(…)
Relembro que Portugal, durante a ditadura, para
além de um país com uma fatia enorme da população pobre — com cerca de
metade da população a viver da agricultura.
(…)
[Portugal] tinha um índice de analfabetismo superior a 75% para as mulheres e de 70% para os
homens.
(…)
Não
nos podemos esquecer de que as ditaduras são nutridas pela ignorância.
(…)
Para as ditaduras serem mantidas, as forças
políticas vigentes forçam o povo e controlam-no através da imposição de medidas
que potenciam o maior nível de ignorância possível.
(…)
[O
regime ditatorial] não é para ser questionado mas sim para ser imposto como
inderrubável.
(…)
A
grande diferença é que no Estado Novo, as pessoas não tinham acesso à
informação.
(…)
Hoje
em dia, quem escolhe apoiar ideias tradicionalmente fascistas (…): ignoram a
memória da ditadura.
(…)
A pobreza extrema, a fome, a falta de cuidados
de saúde com a mortalidade infantil em alta, ajudavam à opressão, a desviar as
pessoas dos assuntos políticos.
(…)
Além disso, a desigualdade de género estava
fortemente vincada na sociedade, com o ideal feminino da dona de casa, cuidadora.
(…)
Primeiro propriedade do pai e, pelo casamento,
passava a ser propriedade do marido.
(…)
Não podia sair do país sem autorização do
marido, não podia votar, não podia abrir conta bancária nem tomar
contraceptivos sem a autorização do marido.
(…)
Durante
a ditadura fascista, as mulheres não tinham direito à vida própria.
(…)
Podiam trabalhar, mas apenas se o marido
deixasse, ganhavam cerca de metade do salário, comparando com o dos homens.
(…)
Para garantir o controlo das mulheres,
criaram-se organismos de Estado que fizeram com que as mulheres se vigiassem a
si mesmas.
(…)
As
pessoas que vangloriam os ideais fascistas, esquecem-se das torturas a que mais de 30 mil
pessoas sofreram entre 1926 e 1974, presas por razões políticas
(…)
Não
se podia confiar em ninguém e esta realidade era, por si só, mais um
instrumento de repressão, já que impedia a troca de ideias, por meio do medo.
(…)
Quem quer voltar aos ideais de Salazar,
esquece-se da existência do Tarrafal, um
campo de concentração conhecido como “Campo da Morte Lenta”.
(…)
Esquece-se da tortura do sono, dos
espancamentos, choques elétricos e outros métodos de
tortura nas prisões da PIDE.
(…)
Não
é perdoável achar-se que “no tempo de Salazar estava-se melhor”. Não se estava.
(…)
A
informação sustenta a liberdade, a desinformação põe-na em perigo.
(…)
No
Estado Novo, as pessoas não tinham acesso à informação.
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Hoje
em dia, quem escolhe apoiar ideias tradicionalmente fascistas escolhe ignorar
informação crucial na sua escolha de orientação política: ignoram a memória do
Estado Novo.
(…)
Quando
a memória falha a muita gente, é preciso relembrar o terror da ditadura, as
vezes que forem necessárias.
(…)
Quando
temos pessoas a sonhar com uma opressão à moda Salazarista, o conceito de sonho
está corrompido.
(…)
Nas próximas eleições, votem. Não fiquem em
casa. Não votem em branco.
(…)
Lembrem-se,
quando votam, fazem-no para todas as pessoas do país e não só para vocês.
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Pensem nas minorias de poder mais oprimidas.
[A
espécie humana é] a única espécie que tem a capacidade “incrível” de deitar ao
lixo o que demorou séculos a aprender e que salva vidas.
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Rejeitam o
que metade do planeta gostava e precisava de ter, e não tem: acesso a cuidados
de saúde de qualidade.
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A
descoberta da vacinação e, mais tarde, a sua evolução é dos marcos mais
impactantes no número de vidas salvas da história da medicina.
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Trump escolheu, sem surpresas, um perfeito
lunático sem qualquer formação em saúde para seu “ministro da Saúde”.
(…)
Infelizmente, também sem surpresas, a realidade
não quer saber das crenças individuais e os resultados catastróficos já estão à
vista.
(…)
Neste
momento, já vamos com um surto [de sarampo] sem precedentes nas últimas
décadas, com perto de 1000 casos confirmados desde o início de 2025 e com a
morte de duas crianças e de um adulto.
(…)
Sabe-se que o sarampo é altamente contagioso e
pode deixar sequelas gravíssimas para todo o sempre.
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Vacinar
custa uns euros; e as hospitalizações e as sequelas custam milhares e milhares
de euros e consomem recursos humanos que são necessários noutras áreas.
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Sabemos que, em Portugal, Trump tem os maiores
admiradores das suas políticas no partido Chega.
(…)
Mas a
característica destes movimentos populistas de extrema-direita têm que leva a
mais mortes e mais sofrimento humano é a negação da ciência.
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O negacionismo da ciência em Portugal está
naquele partido [Chega].
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Pedro
Frazão conseguiu repetir uma mentira propagada por desinformação negacionista
ao dizer que em Portugal morreram 142 pessoas por causa da vacina contra a
covid-19, em Junho de 2023, quando na realidade morreram zero. Isto é muito
grave.
(…)
É um
facto que o cepticismo que se criou à volta das vacinas contra a covid-19
aumentou o cepticismo face a todas as vacinas.
(…)
Isto é
um assunto muito sério, p.e. a varíola, antes de ter vacina, terá morto cerca
de 300 milhões de pessoas durante duas décadas.
(…)
Em
África, cerca de 20% das crianças não recebem a vacinação básica e 500.000
crianças morrem todos os anos por falta dela: é este o caminho que os negacionistas
da ciência querem seguir?
(…)
Sobre
as alterações climáticas, a discussão é mais profunda, mais complexa, mas
talvez mais importante, porque é, sem dúvida, a maior ameaça à existência da
humanidade de sempre.
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Qualquer
pessoa, qualquer partido, qualquer decisão política que negue a evidência
científica, como Trump e o Chega fazem, têm infinitas mortes facilmente
evitáveis nas suas mãos.
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A ciência baseada na evidência é a verdade que
nos une e nos protege. Negá-la devia ser crime.