(…)
Passada a pandemia, Presidente e primeiro-ministro perceberam
que a farda estava outra vez na moda e tentaram garantir a passividade de
Gouveia e Melo com um lugar de chefe do Estado-Maior da Armada que não lhe
estava destinado.
(…)
42 anos depois da extinção do Conselho da Revolução e do
regresso dos militares aos quartéis, um homem fardado foi diariamente indagado
sobre o seu futuro presidencial.
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Tirando umas vacuidades consensuais, não lhe conhecemos
qualquer posição política.
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Só a decadência da democracia pode explicar que um militar
ainda no ativo e sem qualquer currículo político ou cívico seja o mais sério
candidato à vitória.
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O líder do PS já se arrependeu, mas o homem das abstenções
violentas [António José Seguro] quando os executores da troika nem precisavam
delas foi rápido a sentir o chamamento.
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A alternativa a um militar que não sabemos o que pensa é um
político que sabemos que nada pensa. Ao vazio responde-se com o vazio.
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As televisões ainda acreditam que fazem reis. 2025 não é 2016.
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Escolha [a direita] quem escolher, a farda, mesmo no corpo de
um moderado, falará mais alto.
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É à esquerda que a reflexão é indispensável.
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Alguma coisa grave está a acontecer à democracia para Santana
Lopes ter mais currículo do que qualquer outro dos putativos candidatos.
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O melhor que a política tem para oferecer contra uma farda
sem um político lá dentro são políticos que se destacam como comentadores,
tecnocratas ou sacos de vento.
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A crise de quadros nos partidos e governos chegou à
Presidência.
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Estamos a rapar o fundo de um tacho vazio, porque a política
deixou de cozinhar gente capaz.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Não há eleição mais sumarenta e “trendy” que aquela que
evoque um culto de personalidade.
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A dificuldade dos partidos é evidente em encontrar alguém que
os portugueses entendam ser recto e cuidador.
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Um candidato de Esquerda só poderá vencer perante uma Direita
profundamente dividida, colhendo ao centro.
A
“questão” da Palestina e da solidariedade com o povo palestiniano é um
significante vazio que as Nações Unidas têm vindo a eternizar desde 1977.
(…)
Esta ocupação [de território palestiniano há
cerca de 70 anos] teve como consequência a transformação violenta do território
e a expulsão de mais de metade da população palestiniana.
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[Desde
essa data], centenas de povoações, cidades inteiras ou pequenas aldeias, foram
apagadas do mapa ou reduzidas a ruínas abandonadas à espera de que o tempo as
engula.
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O que
é importante reter é que a deslocação forçada da população palestiniana decorre
de uma estratégia política de limpeza
étnica praticada pelo Estado de Israel.
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Considero
ser cada vez mais legítimo falarmos de um quadro de genocídio que vem sendo
legitimado pela comunidade internacional a troco de interesses económicos na
região.
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É esta
fluidez cronológica de violações de direitos fundamentais que me leva a poder
dizer que o que aqui chamo de significante vazio se torna fácil de perceber e
difícil de aceitar.
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Dez
anos após a total ocupação da Palestina, a Assembleia Geral das Nações Unidas
instituiu, através da Resolução 32/40B, o dia 29 de novembro como o Dia
Internacional de Solidariedade para com o Povo Palestiniano.
(…)
Mas a
outra face da encenação do discurso "onusiano" é o reconhecimento
tácito da sua própria incapacidade para fazer cumprir as resoluções que
aprovou.
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Urge
alterar a correlação de forças entre Israel e a Palestina. Porventura, começar
pelo reconhecimento do direito à existência de dois Estados pode ser o primeiro
passo.
Carlos Morgado Braz, “Público” (sem link)
A mais de um ano das próximas eleições presidenciais, já há muitos meses que vários nomes de potenciais
candidatos circulam.
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Desde
a Primeira República que todos os presidentes se assemelham: são todos homens,
média de idade de sessenta anos em início de mandato e de sessenta e sete no
final.
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Parecem
enquadrar-se na categoria amplamente dominante, em cargos de poder, da
heterocisnormatividade branca, de classe média, alta ou burguesa, sem que
qualquer um deles, salvo erro, tenha origem operária.
(…)
Mérito?
Quem se arrisca a dizer que mulheres, pessoas racializadas ou queer não têm mérito? As
mulheres representam metade da população.
(…)
Como é possível que, até hoje, nenhuma tenha
tido o “mérito” de nos representar na Presidência da
República?
(…)
Bastaria
que duas mulheres tivessem sido eleitas consecutivamente para surgirem vozes a
defender que “desta vez era bom ser um homem”.
(…)
Se os
perfis que têm ocupado a Presidência são de facto hegemónicos, isso não
significa que representam, nem podem representar, a universalidade de todas as
experiências e identidades.
(…)
Para
repensarmos o modelo actual da Presidência da República, proponho que se
reflita, no mínimo, sobre a possibilidade de uma rotatividade de género.
(…)
Representar não implica dominar nem ocupar uma
posição de superioridade, ou de inferioridade.
(…)
Continuamos a perpetuar uma visão patriarcal e
aristocrática do poder, em que o Presidente da República encarna uma figura
paternalista.
Luísa Semedo, “Público”
(sem link)
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