(…)
Maria Luís Albuquerque foi o rosto dos
sacrifícios que muitos portugueses tiveram de suportar em nome de uma política
falhada.
(…)
Mas há outros, portugueses e não portugueses, a
quem Maria Luís Albuquerque deixou memórias mais felizes.
(…)
Há, no
entanto, um elemento em comum em todas as funções que exerceu: o interesse
público foi invariavelmente lesado e vários interesses privados foram
invariavelmente protegidos.
(…)
Enquanto diretora da Refer, custou milhões à
empresa com os famosos contratos swap.
(…)
Foi
também no governo que presidiu à constituição de um monopólio privado nos
aeroportos portugueses com consequências incalculáveis para o desenvolvimento
do país e uma renda assegurada por meio século para a Vinci.
(…)
Foi um
dos membros do governo envolvidos no escândalo da TAP, comprada com o seu
próprio dinheiro e vendida ao desbarato por um governo sem legitimidade para o
fazer.
(…)
Foi
Maria Luís Albuquerque que aprovou o famoso (ou infame) “regime especial
aplicável aos ativos por impostos diferidos”, uma das medidas mais vantajosas
para a banca alguma vez aprovada em Portugal.
(…)
Vendeu o BPN por 40 milhões, ficando o Estado a
pagar o buraco.
(…)
Mas
foi quando Maria Luís Albuquerque era ministra que o Banif público vendeu
ativos a preço de desconto à Arrow, um fundo-abutre que veio mais tarde a
anunciar uma contratação de peso: a ex-ministra das Finanças.
(…)
Esta absoluta falta de ética e vergonha não é
defeito, é feitio.
(…)
Agora,
depois de trabalhar para a Morgan Stanley, vem para a comissão trabalhar em
dossiers em que a Morgan Stanley é uma interessada de primeira linha.
(…)
Maria Luís Albuquerque sabe que é protegida
pelos grupos da direita, mas também da extrema-direita que também foi namorando.
(…)
Maria
Luís Albuquerque irá iniciar esse mandato com a convicção que é certamente sua
de que o mundo pertence a quem não tem vergonha.
Catarina Martins e José Gusmão, “Público” (sem link)
A vitória de Trump mostra como a extrema-direita se tem
centrado, com êxito, no essencial: a conquista da hegemonia.
(…)
Através do controle de vastos setores da
sociedade civil (…) mas também de uma parte considerável dos media e das
redes e plataformas online (…) a direita mais radical percebeu com grande eficácia a
importância de colocar os seus “intelectuais orgânicos” nas esferas de persuasão.
(…)
Uma
mentira atua como verdade desde que se acredite nela e os republicanos, através
da sua “guerra de posições”, reverberaram no storytelling
hegemónico aquilo que as condições materiais de existência permitiram.
(…)
A
raiva e o ressentimento são o grau zero da política, mas oferecem-se como chão
fértil para projetos de tomada de poder.
(…)
Latinos e até mesmo alguns negros,
especialmente homens, votaram em Trump por medo da desclassificação social.
(…)
Sentindo-se vulneráveis, acreditam que os “maus
imigrantes”, dos “países de merda”, lhes vão roubar o pouco que têm.
(…)
As
ideias que levaram
Trump ao poder e que grassam, já não como um fantasma, mas como a face
histriónica do poder, estão em todo mundo e têm todas as condições para durar.
João Teixeira Lopes, “Público” (sem link)
A
COP16, cimeira da biodiversidade das Nações
Unidas, que teve lugar em Cali, Colômbia, terminou a 2 de Novembro, sem avanços
e cheia de impasses.
(…)
A discussão sobre o financiamento [do fundo
criado para conservação da biodiversidade] arrastou-se, mas os
mecanismos e procedimentos de supervisão ficaram protelados.
(…)
A
principal resolução sobre o financiamento foi o lançamento da venda de créditos
de biodiversidade, à semelhança dos de carbono.
(…)
Diluem-se as responsabilidades por parte dos
países signatários.
(…)
Esta
compra de créditos serve para melhorar a reputação das empresas e garantir a
continuidade da sua dependência em recursos naturais.
(…)
Em
muitas zonas do globo os ecossistemas, terrestres e marinhos, mostram já vários
limites críticos que, associados à alteração climática, podem ser ultrapassados
e originar mudanças rápidas e persistentes.
(…)
Restaurar a natureza, conservando e respeitando
a biodiversidade são, pois, políticas fundamentais para um futuro
ambientalmente saudável e economicamente viável.
(…)
A
sociedade actual é dependente do consumo de produtos que lhe possibilita a
visualização imediata de realidades diferentes e distantes, à distância de um click.
(…)
Ainda
não se compreendeu que temos muito de estudar para poder respeitar e aprender
com a natureza e não para a poder controlar.
(…)
O
valor da inacção é incalculável e não é sentido pela sociedade nem pelo poder
público, porque ainda não se sentiu nem em casa nem no bolso.
(…)
Há um contínuo adiar de soluções e olha-se
apenas para o que dá lucro directo.
(…)
Quando
as alterações climáticas
surgem e afectam as povoações, apenas se avalia a situação do momento e os
problemas sociais e económicos que daí advêm.
(…)
Após a COP da biodiversidade, vem a COP do clima que terá muito mais impacto mediático.
(…)
Ainda
não se compreendeu que a crise climática e a perda de biodiversidade são
questões que se interpenetram e não faz sentido serem tratadas individualmente.
(…)
A
necessidade das energias renováveis e
melhores baterias é muito mais fácil de implementar e de justificar do que a
acção global para conservar áreas de reserva agrícola ou ecológica.
(…)
Por
outro lado, a alteração provocada pela exploração mineira é complexa, lenta e,
por isso, pouco visível para uma sociedade urbana dependente do consumo
eléctrico e electrónico.
Maria Amélia Martins-Loução, “Público” (sem link)
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