(…)
Quando não tem maioria, a diferença entre o
desejo e o possível nota-se logo no programa de governo.
(…)
[Refiro-me] às novidades que tornaram o
programa consistentemente mais à direita, numa extensão inédita.
(…)
Mas tem de ser coerente: se vira à direita,
fala com a direita.
(…)
O que não faz sentido é fazer as mudanças
estruturais com o Chega e a IL e ter os Orçamentos aprovados pelo PS.
(…)
Quanto ao Chega, o PSD anda atrás do prejuízo.
(…)
É a extrema-direita que determina os termos em
que se debate a imigração.
(…)
O seu “reformismo” sofre dos pecados que aponta
à esquerda: vive de dogmas ideológicos que escondem o serviço que presta a
clientelas.
(…)
Um fetiche pelas leis laborais num país que
sofreu de uma precariedade endémica, a que agora acrescenta mudanças à lei da
greve, continuando a retirar força aos sindicados.
(…)
Os grandes ganhadores são, em Portugal, o
sector financeiro, o retalho alimentar e o imobiliário (de luxo).
(…)
Na saúde (e provavelmente na Segurança Social),
onde três ou quatro grupos partilham um mercado inelástico, repete-se o padrão.
(…)
Quando o Governo cria USF geridas por privados,
vai buscar os médicos de família ao público.
(…)
O que o PS foi fazendo por falta de estratégia
o PSD faz de forma declarada.
(…)
Trata-se, e não apenas na saúde, de uma
desnatação do Estado.
(…)
A degradação do SNS, assim como a degradação da
escola pública, corresponde ao fim da aliança entre a classe média e os mais
pobres, que sustenta o Estado social.
(…)
A classe média deixa de querer usar os serviços
públicos e, por isso, de os querer pagar por via dos impostos.
(…)
A classe média passa, na ilusão de que o
“mérito” a levará até lá, a identificar-se com os mais ricos.
(…)
Este é o Governo mais à direita da nossa
história democrática. (Porque o equilíbrio político assim o determina).
(…)
No próximo Orçamento, o pior que pode acontecer
é Montenegro viver com os duodécimos do seu OE anterior.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Perante a desinformação, o populismo fez o seu
trabalho para cultivar o medo e o ressentimento e, nos últimos anos, Portugal
tem escrito páginas inteiras sobre azedume e vinagre.
(…)
As redes sociais ajudaram a criar o pântano,
sobretudo a partir do momento em que o poder de quem as detém está ao serviço
dos piores escroques.
(…)
Eis-nos de volta ao discurso de ódio contra
migrantes, ciganos, negros, LGBTI.
(…)
Os crimes relacionados com a discriminação e
incitamento ao ódio cresceram mais de 200% nos últimos anos e 2024 foi aquele
em que se registaram mais casos (421).
(…)
O capítulo sobre a presença de grupos de extrema-direita em
Portugal foi retirada, inexplicavelmente, do Relatório de Segurança Interna
(RASI).
(…)
O confronto com a realidade é exigente e não se
pode silenciar.
(…)
Com ou sem farda, tem faltado coragem para
identificar, punir e trazer para os tribunais o que nem sequer entra no
discurso político de um Governo que parece querer continuar a olhar para o país
à luz dos seus antigos brandos costumes.
Em sectores como o transporte marítimo, as
ações concretas para proteger os oceanos continuam a ser manifestamente
insuficientes.
(…)
Um
dos exemplos mais evidentes são os chamados “scrubbers”
(depuradores) – sistemas instalados nos navios para reduzir as emissões de
enxofre provenientes da queima de combustíveis
fósseis.
(…)
[Os
poluentes removidos] são frequentemente descarregados no mar, contribuindo para
a acidificação, a degradação dos ecossistemas e potenciais riscos para a saúde
humana.
(…)
Na
verdade, a instalação de depuradores permite aos navios contornarem a
regulamentação internacional e continuar a utilizar o combustível fóssil mais
barato e mais poluente disponível.
(…)
Quando queimado, causa danos duradouros à
atmosfera do planeta.
(…)
O tipo
mais comum de depuradores “limpa” os gases de escape utilizando água do mar ou
uma solução química para lavar os gases de escape, reduzindo assim os óxidos de
enxofre emitidos para a atmosfera.
(…)
Tal resulta em águas residuais ácidas (…)
e outros produtos químicos (…) que são descarregados no oceano.
(…)
[Estes poluentes podem acabar] por chegar ao
topo da cadeia − incluindo a nós.
(…)
Cientistas
e organizações não-governamentais alertam há muito que mesmo pequenas
quantidades desses resíduos tóxicos no oceano têm um grande impacto na vida
humana e marinha.
(…)
Em
2023, já 45 países tinham adotado 90 medidas para proibir ou restringir
descargas de “scrubbers”
nos seus portos ou zonas marítimas e os números continuam a aumentar.
(…)
A
opção certa, desde já, é os navios usarem combustíveis com baixo teor de
enxofre (combustíveis destilados), não necessitando de o retirar através de
quaisquer equipamentos.
(…)
A Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança
e Serviços Marítimos (DGRM) [deve proibir] tão depressa quanto possível
descargas nas águas sob a sua jurisdição.
Francisco Ferreira e
Sian Prior, “Público” (sem link)
Recentemente, a comunidade LGBTI+ em Portugal
tem sofrido ataques sistemáticos por parte da extrema-direita e do grupo
neonazi 1143.
(…)
Uma
das suas ações mais infames foi o lançamento do chamado “movimento hétero”, uma
provocação que não passa de um instrumento de difusão do ódio.
(…)
Qual “direito” está em risco para pessoas
heterossexuais? Em que opressão vivem?
(…)
O movimento LGBTI+ nasceu justamente para combater
a marginalização histórica e garantir direitos humanos básicos.
(…)
Em contraste, o “movimento hétero” não
representa uma causa legítima.
(…)
Não podemos permitir que o discurso de ódio
substitua a luta pela dignidade.
(…)
Isso não é liberdade de expressão: é um ataque
à democracia.
(…)
É hora
de dar um basta. O Ministério Público e as forças de segurança precisam agir de
forma enérgica e célere.
(…)
Não deixemos que fanáticos distorçam a fé para
justificar a violência.
(…)
Com o bem unido, o mal nunca terá espaço.
(…)
Lutemos juntos contra o neonazismo, o fascismo
e qualquer forma de opressão.
Giovanna Tavares, “Público”
(sem link)
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