(…)
O mundo está a falhar em assegurar mais de 4 biliões de
dólares por ano em recursos essenciais para que os países em desenvolvimento
possam cumprir estes objetivos até 2030.
(…)
Os orçamentos de ajuda estão a ser reduzidos enquanto os
gastos militares disparam.
(…)
É urgente corrigir o rumo e isso começa na Quarta Conferência
Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, que terá lugar em
Sevilha.
(…)
[Há que] acelerar a mobilização de recursos para os países
que mais precisam. E depressa.
(…)
Os países devem assumir a liderança, mobilizando recursos
internos.
(…)
Simultaneamente, os bancos nacionais de desenvolvimento,
regionais e multilaterais, devem unir esforços para financiar grandes projetos.
(…)
É fundamental triplicar a capacidade de empréstimo dessas
instituições, permitindo que os países em desenvolvimento tenham acesso a
capital em condições acessíveis e com prazos mais alargados.
(…)
O investimento privado também é fundamental.
(…)
Durante este processo, os doadores devem manter os seus
compromissos de desenvolvimento.
(…)
Devemos reformar o sistema global da dívida. É injusto e
disfuncional.
(…)
Muitos governos [de países em desenvolvimento] são forçados a
gastar mais no pagamento da dívida do que em saúde e educação.
(…)
Deste encontro em Sevilha devem resultar medidas concretas
para reduzir os custos de empréstimo, facilitar a reestruturação da dívida para
países em dificuldades e prevenir futuras crises da dívida antes que ocorram.
(…)
Sevilha deve fortalecer a voz e a influência dos países em
desenvolvimento no sistema financeiro global.
(…)
O mundo também precisa de um sistema fiscal global mais justo.
(…)
Num mundo cada vez mais interligado, um futuro de
privilegiados e desfavorecidos apenas agravará a insegurança internacional e
comprometerá o progresso de todos.
(…)
Sevilha pode restaurar a confiança na
cooperação internacional e garantir um desenvolvimento sustentável para as
pessoas e para o planeta.
António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, “Público”
O medo é
um instrumento versátil.
(…)
Figuras que não tendo a capacidade
intelectual ou a vontade política para conquistar a confiança dos cidadãos com
medidas concretas que melhorem a nossa qualidade de vida conquistaram-na com
medo.
(…)
A receita
é antiga e muito simples: só precisamos de uma população insatisfeita e de
alvos fáceis.
(…)
O
ingrediente essencial para uma execução perfeita é o ódio.
(…)
Trabalhadores de nacionalidades ou
etnias que não gostemos passam a ser condenados pelo crime que tantos cidadãos
portugueses praticam – o de emigrar.
(…)
A violência contra as mulheres
normaliza-se – corrijo, populariza-se, porque normal nunca o deixou de ser – e
é, inclusive, ironicamente utilizada por quem a pratica como chavão populista
contra a imigração.
(…)
Os
direitos humanos, outrora conquistas, tornam-se uma afronta. Esta é a realidade
em que vivemos agora.
(…)
Se houvesse alguém responsável por
registar todos os casos de violência contra grupos socialmente vulneráveis
noticiados este ano, essa pessoa estaria em burnout
por esta altura.
(…)
Já há muito que quem participa
ativamente na luta antifascista, ou simplesmente se atreve a usar a sua
visibilidade para advogar por direitos, é sinalizado, ameaçado e perseguido pelos
grupos de extrema-direita.
(…)
E com o
aumento da violência aumenta o medo de quem está mais suscetível a sofrê-la.
(…)
O medo é,
afinal, um mecanismo de sobrevivência que precede a nossa espécie.
(…)
Se nos faltava ímpeto para nos
organizarmos e agirmos com a mesma capacidade e eficiência de quem se tem
mobilizado contra os nossos direitos, talvez aqui o encontremos.
(…)
A quem preza a liberdade e o progresso:
esta é a altura em que resistir deixa de ser uma opção para ser um dever.
(…)
Eles já passaram e, como têm mostrado,
não descansarão na sua luta pelo retrocesso, pelo nosso silêncio e pela nossa
marginalização. Mostremos como lutamos de volta.
(…)
Façamo-lo
com as nossas vozes e com os nossos corpos.
(…)
Nas
nossas esferas pessoais, no associativismo, em coletivos.
(…)
Também no
medo há esperança.
Guadalupe Amaro, “Público” (sem link)
Em
matéria de habitação, o atual Governo aprendeu muito pouco ou fez questão de
não aprender.
(…)
O Governo continua a imputar a
responsabilidade pela persistência da crise da habitação aos governos que o
antecederam, reclamando para si a resolução estrutural da questão.
(…)
O
desconhecimento do que se passa a nível internacional, tanto no entendimento do
problema como das soluções, é constrangedor.
(…)
[Atribuir a culpa ao fator
imigração relativamente à falta de habitação] desta maneira mostra que o elevado sentido de oportunidade
deste Governo se sobrepõe a quaisquer preocupações de sofisticação e rigor
analíticos.
(…)
[Este
Governo não aprendeu ou fez questão de não aprender] que os incentivos à
aquisição da habitação deixam de parte a maioria dos jovens.
(…)
O mercado
de arrendamento está hoje sob uma forte pressão, submetendo a maioria dos
arrendatários a uma enorme vulnerabilidade.
(…)
O tema do controlo
das rendas não é tabu, nem se alimenta de revanchismos contra a propriedade
ou contra senhorios e que a sua implementação pode e deve ser bastante
criteriosa.
(…)
Qualquer
política séria de arrendamento não prescinde de um conhecimento profundo da
atual estrutura do sector.
(…)
A habitação
pública não se pode cingir aos segmentos mais carenciados, porque o problema é
muito mais abrangente.
(…)
A fé na
eficácia das parcerias público-privadas não se pode sobrepor, a todo o custo,
ao interesse público.
(…)
Parece que o Governo também (ainda) não
terá aprendido que não é recomendável assumir uma bandeira da extrema-direita
para remasterizar a sua narrativa da crise da habitação.
(…)
Esperemos que o Governo aprenda
rapidamente que o momento exige uma enorme responsabilidade a todas as
instituições democráticas, a começar por si próprio.
Sandra Marques Pereira, “Público” (sem link)
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