(…)
Quando uma vaga assola a Europa, Portugal não tem como ficar
imune. Pode chegar mais tarde, mas chega sempre.
(…)
[Contudo] a extrema-direita sempre aqui esteve.
(…)
[Sobretudo], como podia não estar depois de meio século de
ditadura que moldou a nossa forma de pensar, sentir e viver?
(…)
Repousava entre eleitores do PSD e do CDS ou abstencionistas.
(…)
O segredo da extrema-direita é mentir a quase todos.
(…)
O radicalismo da extrema-direita é radicalmente oportunista.
(…)
Sempre foi, historicamente, um botão de emergência da elite
económica. Que sempre a sustentou, aliás.
(…)
Os oportunistas não têm de criar nada. Só têm de saber
aproveitar a oportunidade.
(…)
De caminho, desestruturam as formas organizadas de
resistência e alimentam o caos para, sobre ele, se endurecer o poder... da
casta.
(…)
As redes sociais contam imenso, chegam a mais gente e são
ainda mais fáceis de manipular do que os media tradicionais [para fazerem
crescer o monstro].
(…)
Foram os programas desportivos que banalizaram a incivilidade
como forma espetacular de debate.
(…)
[Ventura] nasceu num estúdio de televisão a trocar gritos
sobre futebol. É uma criação desta indústria.
(…)
O habitat natural da extrema-direita [é o escândalo, a
polarização e o confronto]
(…)
[A direita] não cresce como alternativa, mas como uma
barafunda autofágica, de que os Açores são só mais um exemplo.
(…)
O Chega resume-se naquelas 12 horas, em novembro de 2020,
quando votou de três formas diferentes a anulação da transferência para o Novo
Banco.
(…)
Em dois programas, passou da privatização das escolas à
defesa de uma TAP pública.
(…)
O PS sabe o que esperar do BE e do PCP. Até usou essa
previsibilidade para os tramar. Quanto ao Chega, a única certeza é que o seu
calculismo se sobreporá a tudo e a todos.
(…)
E quando sonha ser, como alguns dos seus congéneres europeus,
a primeira força nacional, uma aliança com o PSD teria como único objetivo dar
o golpe de misericórdia à direita tradicional.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
As fábricas destas indústrias [das distrações, do
engraçadismo e da superficialidade] estão sediadas nas redes sociais e os
patrões destas indústrias são agências e consultores de marketing
(…)
Desta cloaca das redes sociais passam para a superfície na
comunicação social (…) que tem uma agenda política.
(…)
O
resultado é tornar, nas democracias, a opinião pública e, subsequentemente, os
eleitores, em sujeitos de manipulação, que aceitem ou recusem ideias, pessoas,
eventos, falsificações, conspirações.
(…)
[A indústria da distração] gera nos adultos o equivalente ao
défice de atenção das crianças, uma das pragas actuais no ensino.
(…)
O
mecanismo principal é entreter os seus alvos, de modo a que tenha o efeito de
esquecer a vida miserável da maioria das pessoas.
(…)
[O] efeito é tornar as trivialidades do dia coisas
aparentemente sérias e interessantes.
(…)
O
objectivo é provocar ou fúria ou arregimentação, para trivialidades
apresentadas como escândalos que alimentam os exércitos radicalizados que são o
público destas coisas e ocupar-lhes o tempo, as emoções e a atenção.
(…)
Distraiam-se,
pois, das guerras, dos que estão a ser traídos nessas guerras, da
ingovernabilidade que nos vai cair em cima num período de crise mundial, dos
abusos do MP, das violações dos direitos com prisões sem prazo para interrogar (…).
(…)
Esta indústria da distracção trabalha em conjunto com a da
superficialidade.
(…)
Que bom que é tornar questões simples (…) para
que se pense o mínimo ou mesmo nada, aderindo ou recusando as ideias, pessoas,
causas e coisas.
(…)
Esta indústria vive também da ignorância agressiva, que é uma
das marcas das redes sociais.
(…)
Hoje
estes mecanismos funcionam também espontaneamente, porque muita gente já não
sabe viver doutra maneira na sua relação com o espaço público.
(…)
Este é
um mundo narcisista e muito preguiçoso e é péssimo para os dias que vivemos,
com a democracia fragilizada e em risco mesmo, tal como as nossas segurança e
liberdade.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
A
ideia de que Donald Trump está a ser usado por Deus para moralizar a América,
mesmo por causa e apesar de todos os seus defeitos, é uma crença tão forte que
quase faz equivaler o trumpismo a uma religião.
(…)
A comparação mirabolante [de Trump com Jesus Cristo]
transforma-se numa verdade inabalável impossível de desconstruir, já não só com
argumentos políticos, com quaisquer raciocínios lógicos.
(…)
Os
fiéis do trumpismo (…), não se deixam reconverter.
(…)
Se
fosse Trump em vez de Jesus, o mais provável é que os vendilhões tivessem
continuado no templo, talvez em troca de lhe pagarem um certo dízimo. Mas vá
alguém dizer isso a um fanático.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A execução extrajudicial de três palestinianos, feita por
militares israelitas num hospital na Palestina, no pressuposto de que se
tratava de “terroristas do Hamas que preparavam ataques”, constituiu um ato
chocante.
(…)
Israel acusou a agência das Nações Unidas de Assistência e
Obras para Refugiados da Palestina de estar infiltrada por alguns militantes do
Hamas e ao seu serviço.
(…)
Em nome desse “facto”, 10 países grandes declararam que
deixariam de pagar as suas contribuições para aquela agência.
(…)
[Sendo assim] esses países aliam-se a Israel na deportação em
massa de palestinianos, ignorando o seu sofrimento e os seus direitos.
(…)
Em Portugal, estamos num atoleiro político que não é obra do
acaso. O contexto externo não ajuda, mas há graves culpas próprias, desde logo
erros crassos do Governo.
(…)
É possível que a extrema-direita esteja a atrair a juventude
que se sente frustrada.
(…)
Era uma evidência que a emigração de muitas centenas de
milhares de jovens qualificados reduziria a massa crítica e mobilizadora da
sociedade.
(…)
[A Justiça] tem contribuído para transformar o combate à
corrupção numa arma de arremesso que dispara, sem nexo, em todas as direções.
Seis anos depois, o caminho parece querer fazer-se para trás
quando Marcelo Rebelo de Sousa encarna o papel de negociador de direitos
fundamentais e veta os diplomas que visavam cumprir a lei da autodeterminação
da identidade de género nas escolas.
(…)
É preocupante a dificuldade de Marcelo para se distanciar de
situações em que a sua liberdade e poder influem na tomada de posição e veto
relativamente a direitos fundamentais.
(…)
Qualquer responsável político deve ter a obrigação de ser
maior do que as suas circunstâncias.
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