(…)
Ao fim
de 57 anos de ocupação ilegal dos territórios palestinianos (Jerusalém
oriental, Cisjordânia, Gaza, os montes Golã), Israel desencadeou há mais de 18
meses a mais devastadora das operações militares de quantas moveu contra os
palestinianos de Gaza.
(…)
Surpreende-nos
é que o Governo português e os governos de tantos países da UE e da NATO tenham
olvidado que “Israel não pode legitimamente invocar a autodefesa contra a
população sob a sua ocupação.
(…)
[Há que] recordar
os mais de 50 mil palestinianos (um terço dos quais crianças) mortos em Gaza
pelo exército israelita (número seguramente subavaliado como coincidem todos os
estudos independentes), ou os mil palestinianos mortos na Cisjordânia às mãos
de colonos que simbolizam o projeto descaradamente ilegal de ocupação
definitiva da Palestina.
(…)
O que
está a acontecer hoje em Gaza, na Palestina, é o extermínio da população
palestiniana e é um imperativo urgente denunciá-lo e exigir que cesse.
(…)
É
impossível negar que o Governo de Israel é responsável por crimes contra a
humanidade em Gaza, que esses crimes têm de parar e que os responsáveis devem
ser julgados e condenados.
(…)
Os direitos humanos nasceram, como escreveu Ana
Messuti, contra a possibilidade de existirem pessoas sem direitos.
(…)
Os
palestinianos estão a ser, perante os olhos de todos, vítimas de crimes contra
a humanidade, porque estão a ser o alvo de um ataque sistemático perpetrado
pelo Estado de Israel contra uma população civil.
(…)
São
atos desumanos justificados através de uma estratégia de despersonalização, em
que se nega a certos indivíduos o direito a ter direitos.
(…)
A esta
estratégia de desumanização adotada pelo Governo de Israel convém bem a ausência
de um reconhecimento generalizado do Estado da Palestina.
(…)
Para lutar
contra a infinita vulnerabilidade destas vítimas, para nos opormos à sua
desumanização, para exigirmos o respeito pelos seus direitos, é tão importante
o reconhecimento internacional do Estado da Palestina.
(…)
Se
Benjamin Netanyahu e os seus acólitos perderam todo o sentido de humanidade,
cabe ao resto do mundo recordar que as suas vítimas são pessoas, são humanas e,
como tal, dotadas de uma esfera de inviolabilidade a que chamamos direitos
fundamentais.
(…)
A
Federação Internacional de Jornalistas afirma que pelo menos 157 jornalistas e
trabalhadores da comunicação social já foram mortos em Gaza.
(…)
As imagens e as palavras são armas poderosas
contra a desumanização. Resistir passa também por recusar o silêncio.
(…)
Os
ataques deliberados contra jornalistas e produtores de cultura são uma prova da
necropolítica, da política da morte, do Estado de Israel em Gaza, tanto quanto
são os ataques aos ativistas dos direitos humanos e de ONG humanitárias.
(…)
Entre
as últimas vítimas, 15 paramédicos do Crescente Vermelho, que, no mês passado,
viajavam em ambulâncias devidamente sinalizadas e foram primeiro baleados,
depois detidos, executados “um por um”.
Cláudia Santos, Fernando Rosas e Manuel Loff, “Público”
(sem link)
Donald
Trump não pôs termo em 24 horas à guerra da Ucrânia e muito menos ao massacre
de Gaza. A bazófia do Presidente dos EUA é ilimitada.
(…)
[Três meses depois da tomada de posse,
Trump] iniciou
outras guerras de desfechos imprevisíveis.
(…)
A
começar na guerra comercial que nos remete para um cenário novecentista e a
acabar numa sanha perseguidora contra tudo o que possa aparentar progressismo e
justiça.
(…)
Nestes
tempos confusos, não há que hesitar em escolher. Há uma diferença substancial
entre a cobardia e a conivência e a coragem e a integridade.
(…)
Será
desafiante, e determinante, constatar até onde resistirá a independência
judicial do Supremo
Tribunal Federal perante a pressão inédita de um Presidente que se
considera acima da lei.
(…)
Sim,
há uma diferença entre a Universidade
de Columbia — assim como todas as outras que capitularam às imposições
presidenciais — e a Universidade de Harvard, que as rejeitou olimpicamente, com
lições
de civilidade a quem não as tem sobre a independência das instituições
académicas.
(…)
A mais conceituada e rica das universidades do
país fê-lo porque o podia fazer.
(…)
Mas
Harvard colocou os princípios acima do dinheiro e percebeu que o que está em
causa é a destruição do ensino superior de elite.
(…)
O que
motiva Trump é o ódio à diversidade, à inclusão, aos direitos das minorias e a
tudo o que lhe cheire a progressismo.
(…)
Algo está profundamente errado e em risco
quando um Governo (…) se sente no direito de escolher programas de
ensino.
(…)
Que
liberdade existe numa universidade ou num país quando o medo, a censura e a
autocensura amordaçam o espírito de discordância?
(…)
Ao fim
de três meses, há no partido democrata, para além de Alexandria Ocasio-Cortez,
quem não se resuma a assistir, impavidamente, à destruição dos apregoados
valores americanos.
(…)
A
nomenclatura democrata não está disposta a incomodar-se, com a excepção de
Barack Obama, convencida de que não será preciso fazer nada para deter Trump.
(…)
O partido republicano rendeu-se ao MAGA e corre
o risco de ser engolido por ele.
(…)
[A Hiatória] não se esquecerá de quem foi conivente e de quem foi íntegro.
(…)
Tudo o que Trump fez e quer fazer é
“antiamericano”.
Amílcar Correia, “Público”
(sem link)
[Ao longo de 12
anos o Papa] foi severo com quem escolhe o ataque aos mais frágeis para subir
na política. Criticou, sem meias palavras, a criminalização
da imigração e as políticas de deportação.
(…)
Se alguém era alvo dos
cultores do ódio para daí tirar vantagens políticas, ele lá esteve para o
defender.
(…)
Este Papa não foi uma exceção na Igreja.
Foi, aliás, mais uma tentativa de a Igreja se reencontrar com Cristo.
(…)
A Igreja é muita coisa. É o salão do
poder, o canto onde acontece o abuso, o púlpito onde se julga a diferença e o
fim do mundo, onde só a Igreja e Bergoglio vão.
(…)
Este foi o Papa que defendeu as vítimas do
ódio.
(…)
[Recordar a mensagem do Papa] é não permitir que se use a morte do Papa
para apagar a sua mensagem radicalmente corajosa e dolorosamente solitária.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
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