(…)
Chama-se industrialização ao aumento de
investimento belicista.
(…)
Se estes [ativos endógenos] forem os que
temos tido, preparemo-nos para habitação ainda mais cara, e para muito trabalho
intensivo e precário.
(…)
Desvalorizar a indústria é sempre baixar a
qualidade do emprego e travar a modernização tecnológica.
(…)
Este cenário alimenta a imigração ilegal,
estratégica para a implementação de uma política de baixos salários.
(…)
A inexistência de acesso a habitação digna
expulsa os jovens portugueses e uma parte dos imigrantes de que precisamos.
(…)
São determinantes as condições em que [o
trabalho] é prestado, o valor que produz e a forma como é distribuído, como
ancora as políticas sociais.
(…)
Em vez de melhores salários oferecem-se
“prémios” que possam ser retirados a qualquer momento e umas migalhas nos
impostos.
(…)
Portugal é um país de muita pobreza.
(…)
A situação não é catastrófica porque temos
direitos sociais fundamentais com caráter universal e solidário e porque há
apoios sociais para os mais desprotegidos.
Tinha 16 anos quando o fogo chegou — súbito,
implacável, sem misericórdia.
(…)
Vi a
terra onde cresci reduzir-se a cinzas. E vi também — mais tarde — um país a
prometer que uma tragédia assim nunca mais voltaria a acontecer.
(…)
Mas essa promessa não se cumpriu.
(…)
Falhámos, à época, enquanto país — na
prevenção, na organização territorial, na resposta legislativa.
(…)
E esse
vazio de ação tem um custo real — sobretudo para quem vive em territórios
florestais e reconhece, ano após ano, que cada verão pode anunciar uma nova
tragédia.
(…)
O que tem faltado, de forma sistemática, é a
concretização de medidas firmes.
(…)
Não podemos continuar a tratar a floresta como
um espaço privado onde o Estado só entra para apagar incêndios.
(…)
Apesar da existência de instrumentos legais
relevantes (…) a sua aplicação tem sido irregular, sem fiscalização
eficaz nem enquadramento estratégico consistente.
(…)
O cadastro da propriedade rústica, pilar
essencial para qualquer modelo de governação florestal, continua incompleto e
fragmentado.
(…)
O
resultado é um território florestal desordenado, vulnerável e dominado por
monoculturas altamente inflamáveis, com baixa diversidade biológica e reduzida
capacidade de regeneração.
(…)
Sem um
quadro legal que promova a multifuncionalidade florestal e responsabilize os
diferentes agentes — públicos e privados — continuaremos presos a um modelo que
replica o risco, em vez de o mitigar.
(…)
Como
cidadã e como jovem, sinto que vivemos num ciclo de esquecimento institucional:
reage-se a seguir às tragédias, mas nunca se legisla com a coragem necessária.
(…)
Falta,
em suma, uma reforma florestal com base legal, clara e vinculativa, que proteja
mais do que os interesses económicos de curto prazo — que proteja a vida.
(…)
A floresta não é um tema sazonal. É uma questão
de futuro. E o tempo de agir era ontem.
Mafalda Coelho, “Público”
(sem link)
No
âmbito da memorável Cimeira da Terra, no Rio em 1992, o oceano ficou esquecido
e a sua relação com a sustentabilidade
do planeta tem sido um assunto menor na agenda multilateral das Nações Unidas.
(…)
Mas
isto está a mudar. As anteriores conferências da ONU para o oceano, em
particular, a segunda realizada em Lisboa em 2022, permitiram recentrar o
oceano naquela agenda.
(…)
Aumentaram
a sua importância, à medida que começamos a compreender o papel decisivo que
tem para o equilíbrio do clima.
(…)
Já
neste mês escaldante de junho, com a realização da terceira
Conferência da ONU para o Oceano, podemos categoricamente afirmar que o
oceano está na moda.
(…)
[Chegou-se]
a um resultado praticamente sem precedentes no direito internacional, que é a
iminente entrada em vigor, com mais de 60 ratificações nacionais, do Tratado
do Alto-Mar
(…)
Com
este tratado, damos um passo grande para proteger a natureza. O que quer dizer
proteger a nossa casa comum: o planeta.
(…)
A proteção do alto-mar (…) vai permitir
proteger mais de metade da superfície e da coluna de água do planeta.
(…)
Igualmente
importante foi a normalização da cada vez mais famosa meta dos 30 por 30, i.e.,
da necessidade de proteger 30% da natureza, até 2030.
(…)
Esta
meta, que ainda há pouco parecia tão irrealista, passou, com Nice, a ser uma
meta advogada por quase todos os países participantes.
(…)
Portugal (…) conseguiu um estatuto de
campeão do oceano e líder da agenda internacional do mar.
Tiago Pitta e Cunha,
“Público” (sem
link)
O
sucesso do wokismo reaccionário vem de factores estruturais que estão muito
para lá das modas culturais que alimentam o outro wokismo. Para lhe tirar força
não basta travar qualquer guerra cultural, há que mudar Portugal.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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