(…)
E foi o exemplo que lhe deu a força externa
para o poder interno que precisava contra as resistências à reforma que desejou
e só muito parcialmente cumpriu.
(…)
Não foi apenas uma mensagem para fora. Foi uma
exigência para dentro.
(…)
A forma como lidou com a vergonha dos abusos
sexuais não se centrou apenas na tentativa de fazer justiça e mostrar
arrependimento.
(…)
Em vez da defesa de uma Igreja sitiada, optou
por falar para fora.
(…)
Não desprezou os rituais. Mas os seus gestos
proféticos deram-lhes nova vida.
(…)
Gestos, que poderiam ser chamados de
“populistas” se se tratasse de um político, tornaram a palavra do Papa mais
compreensível para os de fora.
(…)
Correu riscos. O de desprezar os sinais
visíveis de poder de que todos os poderes precisam para atravessar os séculos.
(…)
O de transformar a Igreja numa jangada
(ou num “hospital de campanha”, nas suas palavras) no meio da tempestade.
(…)
Só que o maior risco que a Igreja corre é o de
a sua mensagem sufocar sob as ruínas da opulência que lhe dão a ilusão de
eternidade.
(…)
Não é por ser menos cristão que Francisco foi
escutado por agnósticos e ateus, mas por ser profundamente cristão.
(…)
[O Papa Francisco] assumiu a mensagem
subversiva do cristianismo.
(…)
É entre os marginais rechaçados pelos “cristãos
de bem” que Francisco encontrava exemplos vivos de Cristo.
(…)
Nisto, ele não foi uma rutura. Foi mais um
episódio na tensão entre a Igreja do poder e do centro, dos pobres e da
periferia.
(…)
O “todos, todos, todos” (…) foi apelo para que,
dentro dela [Igreja], se apertem no banco da primeira fila para que ali caibam
os imigrantes, os gays, os ciganos ou os presidiários que tantos fiéis
desprezam e perseguem.
(…)
Francisco foi lapidar: quem vive a odiar os
outros mais valia que vivesse como um ateu e não fosse à igreja.
(…)
Ratzinger preocupou-se com a perda de
influência da Igreja no mundo ocidental, mas suspeito que Bergoglio tenha sido
muito mais eficaz a combatê-la.
(…)
Respondeu pelo exemplo às ansiedades deste
tempo, canalizando-as contra o ódio que elas alimentam.
(…)
Em tempos sombrios, foi o Papa das margens sob
ataque, pregando os evangelhos.
(…)
Foi incómodo por ser radicalmente político.
(…)
[Centrou-se] mais na mensagem do que no dogma.
(…)
Foi ouvido fora da Igreja por ser radicalmente
cristão.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Para um país que se habituou a achar que era
pequenino e pobre, ter de repente um recurso valioso, abundante e gratuito no
seu território, não podia deixar de causar uma certa angústia à identidade
nacional.
(…)
Ora, calhou a Portugal ser generosamente dotado
em sol brilhante, gratuito e livre para nossa criatividade e esperança.
(…)
Acontece, contudo, que uma perversa conjugação
de incompetências vem conseguindo escangalhar a nossa feliz condição solar e
transformá-la, ao mesmo tempo, num motivo de destruição em simultâneo da
paisagem, do futuro, do ânimo e da sorte que nos calhou.
(…)
Era preciso destruir o que se destruiu para
fazer aqueles imensos parques solares que aparecem a esmo naquilo que já foi
paisagem antes deles lá estarem?
(…)
Em vez de se fazer um planeamento estruturado
que identifique áreas mais pequenas, com potencial fotovoltaico (…) espera-se
pelo oportunismo de investidores que moram longe daquilo que vão estragar.
(…)
No meio disto tudo, acabam perdidas as maiores
e mais sustentáveis oportunidades para levar por diante esta riqueza solar de
que o país dispõe em abundância.
(…)
Uma das mais chocantes consiste na das
Comunidades de Energia Renovável (CER). A ideia é considerada em toda a parte
como um exemplo de sustentabilidade a todos os níveis — ambiental, económico,
social e político.
(…)
Permite um investimento rapidamente absorvido e
reduzir substancialmente o custo da eletricidade nos orçamentos familiares.
(…)
Como é então possível que (…) consigamos
manter num limbo de indecisão administrativa cerca de 600 pedidos de CER em
todo o país?
(…)
Passada a fronteira para o lado de Espanha,
proliferam as CER autónomas, livres, responsáveis e seguras.
(…)
O assunto é sério e a nova legislatura terá que
o resolver de vez.
Luísa Schmidt, “Expresso”
(sem link)
Os riscos do desenvolvimento insustentável
parecem não assustar a humanidade.
(…)
O Homem considera-se a espécie dominante, a superespécie do planeta
Terra.
(…)
Porquê, então, falar sobre a influência do
Homem na Terra?
(…)
Para além das capacidades tecnológicas, o papel
dos seres humanos devia ser o de guardiões do planeta.
(…)
O
potencial [dos seres humanos] nem sempre se concretiza e o futuro da humanidade
e da biosfera depende da opção dos seres
humanos em cumprir este papel de guardiões.
(…)
Em termos biofísicos e económicos, a terra, a
água e a energia estão intimamente ligadas.
(…)
Quando existem estrangulamentos num deles,
todos os outros ficam afectados.
(…)
A natureza não é estável.
(…)
A
actual intervenção excessiva sobre os ecossistemas seguindo critérios
económicos e ligados à necessidade de produzir alimento e energia renovável,
conduz a sociedade a desafios ecológicos a longo prazo.
(…)
Existem
provas irrefutáveis que a perda de biodiversidade
altera a funcionalidade e a estabilidade dos ecossistemas, provocando respostas
em cadeia.
(…)
A
perda de “biodiversidade oculta”, isto é, o desaparecimento silencioso da
riqueza específica, interacções ecológicas
e resiliência, afecta a capacidade de resposta dos ecossistemas perante as
alterações climáticas.
(…)
O
Homem, com o seu investimento tecnológico e travestido de superespécie, ao
assegurar o seu conhecimento técnico-científico leva, de forma irresponsável, à
degradação de ecossistemas.
(…)
O
desafio actual é conseguir que a nossa espécie compreenda o papel da biosfera e
consiga conceptualizar o nosso lugar nela.
Maria Amélia
Marins-Loução, “Público” (sem link)
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