
entre o PSD de Passos Coelho e o discurso do Chega, a associação que fez entre
imigração e insegurança deixa tudo muito claro.
(…)
A associação que Passos fez [entre
criminalidade e imigração] não é apenas politicamente inaceitável, é
factualmente errada.
(…)
A imigração subiu 80% em dez anos, o número de
reclusos estrangeiros diminui 27%.
(…)
E, acrescento eu, nessa mesma década criminalidade
grave e violenta diminuiu 24%.
(…)
O discurso mais cínico diz que [associar
criminalidade e imigração] é a forma de não deixar a extrema-direita à solta e
disputar os seus eleitores.
(…)
Passos fez o tempo andar para trás. Tenho
dúvidas que isso seja bom para Montenegro.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
O discurso de Pedro Passos Coelho, na sua
aparição na campanha, foi importante na clarificação do que é a AD.
(…)
Para conseguir um objetivo, aceitaram [no PSD]
coligar-se com um homem sobejamente conhecido por ser misógino.
(…)
A AD chamou Passos Coelho, que, com toda a
convicção, fez um discurso que poderia ser de Ventura.
(…)
Passos
Coelho sabe bem que não existe um problema de falta de segurança em Portugal e
sabe também que a criminalidade não aumentou com a imigração.
(…)
[Muitos] afirmam que se trata de uma estratégia
de Passos para tirar votos ao Chega.
(…)
As
palavras de Passos Coelho insuflam qualquer sensação de insegurança que os
portugueses possam ter e o eventual medo de imigrantes que possam sentir.
(…)
Em vez
de desmontar os mitos que possam assolar a cabeça das pessoas, como era sua
obrigação enquanto antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho preferiu meter
o dedo na ferida e escarafunchar.
(…)
Pessoas
que só querem trabalhar e lutar por uma vida melhor são temidas e odiadas. É
vergonhoso que os recebamos assim.
(…)
Na
verdade, faz mais sentido que Passos Coelho tenha apenas pretendido
desdramatizar a gravidade que muitos eleitores atribuem à mensagem de André
Ventura.
(…)
Ao
fazer isso, vai preparando o caminho para a AD fazer um acordo de governação
com o Chega e para esse acordo não ser malvisto pelos eleitores da coligação de
direita.
(…)
Passos Coelho quer um entendimento com o Chega.
(…)
Tudo isto é profundamente lamentável.
(…)
Se
alguns apoiantes da AD ficaram agradados com o suposto golpe de mestre, grande
parte dos restantes eleitores sentiu naquele discurso um abanão.
(…)
Quem
não aceita xenofobia terá percebido melhor a importância do seu voto e o significado
de cada quadradinho no boletim de 10 de março.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Há um acordo, nestas eleições, sobre expandir infraestruturas
e projetos que aumentarão as emissões de gases com efeitos de estufa.
(…)
A crise climática está a criar colapsos sociais causados por
mudanças drásticas nos ciclos climáticos globais, produzindo caos nos sistemas
alimentares, nos ciclos de água doce, e nos sistemas energéticos, de
transportes e de saúde.
(…)
Isso significa uma regressão civilizacional histórica, da
qual a subida da extrema-direita a nível internacional é apenas um dos
primeiros sinais.
(…)
Na emergência climática não há meios termos, “passinhos” em
frente, ou “reformas no bom sentido”.
(…)
Sobre a crise climática é ganhar ou perder.
(…)
O movimento por justiça climática recusar-se-á a consentir
com a derrota garantida que este sistema nos impõe.
(…)
O facto da maioria dos partidos que concorrem a eleições
reconhecerem a crise climática é irrelevante se posteriormente apresentam uma
negação programática do que esta significa.
(…)
O debate nestas eleições está a ser por definição
anti-democrático (…) que não contempla qualquer plano para travar a
catástrofe climática.
(…)
Os termos em que acontece [o atual processo eleitoral]
comprometem qualquer democracia, justiça social e direitos constitucionais.
(…)
[Estamos perante uma] incompatibilidade efetiva por parte de
todos os programas políticos presentes a eleições com as ações necessárias para
travar o caos climático.
(…)
A verdadeira paz e um real travão de emergência para reverter
a marcha em curso em direção ao caos climático não estará nas mesas de voto.
Leonor Canadas, “Expresso”
online (sem link)
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